a fazenda com a algibeira do vendedor!
O que parecia molestia esporadica vai-se transformando em epidemia.
�� corrupto:
Da penuria---o que se vende a dinheiro;
Da estulticia---o que se vende a promessas;
Da vaidade--o que se vende a fitas;
Do odio--o que se vende a vingan?as;
Da pieguice--o que se vende a mesuras;
Do interesse baixo e sordido--o que se vende, remediado de bens de fortuna, a qualquer favor que lhe poupe, ou fa?a ganhar alguns reaes, ou o dispense de alguns ligeiros incommodos.
Ainda ha outra especie de corrup??o, n?o t?o cynica, por��m mais perigosa:
A corrup??o collectiva em nome da utilidade publica.
S?o corruptos, por exemplo:
O districto que se vende a estradas;
O concelho que se vende a arames;
A freguezia que se vende a reparos;
A localidade que se vende a concertos;
Tudo com et coetera na clave.
Todos os votos, emfim, que se hypothecam ao lucro.
Trabalhe o deputado por satisfazer as necessidades do circulo. �� dever; mas n?o se reduza o beneficio a contracto. Isso rebaixa.
Demais, se o contracto �� decente e justo, torne-se extensivo a todas as povoa??es do reino e diga-se depois o que ser?o os or?amentos das camaras municipaes, dos districtos e do estado, e que imposto chegar�� para satisfazel-os.
N?o se torne extensivo a todas, e pagar�� a independencia uma parte do pre?o da compra, que ter�� de sair do cofre commum.
Paga a honestidade o que lucra a mercancia.
Indifferen?a, subserviencia, corrup??o!
E por ellas e com ellas se atrai?oam os amigos; se quebra a f�� jurada; se falsificam os escrutinios; se deshonra o mais sagrado de todos os direitos!
Uma observa??o:
Quanto ganhou n'este commercio o operario ou o jornaleiro que vendeu o voto por algumas pe?as de prata?
Concorreu para a feitura de um mau deputado. Maus deputados d?o m��s camaras. M��s camaras d?o maus governos. Maus governos d?o m��s finan?as. M��s finan?as assustam os capitaes. O susto dos capitaes faz esmorecer o trabalho. Sem trabalho n?o ha p?o, e o jornaleiro e o operario perder?o mais n'essas gr��ves for?adas, de semanas e mezes, do que lucraram n'esse dia de ignobil veniaga.
Nem ao menos a compensa??o do proveito!
Estenda-se o argumento a todas as outras f��rmas de corrup??o e achar-se-ha sempre o mesmo fatal resultado.
* * * * *
Vontade propria no paiz!
S?o dez horas da manh? do dia 19 de maio de 1870.
Est�� Lisboa em socego profundo.
Nem a mais ligeira altera??o na apparencia da nobre cidade!
A loja n?o se abre a meia porta; patenteia-se de par em par ao freguez que a procura, como a procurara na vespera, pacifico e talvez risonho.
O negociante trabalha no escriptorio.
O operario moureja na officina.
O vendedor ambulante apregoa na rua.
Socego profundo! Uma tal ou qual reac??o que houve, s��mente semanas depois come?ou a traduzir-se em factos.
E, comtudo, o paiz desandara em dez horas o que lhe levara dez annos a andar!
A ordem e a liberdade, o rei e a lei, estavam �� merc�� da espada!
Francamente; haver�� no paiz vontade propria?
IV
Sem vontade propria; sem que se pense, se compare e se escolha; sem iniciativa de dentro e sensibilidade por f��ra, n?o p��de haver elementos de boa politica n'uma na??o que se rege pelo systema representativo.
Porque n?o ha boa politica sem bons partidos, e n?o ha partidos regulares sem espirito publico no povo.
Quando falta o espirito publico n?o ha partidos; ha parcialidades e grupos.
A raiz etymologica �� a mesma, mas a accep??o philosophica cava um abysmo entre estas palavras.
As ultimas s?o o troco, em cobre azebrado, de uma pe?a de ouro formosa e luzente.
Valor convencional em frente de valor intrinseco.
Partido regular �� o que tem logica nas id��as; constancia na defens?o d'ellas; unidade e disciplina.
Quantos conta Portugal n'estas circumstancias?
A logica:
Est?o seis homens em conversa politica. Andam ha dois ou tres annos (dois ou tres seculos!) em camaradagem seguida. Frequentam as mesmas reuni?es e tem por guia identico chefe. Muito bem. Trata-se de uma escaramu?a de bando? Unanimidade completa? Discute-se um interesse de grupo? Completa unanimidade. Mas appare?a uma quest?o economica ou social: a liberdade de commercio; a descentralisa??o administrativa; qualquer outra que deva ser cren?a de escola, e a concordia desapparece, sendo talvez necessario que uma parte dos correligionarios busque refor?o na sala visinha, aonde um conventiculo de adversarios se dilacera tambem, �� mesma hora, ��cerca do mesmissimo ponto.
Grita-se, discute-se, invectiva-se. O amigo �� inimigo. O inimigo, defensor ardente. Confundem-se os campos e s�� algum incidente que traga a terreiro uma quest?o grave, uma quest?o pessoal, por exemplo, ter�� o cond?o de restituir cada um aos amigos com quem batalhara.
A constancia:
Combate a opposi??o em pr�� de uma doutrina. Nos seus jornaes, nos seus comicios, na tribuna e no livro bate em brecha com a propaganda escripta ou fallada os erros de seus contrarios. Um golpe de fortuna; a fraqueza do ministerio; certa manobra parlamentar, deposita-lhe as pastas nas m?os. Pois desde esse momento caduca o enthusiasmo pela reforma pedida e os erros tomam taes laivos de inoffensivas bagatellas, que talvez
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