Trovas Inedìtas de Bandarra | Page 2

Gonçalo Anes Bandarra
longas terras virão
Dois Leoens mui asanhádos
Hum de Cruz, e
outro não
Vingarão males paçados.
17.
Serão à força da espada
Destruidas mil provincias,
Na Luzitania
assollada
Terão fim roubos, e malicias.
18.
Na era de quarenta, é hum
De Janeiro por diante,
Darà fio ao seo
montante
Aparelhece cada hum.
19.
O nosso Christianismo
Nossa grande Obrigação,
Não temos mais
de Christão,
Do que o nome do Baptismo.
20.
Fazemos dos dias noites
Vivendo como agrestes,
Haverà castigo, e
açoutes
Cada qual se faça prestes.
21.
Espantozos movimentos
Havemos cedo dever,
E antes de muitos
tempos
Ha de isto de acontecer.
22.

Não haverà em Hespanha
Lugar preveligiado,
Tudo serà assollado

Dessa gente de Alemanha.
23.
Todos os lugares planos
Por terra serão prostrados,
Muitos males,
muitos damnos
Haverà pellos peceádos.
24.
As Serras se habitarão
E os Oiteiros mais altos,
Muitas Gentes
sahirão
Outros andarão em Saltos.
25.
Andarão como pasmados
Chorando pellos caminhos,
De suas terras
lançados
De parentes, e vesinhos.
26.
Então não haverà amigos
Nem pay que por filho seja,
O mais
seguro abrigo
Serà acolherse à Igreja.
27.
Nesses tempos os meninos
Ainda que innocentes,
Terão tãobem
accidentes
Muito fora dos Caminhos.
28.
Haverà peregrinaçoens
Mortes sem conto de dura,
Males fogos
devisoens
Só Deos lhe póde dar cura.
29.
Ha de ser Rey quem fôr
Que em Deos está o saber
O bom, o São, o
melhor
Só elle o há de escolher.

30.
Por particular enteresse
Tem chegado o mundo a tanto,
Triste do
que lhe parece
Que háde bastar falçomanto.
31.
Os póvos hão de alintar
As culpas dos seos Monarchas,
Que sem
nenhum estudar
São Letràdos, e Patriarchas.
32.
Nos Ceos haverà sinaes
Na Terra não faltarão,
Tormentos pennas, e
ais
Que aos Ceos penetrarão.
33.
E depois do Leão morto
Não sem falta de mistério,
Aportarà neste
porto
Outro com maior Império.
34.
Entrarà com companheiro
Na terra dos Luzitannos,
Cada qual bom
Cavalleiro
Destruirão os Arriannos.
35.
Tempos traz tempos virão
Que os Grandes serão baixàdos
Os
pequennos exaltádos
Povo, e Rey governarão.
36.
E depois de tantos males
Fomes, pestes devisoens,
Cheios os
montes, e Valles
De tristes peregrinaçõens.
37.

Tornarà o Redemptor
A olhar por seo rebanho,
E tello ha com
muito amanho
Como bom Rey e Senhor.
38.
Escaparà pouca gente
De tão perigoza dança,
Virà tempo de
bonança
Quem viver serà contente.
39.
Vejo vir grandes baleias
Pella costa de Biscaya
Gaia gaia da
vezinha praya
Que lhe tingem as areias.
40.
Eis là contra a Norúega
Raios, Cavallos, Golfinhos,
Com que preça
que navega
Tanta Cópia de Marinhos.
41.
Vejo milhoens de Relampagos
Trovoens que rompem os ceos

Nuvems de mui grandes véos
Coriscos grandes expantos.
42.
Que mancebo tão formozo
Dà Luz a todo o Emisfério,
Rosto mui
digno de Império
Forte, fero, e graciozo.
43.
Iá por força toma a Seora
Cercàdo de Leoens bravos,
Oh que unhas
dentes quebrádos
Teme, e treme toda a terra.
44.
Mil rapozas vão dìante
Buscando grutas, e côvàs,
A Lebres,
Coelhos dão novas
Que fujão de tal semblante.

45.
Descançame a vista vendo
Hirse o tempo já chegando,
E estarse a
Alma alegrando
Com o que vejo, e entendo.
46.
Venha embora o Leão forte
De tantos accompanhádo,
Que affirmão,
e tem jurado
Que em que lhe custe a morte
O hão de ver coroado.
47.
Que grandes arribaçoens
São Atums, ou são Sardinhos,
Maiores são
que Barquinhas
São Náos, boms Galioens.
48.
Parece que seo caminho
Hé direito a Portugal
Ai se eu mal não
advinho
Não vão carregar de Sal.
49.
Que rostos, corpos, e armas,
Quanto fogo, e quanto asso,
No rosto
gente do Passo
E Soldados nas Bisarmas.
50.
Ora quero-lhe dizer
Esta cà occupàda a Terra,
Mas poderão
responder
Se hé gente de paz, ou guerra.
51.
Hé gente que em si encerra
E aquillo que diz não faz,
Diz guerra,
ordena páz
Pergoa paz, e faz guerra.
52.

O Seo Rey quer ser Monarcha
E toda a Terra pertende,
Tudo
abrange, e tudo abarca
E do díreito não pende.
53.
Vinde cà Rey Soberanno
Quero vos dezenganar,
Lembro-vos que
sois humanno
E que tudo hade acabar.
54.
E que na postreira hora
Quando o mal jà estìver feito,
E não possa
ser desfeito
Treme olma, e em vão chora.
55.
Lembre vos o que aconteceo
A Tholedo com o pay
Que já cada
hum là vay
E não sei qual pa o ceo.
56.
Quereis vòs a Portugal
Sendo elle nome macho
Ajuda mal por que
lhe acho
Muita fémea, e pouco Sal.
57.
Se quizerdes por direito
Deixarse há elle torcer,
Mas forçado hé
máo geito
Para se deixar vencer.
58.
Vejo vosso damno perto
Hireis perdendo o reynádo
E tão bem
tende por certo
Morrerdes desconsolado
59.
Luzitanna hé chamáda
A Dama que dezejaés,
Ella hé dantes
despozada
Perseguilla hé por demais

60.
Ainda que em caza tem
De Ulices tantos povos,
Hir-se hão como os
porcos
Ante o Leão que vem.
61.
Esta profecìa hè bella
Mui certa e verdadeira,
Quem tiver boa
terceira
Gozarà a Sabia Donzella.
Fim da quarta parte.
Quinta parte das Trovas de Bandarra.
1.
Quando de noite me ponho
A dormir sem me benzer,
Tudo o que
háde açuceder
Se me representa em Sonho.
2.
Sempre mandei escrever
Aquillo que me lembrou,
Porque a
memoria a postou
De tudo se esquecer.
3.
Nas Trovas que tinha feito
Muito hà que conciderar,
Como o seo
tempo chegar
Se vera o meo conceito.
4.
Sempre por thezoiras faço
As minhas contas mui certas,
Portas que
hão de estar abertas
Não são boas para o paço.
5.
Eu naõ sou Profeta inteiro
E menos na minha terra,
Mas vejo vir

pella Serra
Atraz
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