Trovas do Bandarra | Page 6

Bandarra Gonçalo Anes
bem tua cara
Em tal bailo pastoril.
XXXIX.
E Pedro, que he mais subtil
Entre, e baile com Florença,
Jaque he
dama gentil,
He mui bem que lhe pertenca.
XL.
Andre baile com Paschoala,
E venha apos a primeira,
Antes de
meter mais falla
Entre, e baile esta Zagala,
Em que sempre he
referteira.

XLI.
Sempre foi mui agoureira
Com os estranhos dançar
E pois está tão
cantadeira,
Não seja ella a derradeira,
Venha logo a bailar.
XLII.
Ha de ser mui de louvar
Este auto, que aqui temos,
E a todo o que
bailar
Hão lhe mui bem de pagar,
E assim lho promettemos.
XLIII.
Sus! antes de mais estremos
Baile Fernando, e Constança,
E
poisque tudo ja vemos,
Pelo bem que lhe queremos
Seja elle o
mestre de dança.
XLIV.
João, o bom Ovelheiro,
Sempre foi nobre Pastor,
Não se conte
derradeiro,
Pois he igual ao primeiro,
Este baile com Leonor.
XLV.
Sempre foi bom guardador
Do gado, que lhe entregarão,
Mui
grande accomettedor,
E mui grande corredor
Dos lobos, que o
acoçarão.
XLVI.
Por não ficar em olvido
O nobre Pastor Garcia,
Que sempre foi
atrevido,
E de nós muito querido,
Este baile com Mecia.
XLVII.
Pois he de alta valia,
Dêmos lhe outro montado,
O monte que
reluzia,
Aonde faça a bailia,
E paste bem o seu gado.

RODOÃO
XLVIII.
Tudos ja tendes partido,
Todos os montados dais,
Eu que fui de vós
querido,
E dos lobos mui ferido,
De mim ja vos não lembrais?
PASTOR MOR.
XLIX.
Ainda fica mais, e mais,
Vossos gados pastarão,
Ficão terras de
chão taes
Os valles, e piornaes,
Tudo vos dou, Rodoão.
L.
Tambem ficão umas ladeiras
De hervas mui saboridas,
Donde
sahem umas ribeiras,
Que regão muitas lameiras
Com aguas
esclarecidas.
LI.
A quellas serras erguidas,
Onde está a nobre montanha,
Pois por
nós forão havidas,
E ategora perdidas,
Fiquem a toda a companha.
LII.
A quelle valle de alem
He o valle de primor,
He o valle de Salem,

Onde acho que muitos tem
Grande virtude, e valor.
GARCIA.
LIII.
Ja matarão o grão Pastor,
Por inveja o matarão:
Porque era bom
guardador,
Das ovelhas bom creador;
Por cobiça o acabarão.

FERNANDO.
LIV.
Os bailos são acabados,
Senhor, vamos a jantar,
Que dos trabalhos
passados
Muitos ha aqui desmaiados,
Que convem de repouzar.
LV.
Se algo lhe quereis dar,
Sobre meza lho daremos,
Onde bem pode
mandar,
E o seu gado bem pastar,
Que assim por bem o temos.

Cahe no bailo de João.
PEDRO.
LVI.
Tambem la naquella altura
Está um lobo huivando,
E no meio da
espessura
Um bufo está bufando,
E um mocho está cantando,
E
Andre está sentindo
Não bailar como Fernando.
JOÃO.
LVII.
Tambem Pedro, por quem procuro,
He um barão singular,
Que no
claro, e no escuro
Sempre bailou mui seguro,
E hade ficar sem lhe
dar?
PASTOR MOR.
LVIII.
Pois va o elle cercar,
E far lhe hão grandes damnos;
I-lo hemos
ajudar,
Até poder sugeitar
Os cavallos Mariannos.
LIX.

Ao redor da grão cabana
Na quelles montes erguidos,
No valle que
se diz Canna,
Ouvimos esta semana,
Lobos que andão fugidos,

Dando grandes alaridos,
Fazendo grande agonia,
Muitos mortos, e
feridos,
E outros andão perdidos.
Cahem no bailo de Garcia.
PASTOR MOR.
LX.
Quem mete ao estrangeiro
Cá no meu nobre assento,
Pois o defendi
primeiro,
Poisque do meu vencimento
Lhe peza mui por inteiro?
ESTRANGEIRO.
LXI.
Em que vos hei offendido,
E de mim sois anojado?
PASTOR MOR.
LXII.
He porque te hei requerido,
Mil vezes commettido,
E tu sempre
desmandado:
E porque estás abraçado
Com os meus competidores,

E com elles alliado,
Naõ mereces ter montado
Com estes nobres
Pastores.
LXIII.
Tu me has sido revel
Contra os meus ovelheiros,
Abraçado com
Babel
Mui descrido, e cruel,
Contra os meus pegureiros.
Minhas
ovelhas, carneiros
Naõ lhe tinhas lealdade,
Degolavas meus
cordeiros,
Derrubavas meus chiqueiros,
Negavas me a verdade.
ANDRE.
LXIV.

I vos, Pastor, mui embora,
Grande merce nos fareis.
Que vos vades
logo essa hora,
E depois que fordes fóra,
Alguma razão tereis.
JOÃO.
LXV.
Poraqui vos sahireis,
Mentes o Pastor dá volta,
Que depois não
podereis,
E quiçais nos metereis
Nalguma grande revolta.
FERNANDO.
LXVI.
Não te queiras mais deter,
Busca jogos, e harmonias,
Poronde
tomes alegrias,
Antesque hajão de volver.
Oh! Senhor, tomai prazer,

Que o grão Porco selvagem
Se vem ja de seu querer,
Meter em
vosso poder
Com seus portos, se passagem.
LXVII.
Em os campos de Tropé
Vossa frauta tangereis,
E nos campos de
Godofré,
E nas terras de Thome
Todos nellas bailareis,
Com os
filhos de Ullisse,
Que gostão nosso tanger.
Nenhum porco roncará,

Nenhum lobo huivará
Senão por vosso querer.
PROGNOSTICA O AUTHOR OS MALES DE PORTUGAL,
CANTA SUAS GLORIAS COM A ACCLAMAÇÃO DO REI
ENCUBERTO.
LXVIII.
Forte nome he Portugal,
Um nome tão excellente,
He Rei do cabo
poente,
Sobre todos principal.
Não se acha vosso igual
Rei de tal
merecimento:
Naõ se acha, segun sento,
Do Poente ao Oriental.
LXIX.

Portugal he nome inteiro,
Nome de macho, se queres:
Os outros
Reinos mulheres,
Como ferro sem azeiro;
E senão olha primeiro,

Portugal tem a fronteira,
Todos mudão a carreira
Com medo do seu
rafeiro.
LXX.
Portugal tem a bandeira
Com cinco Quinas no meio,
E segundo
vejo, e creio,
Este he a cabecêira,
E porá sua cimeira,
Que em
Calvario lhe foi dada,
E será Rei de manada
Que vem de longa
carreira.
LXXI.
Este Rei tem tal nobreza,
Qual eu nunca vi em Rei:
Este guarda
bem a lei
Da justica, e da grandeza.
Senhorea Sua Alteza
Todos
os portos, e viagens,
Porque he Rei das passagens
Do Mar, e sua
riqueza.
LXXII.
Este Rei tao excellente,
De quem tomei minha teima,
Naõ he de
casta Goleima,
Mas de Reis primo, e parente.
Vem de mui alta
semente
De todos quatro costados,
Todos Reis de
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