ha mais enfermidades, assim aonde ha muitas Leis ha mais vicios!
V. As enfadonhas formalidades (que até ao presente se tem observado, porém gra?as á nossa Nova Constitui??o que as dissipará) de que se ach?o carregadas as Leis na prática do Foro de huma grande parte das Na??es, que se dizem policiadas, póde ser, que fossem boas na sua institui??o primitiva: pelo menos hoje parece que servem sómente de eternisar as materias dos litigios; de dar que fazer aos Advogados; de fazer viver os Officiaes do Expediente; de obrigar a desistir hum pobre; que n?o tem mais, que muita justi?a; e de avizar a Eternidade a hum desvalido desesperado litigante. O grande P. Antonio Vieira, diz com bem gra?a em hum de seus Serm?es, que se o Processo Criminal, que se fez a Jezu Christo em Jerusalem, fosse formalisado pela prática actual do Foro, ainda no seu tempo n?o estaria consumada a Redemp??o.
VI. Bias sentenciando á morte hum delinquente, lhe corrêr?o as lagrimas; e perguntado porque chorava, se como Juiz podia livrar o Réo, respondeo: Porque n?o posso faltar ás Leis da Justi?a, nem ás da natureza.
VII. A Augusto Cesar, dizia Ovidio: Se todas as vezes, Senhor, que os homens pecc?o, cahisse sobre o delinquente hum raio, em breve tempo se veria Jupiter sem armas. Mas n?o inferio bem, diz o Padre Vieira, antes se todas as vezes que os homens pecc?o, cahisse logo o raio sobre o delinquente, n?o se acabari?o, mas sobejari?o raios: porque tanto que o castigo andasse junto com o delicto, nenhum homem se havia de arrojar a delinquir.
VIII. A clareza, e a preciz?o, s?o dois attributos indispensaveis das boas Leis. Desde o primeiro até ao ultimo dos homens he conveniente, a meu vêr, que saib?o todos, o que lhes he mandado prohibido, ou tolerado. Parece que deveria ser a primeira Cartilha do Mestre Ignacio, que se mandasse lêr aos rapazes na escolla; como acontece com a Biblia nas escolas em Inglaterra.
* * * * *
Este sentimento que nós chamamos Brio, quando elle tem por objecto o amor da nossa Patria, he a primeira das virtudes Sociaes. Todo o homem que possue, e cultiva este sentimento, será sempre o bem-feitor da sua especie, assim como tambem será hum modello de Heroismo para os homens que houverem nascido no mesmo terreno, e fallarem a mesma Linguagem:--Pois: Ainda que seja hum dever o amar a todos os homens, a preferencia que nós dermos aos nossos Compatriotas, ás produc??es da sua Industria, aos fructos; e Cultura de seu terreno, será á medida de graduarmos a nossa propria estima??o; ?Quem deu tanta superioridade á Na??o Ingleza (fa?amos-lhe justi?a neste particular), e tantos respeitos sobre os outros povos da Europa?... O seu Brio Nacional!--Portuguezes lembremo-nos do Brio Nacional dos Heróes que honrár?o (e h?o-de honrar) tanto a nossa Patria, que em todos os seculos for?o, e ser?o, o espanto, e admira??o do mundo ?Qual seria a Na??o, que se n?o sentira ufana por ter por Compatriota hum Albuquerque, que em immensa distancia da sua Patria, amea?ado de todo o poder de hum Rei Persiano sem quasi algum soccorro, respondeo aos Embaixadores deste ao pedirem-lhe Tributos?--Eis a moeda (apontando-lhes para hum monte de ballas e granadas, e pondo a m?o no seu alfange) de Tributo com que costuma a pagar ElRei de Portugal!
He precizo que sejamos quem d'antes fomos.
Quando huma na??o tem grandes virtudes Públicas, nunca lhe falta aquella eleva??o de caracter que a faz sobressahir entre as outras Na??es contemporaneas. A cria??o que El-Rei D. Jo?o 1.^o soube dár a seus filhos, e á C?rte, produzio tamanhos effeitos sobre o caracter Nacional, que por quasi dois seculos Portugal conservou a preponderancia do valor, e da fortuna sobre o resto da Europa. Nestes famosos tempos, a Historia Militar dos Portuguezes mostra illustres documentos de quanto se conheci?o, e se praticav?o as virtudes heroicas que eternizár?o o nome dos Gregos, e dos Romanos, e quanto o amor da familia era generosamente sacrificado ao Amor da Patria.--Entre outros grandes exemplos Portuguezes, bastará sómente citar o de Antonio Moniz Barreto, Governador da India.--Achava-se em estreito cerco a importante Fortaleza de Malaca.--o poder dos Achens, e dos Jáos era t?o forte, que a prudencia mesma desconfiava do bom successo das nossas Armas. Entre grandes precis?es do estado, o Illustre Barreto querendo apromptar acceleradamente os recursos que pareci?o impossiveis de se haverem diz aos moradores de Goa.--"Portuguezes trata-se de salvar a Patria tanto maior he o nosso perigo, tanto maiores sej?o os nossos sacrificios.--Eu tenho hum filho menino, eu o offere?o gostosamente á minha Patria.--S?o necessarios vinte mil padráos (quinze mil cruzados) para conservar Malaca; meu filho seja o penhor de que o emprestimo de que fazeis ao Estado (ainda com melhor raz?o do que se fizer ao corpo Politico de huma Na??o se deve esperar outro tanto)
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