primos grados
De Levante ate ao Poente
LXXIII.
Serão os Reis concorrentes,
Quatro serão, e naõ mais;
Todos quatro
principaes
Do Levante ao Poente.
Os outros Reis mui contentes
De o verem Imperador,
E havido por Senhor
Naõ por dadivas, nem
presentes.
LXXIV.
Commendadores, Prelados,
Que as Igrejas comeis,
Traçareis, e
volvereis
Por honra dos Tres Estados,
E os mais serão taxados;
Todos contribuirão
E haverá grão confusão
Em toda a sorte de
estados.
LXXV.
Ja o Leaõ he experto
Mui alerto.
Ja acordou, anda caminho.
Tirará
cedo do ninho
O porco, e he mui certo.
Fugirá para o deserto,
Do
Leaõ, e seu bramido,
Demostra que vai ferido
Desse bom Rei
Encuberto.
LXXVI.
Uma porta se abrirá
N'um dos Reinos Africanos,
Contraria aos
Arrianos,
Que nunca se cerrará.
A vacca receberá
A nova gente
que vem,
Com prázer de tanto bem
Seu leite derramará.
LXXVII.
A lua dará grão baixa,
Segundo o que se vê nella,
E os que tem Lei
com ella:
Porque se acaba a taixa.
Abrir se ha aquella caixa,
Que
ategora foi cerrada,
Entregar se ha á forçada
Envolta na sua faixa.
LXXVIII.
Um grão Leão se ergerá,
E dará grandes bramidos;
Seus brados
serão ouvidos,
E a todos assombrara;
Correrá, e morderá
E fará
mui grandez damnos,
E nos Reinos Africanos
A todos sugeitará.
LXXIX.
Passará, e dará boccado
Na terra da Promissão,
Prenderá o velho
Cão,
Que anda mui desmandado.
LXXX.
De perdões, e orações
Irá fortemente armado,
Dará nelles S. Thiago,
Na volta que faz depois.
LXXXI.
Entrara com dous pendões
Entre os porcos sedeudos,
Com fortes
braços, e escudos
De seus nobres Infanções.
INTRODUZ O AUTHOR POETICAMENTE DOUS JUDEOS,
QUE VEM BUSCAR O PASTOR MOR UM CHAMADO FRAIM,
E OUTRO DÃO, E ACHÃO FERNANDO OVELHEIRO Á
PORTA.
FRAIM.
LXXXII.
Dizei, Senhor, poderemos
Com o grão Pastor fallar?
E daqui lhe
prometemos
Ricas joias que trazemos
Se no las quizer tomar.
FERNANDO.
Judeos que lhe haveis de dar?
JUDEOS.
LXXXIII.
Dar lhe hamos grande thesouro
Muita prata, muito ouro,
Que
trazemos de além mar.
Far nos heis grande merce
De nos dardes
vista delle.
FERNANDO.
LXXXIV.
Entrai, Judeos, se quereis,
Bem podeis fallar com elle,
Que la
dentro o achareis.
LXXXV.
Tomará com seu poder,
E grão saber,
Todos os portos de alem,
Marrocos, e Tremecem,
E Féz tambem:
Fara tudo a seu querer,
Vi
lo hão a cometter
Pelo deter,
Que querem ser tributarios,
E lhe
querem dar dinheiros,
Lisongeiros,
Os quaes naõ deve querer.
LXXXVI.
E depois da Embaixada
Declarada,
Antesque cerrem quarenta,
Erger se ha a grão tormenta,
Do que intenta,
E logo será amansada,
E tomarão a estrada
De calada,
Naõ terão quem os affoite,
Dar
lhe hão aquella noite
Tal açoite,
Que a Fe seja exalçada.
LXXXVII.
Ja o tempo desejado
He chegado,
Segundo o firmal assenta:
Ja se
cerrão os quarenta,
Que se emmenta,
Por um Doutor ja passado.
O Rei novo he alevantado,
Ja dá brado;
Ja assoma a sua bandeira
Contra a Grifa parideira,
La gomeira,
Que taes prados tem gostado.
LXXXVIII.
Saia, saia esse Infante
Bem andante,
O seu nome he D. João,[3]
Tire, e leve o pendão,
E o guião
Poderoso, e tryunfante.
Vir lhe
hão novas n'um instante
Daquellas terras prezadas,
As quaes estão
declaradas,
E affirmadas
Pelo Rei dali em diante.
[3]Veja se ao principio a advertencia do primeiro Editor da maneira,
como este Verso se lia errado em alguns manuscriptos por incuria de
alguns copistas, e equivocação das duas letras.
LXXXIX.
Naõ acho ser deteudo
O agudo,
Sendo elle o instrumento,
Naõ
acho, segundo sento
O Excellento
Ser falso no seu Escudo.
Mas
acho, que o Lanudo
Mui sezudo,
Que arrepellará o gato,
E far lhe
ha murar o rato,
De seu fato
Leixando o todo desnudo.
XC.
Naõ tema o Turco, naõ
Nesta sezão,
Nem o seu grande Mourismo,
Que naõ recebeu bautismo,
Nem o chrismo,
He gado de confusão.
Firmal põe declaração
Nesta tenção,
Chama lhe animaes sedentos
Que naõ tem os mandamentos,
Nem Sacramentos;
Bestiaes são,
sem razão.
XCI.
Em que venhão mais, e mais
Dos bestiaes,
Pelo que mostra a figura,
Haverão a sepultura
Da amargura,
Como brutos animaes.
Que
se o texto bem olhais,
E declarais
Com fundas serão feridos,
Todos mortos, confundidos
Nos abysmos infernaes.
XCII.
As chagas do Redemptor,
E Salvador
São as armas de nosso Rei:
Porque guarda bem a Lei,
E assim a grei
Do mui alto Creador.
Nenhum Rei, e Imperador,
Nem grão Senhor
Nunca teve tal signal,
Como este por leal,
E das gentes guardador.
XCIII.
As armas, e o pendão,
E o guião
Forão dadas por victoria
Da
quelle alto Rei da Gloria
Por memoria
A um Santo Rei barão.
Succedeu a El Rei João,
Em possessão
O Calvario por bandeira,
Leva lo ha por cimeira,
Alimpará a carreira
De toda a terra do Cão.
SONHO SEGUNDO.
XCIV.
Oh! quem tivera poder
Pera dizer,
Os sonhos que o homem sonha!
Mas hei medo, que me ponha
Grão vergonha
De mos naõ
quererem crer.
Vi um grão Leão correr
Sem se deter
Levar sua
viagem,
Tomar o porco selvagem
Na passagem,
Sem nada lho
defender.
XCV.
Tirará toda a escorta
Será paz em todo o Mundo,
De quatro Reis o
segundo
Haverá toda a victoria.
XCVI.
Será delle tal memoria
Por ser guardador da Lei,
Polas Armas deste
Rei
Lhe darão tryunfo, e gloria.
XCVII.
Trinta e dous annos e meis
Haverá signaes na terra;
A Escriptura
naõ erra;
Que aqui faz o conto cheio.
XCVIII.
Um dos tres que vão arreio
Demostra ser grão perigo;
Haverá açoite,
e castigo
Em gente que naõ nomeio.
XCIX.
Ja o tempo desejado
He chegado
Segundo o firmal assenta
Ja se
passão os quarenta
Que se emmenta
Por um Doutor ja passado.
O
Rei novo he acordado
Ja dá brado:
Ja arressoa o seu pregão
Ja
Levi lhe dá a maõ
Contra Sichem desmandado.
E segundo tenho
ouvido,
E bem sabido,
Agora se cumprirá:
A deshonra de Dina
Se vingará
Como está promettido.
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