Trovas Inedìtas de Bandarra | Page 4

Gonçalo Anes Bandarra
tornava a aparecer.
4.
Parecia a meo ver
Nova Igreja figurada,
Por hereges desterráda,

Na quella terra a tremer,
Quem Herege quizer ser
Ficarà negro, ou
molato,
E terà todo o máo trato
Por fugir da boa Ley,
No Inferno
sua grey
Para tràz darà o Salto.
5.
Taõbem sonhei que a nuvem
Cobria a gram redondeza,
Mui
medonha, e espeça
Taõbem raios que destroem,
A quem a falça Ley
tem,
E depois vi aclarar
Com hum claraõ singular,
Em dia de
huma Senhora
Em fe seguinte boa hora
Seu nascimento sempár.
6.
Em sonhos vi grande armáda
E a Lua, em rosso Tejo,
Ficandolhe o
Sol por baixo
De huma Torre armáda,
Moiros tiveraõ entráda

Pella terra de christaõs,

Na Igreja vi estes máos
Hum exercito
Francez,
Taõbem entrou desta vez
Accompanhádo dos Máos.
7.
Pella terra veio entrando
Athé se perder de vista,
Com grande préça,

e cobiça
Toda a vinhaõ derrotando,
Taõbem os Moiros chegando

Com grande astucia, e préça,
Vinhaõ buscando a Cabeça
A numa
Cidade Real
Pouco cuida Portugal,
Em o mal que lhe aconteça.
8.
Parece que estou ouvindo
Nesse mar a gran tormenta
Antes que
chegue os Setenta,
Caxas, Ballas, barberinhos
Entaõ hé que virà
vindo
O Grande pastor Geral,
Acudir a taõ graõ mal,
Dando às
Ovelhas sustento
E taõbem o Sacramento
Viva o nosso Portugal.
9.
Poucos tempos paçaraõ
Segundo as Profecias,
Em os Sinaes destes
dias
Outros que cedo viraõ
Huma Gran tribulaçaõ,
Mas ao depois
verà
A volta que tudo dà,
Chegando logo a vencer
No mundo
todo o poder
Na Igreja ficarà.
10.
Em todas reste tuida
Com maior veneraçaõ,
Só nella tem o Christaõ,

Gloria na eterna vida
Mas ai que a vejo cahida
Que primeiro vem
chegando
Os boms largando o mundo,
Outros morrendo à preça

Outros perdem a Cabeça,
Muitos disso vão folgando.
11.
Tanto Sangue pello campo
E tanto morrer na rua,
Tantos deixaõ
vida sua
Por guardar o nome Santo,
Nem da mulher o manto
Terà
respeito ou favor,
Jà nenhum lhe tem amor
A essa profanna vaidade,

Quando virem a Cidade
Posta no maior horror.
12.
Jà de França serà farto
Quem à França quiz andar
Nunca mais
andem trajar,
Tomàra naõ ter o fato:
Paga o povo por ingrato
O

desprezo que tem feito,
Da Patria do minho aceito
Dando rédias ao
profanno
Teraõ o seo desenganno,
Com o Vestir mais perfeito.
13.
Com Sangue, Boubo, e Deshonra
Com mortes, e Vitupérios,
Fomes
doenças, e Guerras,
Querendo acabar a terra
Com mui grande
alarido,
Todos ficaraõ com sentido
Com o mal naõ esperado
Serà
prezo o Diabo
Porque entaõ tudo hé acabádo
E o morto serà vivo.
14.
Era taõbem logo chega
Que a todos de asento,
Serà fim este
tormento,
Quem com bonança navéga
Entaõ armáda mais féra,

Livranos do Inemigo,
Com bom valor, e abrigo
O Beato Saõ Joaõ

Em seo dia nos dà a maõ,
E o Incoberto vivo.
15.
Quem destruir os do Norte
E os Moiros deitar fora,
Matandolhe a
gente toda
Em Cacilhas forà côrte
Lá vereis o estandarte
Com as
quinas aconado
E emtaõ vereis mostràdo
Em sima o bom Jezus,
E
taõbem a Santa Cruz
Para vencer o Diabo.
16.
Veremos o mar vermelho
Sem hir a Jerusalem,
A qui veraõ os que
tem
Tomádo o meo concelho,
Em si proprio o espelho,
Muito
Sangue em si correndo
Mas quem fôr obedecendo,
Passarà sobre o
mar
Sem que precize nadar,
Verà o maior portento.
17.
Em Cassilhas a Bandeira
Com estandarte Real,
Logo Hereges por
seo mal,
A morte tem de Carreira
Terà este na Simeira
Hum
Christo crucificádo,
Verà o povo malvado
O quaõ cego tem vivido,


Em terem perceguido
E a muitos marterizádo.
18.
O Moiro, Turco, Francez
Naõ poderaõ fugir todos,
Porque muitos
seraõ mortos
As maõs do bom portuguez,
Là levarão desta vez

Novas aos seus que contar,
Quando virem em Portugal
O Encuberto
declarado,
Castigando todo o estrago
Que elles vieraõ cauzar.
19.
Nenhum remedio lhe sinto
O Naõ vireá melhor fôra,
Venha sem em
boa hora
Quem ao lobo faminto,
Lhe ponha em sangue tinto
Por
essas ruàs no chaõ,
Bandeiras em confucaõ
Flores, Barretes, e
Capas
Deste bom Rey nada escapa,
Viva o Graõ Sebastaõ.
20.
Sonhei que via vencer
As quatro partes do mundo,
E que Portugal a
tudo
Hia dando que fazer,
E taõbem fazendo e ver
O Evangelho, e
a Cruz
Ao povo falto de luz,
Sacramento eterno dia
Taobem a
Virgem Maria
Todos com o bom Jezus.
21.
Sonhei que o Sacramento
Em todo o mundo em redondo,
Já das
almas serà dono
Isto maior portento,
Taõbem graõ contentamento,

Em ver os Reys me cauzou
Que na geraçaõ dotou,
Lá de Affonço
o primeiro
Thé trinta o derradeiro,
Onde o primeiro acabou.
22.
Por humgrande oppozitor
Depois da linha acabada,
Este farà
derrotada,

A Igreja com horror,
Á besta mete pavor
Em trez, e
meio de dura
Tanta gente à Sepultura,
O Martir gloríozo
Por fugir
do tenebrozo,
A seguir a Virgem pura.

23.
Por mil, e duzentos annos
A Igreja reinarà,
Jà todo o Christaõ serà

Vivendo como irmaõs,
Nem trapaças nem enganos
Debaixo de
huma cabeça,
No seo Império, e pastor,
Por Sebastiaõ Senhor
A
quem tudo obedeça
Com Zelo, e grande amor.
24.
Este Rey de Deos guardado
Para limpeza do mundo,
De tal sorte
porà tudo
Que deos seja venerado,
Em Portugal exaltàdo
De
pequeno graõ Senhor,
Os mais todos com Pavor
Logo o haõde
coroar,
Por Imperador sempár
Ao depois do Creador.
25.
Sonhei que via descer
Hum Anjo em huma nuvem
Mostrando que
jà destroe
Quem Herege quizer ser,
Daqui vem a entender
Pella
voz que lhe ouvi
E com furor disse assim,
"Morra o Blasfemador

"De Ley do bom Redemptor,
"O Prencipio desde aqui.
26.
Taõbem a Lua correndo
Sonhei que a via vir
Por trez vezes a cahir,

E Portugal perecendo
A isto o que eu entendo
Que figura muito
moiro,
Vindo a buscar o oiro,
E mais riqueza notoria
Fazendo
perder a
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