de hum Lobo hum Cordeiro.
6.
O Sol pello meio dia
Faz o effeito de Geada,
Vejo partir huma
armada
Carregáda de agua fria.
7.
Huma grande tempestade
Com o céo muiclaro, e Serenno,
Farà
hum hommem moreno
Com rezão mas sem piedade.
8.
A minha trepeça tem
Trez péz mui bem seguros,
Vejo fabricar
hums muros
Mas eu naõ sei para quem.
9.
Quem muitos annos durar
Hade ver couzas indignas.
Tocar-se haõ
muitas bozinas
Por hommems peixes do már.
10.
Todo o mundo grita, e berra
Cada qual no seo officio,
Pois antes
que hum beneficio,
Querem, peste, fome, e guerra.
11.
Quando furo com a Suvella
Coiro groço, e Macio,
Vejo prender no
Rocio
Quaze toda a parentella.
12.
Eu tenho medo da morte
Como couza superior,
O Presbitero maior
Naõ háde tornar à Corte.
13.
Annos hãode vir à terra
Em que por nossos peccados,
Nas cazas
fiquem os gados
As gentes vivaõ na Serra.
14.
Sempre como os meos feijoens
Quando vem bem temperados,
Vejo
no templo os Copados
No Cural os Cappellaens.
15.
Sou Sapateiro, mas Nobre
Com mui pouco Cabedal,
E tu triste
Portugal
Quando mais rico, mais pobre.
16.
O (A) que ponho às avessas
Com a perna atraz levantáda,
Hàde ter
a mão armàda
Para degollar Cabeças.
17.
Quando a terra dos Falcoens
Certa erva produzir,
Creio se hàde
conceguir
O deitar fóra as Lezoens.
18.
De hum brazeiro mui acezo
Damdolhe o vento ligeiro,
Se hàde
formar hum pinheiro
Sem ter medida, nem pezo.
19.
O Carro que vai chiando
Por hir muito carregàdo,
Sim mostra o
jugo pezado
Mas naõ tira pezo andando.
20.
A Hortela na Panella
Dizem que lhe dà bom gosto,
Essa mulher de
bom rosto
Naõ ouço rusnar bem della.
21.
Hespanha muito medroza
A Europa muito enfadada,
Huma mulher
de almofada
Sabe como huma rapoza.
22.
As linhas com que cozia
Jà naõ como as de agora,
Temo que se
deite fóra
Quem Souber a Ave Maria.
23.
Na era que eu tenho ditto
Nas Thezoiras levantadas,
Se haõde ver
muitas jornàdas
Á custa do Saõ Benito.
24.
Naõ pode haver couza boa
Aonde Habita o mal Francez,
Temo o
polho Portuguez
Em poder de huma Leoa.
25.
Quando o Leaõ Hispanhol
Vier quase a Portugal,
Háde ser o nosso
mal
Querer luzir como o Sol.
26.
Quando a neve como braza
Todas as plantas queimar,
Dous quintos
se haõ de ajuntar
Sem haver jogo na caza.
27.
Em hum lugar mais ameno
Cercados de mares groços,
Vive por
peccados nossos
Quem se sustenta com feno.
28.
Sempre vem de monte, a monte
As agoas das enxorradas,
E vejo
testas coroadas
Sentadas sobre huma ponte.
29.
Quando tiverem por certo
Perdida toda a esperança,
Portugal terá
bonança
Na vinda do Encuberto.
30.
Vejo vir pello mar largo
Como quem vem para dentro,
Hum
hommem buscar seo centro
Depois de hum grande lethargo.
31.
Quando me matar S. Jorge
E Marcos me reçuscitar,
Saõ Joaõ me
exaltar
Faça todo o mundo alforge.
32.
Os pez da minha trepéça
Conta trez vezes areio,
Ajuntalhe dous, e
meio
Dizelhe que apareça.
33.
Naõ podeis fazer queixume
De deixar o vosso lár,
Que se do norte
ventar
Do Sul vos virà o lume.
34.
Vejo a grifa parideira
Juntada com huma Serpente,
E vejo que
muita gente
Tem disto grande canceira.
35.
Vejo o Leão, e a Serpente
Atraz da gente goleima,
Grita o gallo que
ateima
Com o Lobo que tem diante.
36.
Já vejo grande mofina
No porqueiro de Sequem,
Que o gado todo
está bem
Com o Ovilheiro de Dina.
37.
Vejo a Lua ensanguentada
Pella virtude do Encuberto,
Se està longe,
ou se perto
Assim o diz a toada.
38.
Là vem por sima do már
Hum Cavallo de madeira,
Que farà n'huma
poeira
O porco que hàde grunhar.
39.
Vijo pedras ajuntar
Là muito perto da Lua
Vejo subir de huma, e
huma
E nellas o Sol entrar.
40.
Vejo pello meo Telhado
No Ceo grande resplendor,
Se hé alegria,
ou temer
Esdras o tem declarádo.
41.
Vejo o Almocreve tomar
As Alamanhas antigas,
Vejo nascer das
ortigas
A remente là do mar
42.
Là donde o Sol vem nascendo
Hum Dragaõ vejo vir vindo,
A seo
Cabo vem correndo
Mais bichos que o vem seguindo.
43.
O primeiro depois do quinto
Filho d'Aguia levantada,
Hade
estender sua Espàda
Sobre a Galia faminto.
44.
Vejo sahir as Gaivotas
De dentro do nosso Tejo,
Taõbem parece
que vejo
As duas por ellas rotas.
45.
Sonho que rebentaõ fontes
Da terra da Promiçaõ,
E que os Gallos
de Siaõ
Vaõ fugindo até os montes.
46.
Naõ canta o Gallo com penna
As aguias charão mofina,
A serpente
encrespa a clina
Porque Deos assim o ordenna.
47.
Faremos dos dias noites
Vivendo como agrestes,
Haverà castigo, e
açoutes
Cada hum se faça prestes.
Fim da quinta parte.
Sexta parte das Trovas de Bandarra.
1.
Sonhei que via hum fumo,
Com grande força sahir,
E deixando de
Subir,
Hum altar vi no escuro:
Formava taõ forte muro.
Que
estava o Altar cuberto;
Vi a hostia naõ mui perto,
Do tal Altar
arredada:
Huma cára sublimáda,
Em ella vi por mais certo.
2.
Pareceme que crescia,
Quem assim o figurava:
Taõbem sonhei me
pegava,
Quem mulher me parecia:
E que com voz me dezia,
Anda
ver a terra nova,
Pella maõ levou-me à cova,
Levava bello vestido,
Aí nuvems eu fui subido,
Onde vi a gente toda.
3.
Negra, e amolatáda,
Logo à terra baldeando,
A respiraçaõ faltando
Eu daqui já naõ quis nada,
Para a terra de pancada
Me trouxe a
tal mulher,
Athé alcancei dizer
Vou segunda vez à terra,
Logo
vinha resta era
E
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