D. Miguel, e alguns, sen?o todos, de D. Sebasti?o. A familia de C?rte-Real �� ultra-liberal, odeia os realistas com aquelle odio saturado na emigra??o, e n?o admitte honra, intelligencia, nem merecimento em homem que n?o fosse capaz de cortar as orelhas a um miguelista, se elle estiver por isso. J�� v�� que as duas familias detestam-se. De parte a parte no momento em que as rela??es de Amelia com C?rte-Real fossem percebidas, imagine o meu amigo que n?o hiria!
--Ent?o elles namoravam-se?
--Pois eu n?o lhe disse j�� que sim?
--N?o, senhor: disse-me que Amelia passeava repetidas vezes no cemiterio para v��l-o, mas que n?o o via muitas vezes. Eu queria saber como se encontraram... porque... desejo saber como �� que a gente p��de sahir d'um encontro d'esses!... N?o ha muito que me vi entalado com um d'esses encontros... Eu tinha o recado na ponta da lingua, e, quando vi a mocetona, que n?o era cousa de atarantar um estudante de logica, pegou-se-me a lingua ao c��o da bocca, como diz n?o sei que poeta... vox faucibus hoesit... Que lhe disse elle quando a viu?
--Isso �� que eu n?o sei, porque n?o ouvi. O que sei �� que se fallavam por cartas, e entretiveram assim rela??es seis mezes. Por fim, descobre-se o namoro. C?rte-Real fallava da rua para a janella com Amelia: um tio d'ella �� avisado; espera-o no pateo, com a porta fechada, e, quando elle principia a dizer bellas cousas, o tal bruto abre a porta, e descarrega-lhe quatro bordoadas, que o pozeram f��ra do combate. No dia seguinte, mandou-lhe a casa a capa, o chap��o, e uma clavina, que f?ra tres vezes batida �� queima roupa do tal varredor de feiras.
--E depois?
--D. Amelia, duas horas depois, foi mandada entrar n'uma liteira, e conduzida a casa d'este padre.
--Para que?
--Para ninguem saber o seu destino, em quanto vinha de Lisboa, onde ella tinha o conselho de familia, uma ordem para ser recolhida a um convento.
--E C?rte-Real que fez?
--Curou as feridas da cabe?a, e indagou o destino de Amelia. Como o n?o soube, cahiu n'uma melancolia profunda, teve accessos de loucura, e, pelo que o senhor me disse, est�� hoje no hospital de Rilhafolles.
--E Amelia casou-se?
--Pois no casamento �� que est�� o interessante da historia.
Quinze dias depois da sua vinda para aqui, chegou de Coimbra o irm?o do padre. Parece que sentiu por Amelia o que era muito natural que sentisse. Amou-a, mas n?o ousou declarar-se, porque sabia os precedentes, que a trouxeram a esta casa. Ella, por si, tractava-o com a fria delicadeza da indifferen?a, at�� ao momento, em que recebeu de uma sua tia a noticia de que viera ordem do conselho de familia para ser conduzida a Lisboa, e l�� recolhida em um convento.
Lida a carta, Amelia offereceu-se como esposa do bacharel. O imprudente sem mais nem menos, aceitou a offerta. Alcan?ou do arcebispo dispensa de banhos e consentimento do tutor: o irm?o, sem consultar a philosophia, a religi?o, e a consciencia, casou-os. Na tarde do dia das bodas, chegou a liteira que devia levar a orph? a Lisboa. Amelia apresentou-se a seu tio com um desdenhoso sorriso, e disse: ?N?o tenho duvida nenhuma em hir para Lisboa, e para um convento, mas �� necessario que meu marido v�� comigo.?
--Seu marido!--exclamou o tio estupefacto.
--Meu marido... aqui lh'o apresento.
XII.
--Dias depois, esta victima dos seus caprichos, cahiu doente. O medico capitulou-lhe a enfermidade de tisica no primeiro grau. O marido arrependeu-se muito cedo. Ella n?o se arrependeu, porque sabia que dava um passo que devia matal-a. E, com effeito, est�� alli... est�� morta...
...Ahi vem ella e o padre... Fallemos d'outra cousa... ........................................................................... ...........................................................................
CONCLUS?O.
Um anno depois, em Coimbra, dizia-me Valladares:
--Olha que tive carta do abbade de Alpedrinha. D. Amelia morreu, e as suas ultimas palavras ao marido foram estas: MORRO POR CAPRICHO.
UMA PAIX?O BEM EMPREGADA.
UMA PAIX?O BEM EMPREGADA.
I.
O meu amigo Valladares, em uma tarde formosa, passeando comigo no Penedo da Saudade, sentou-se, accendeu um cigarro com perfei??o academica, abriu a carteira, e recitou-me os versos, que, um anno antes, me recit��ra em Alpedrinha.
--Lembras-te?--disse elle.
--Perfeitamente. Prometteste contar-me ent?o uma historia.
--Vou cumprir a promessa.
--E disseste que o teu conto prendia muito com aquella casa.
--Disse, e vaes v��r porque. Olha que eu n?o vou fazer estilo. Prepara-te para uma narra??o simples, e clara. N?o perten?o �� esc��la dos nossos lapidarios de palavras, que nos dizem em estilo de Corneille as scenas comicas de Moliere. A minha historia, se tal nome lhe cabe, �� uma tragedia com muitas scenas de far?a. Ainda que me n?o vejas rir, tens a liberdade da gargalhada. Ahi vai:
Em 1843 fui �� feira do Santo Antonio a Villa-Real. Encontrei ahi uma familia que mora uma legua distante de minha casa. Compunha-se d'uma senhora idosa, que era m?i d'um cavalheiro, e este cavalheiro era pai d'uma bonita mulher, que teria dezoito annos. Gostei
Continue reading on your phone by scaning this QR Code
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the
Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.