viva, viva.
[1] Periclimeno: Neto de Neptuno, de quem recebeu o poder de se metamorfozear.
[2] Achelóo: filho de Oceano. Namorouse de Dejanira amante de Hercules. Hercules combateu com ele metamorfozeado em toiro, arrancoulhe um corno, e venseu-o.
[3] O Velho, &c. Nerêo, filho de Oceano, e pai das Nereides.
[4] Protêo: vej. Virg. Georg. I. 4. v. 429.
[5] Um dos Taverneiros de grande conta que Lisboa teve. Na dilatada teia de seus louvores sa? estes meus versos um romendinho.
*CANTO IIII.*
Foise em folias a seguinte noite.?Mas asim que a lus alma avermelhando?No orizonte as globozas nuvemzinhas?Comesou a doirar o cume aos montes,?A vensedora jente enfurecida?Respirando outra ves carnajem, sangue,?Vai de rota batida, e compasada?Ao som dos belicozos instrumentos?Demandar do Mondego as marjems frescas.
A seu salvo xegando se alojár?o.?Fas-se conselho, e por comum acórda??Para a um tempo levar ao Porto, e Aveiro?O terror, e a vitoria Nerêo parte.
Em quanto isto asim pasa, ja Coimbra?Bem como um formigueiro fervelhava?Atonita bradando. Eis muito conxo?Correndo á présa contra seu costume,?Vem um cambaio tutelar das aguas,?O gago Vitorino, e o Santareno[6]?Fanfarr?o desta sorte dezafia.
Cá-cá fora me'amigo, cu na rua;?á de ir aqui tu-udo c'o a maleita.?E ve-ve-ve veremos, e veremos?Quem-quem leva a melhor: xê-xegá'gora?Um nunca visto inzercito de jente;?Sa? co-como mosquitos: se tem barbas,?S'hé-s'hé-s'hé-s'hé capás ponhase em campo.
Qual grande Ferrabrás no xa? deitado?Desprezando do garrulo Oliveiros?O louco dezafio, o Eroi prestante?Do Rino desprezou o stultiloquio.?Na? se altera; em seu rubido semblante?Na? poim o Mêdo as cores da fraqueza.?Lijeiro, quanto sofre a corpulencia,?á trapeira alta sobe onde vijia;?E axando ser serta a guerra em caza,
Ma?s perdidas, dis ele, sa?: ja'gora?Ou venser, ou morrer. Xamase ás armas,?E toda a jente sua acode prestes.?Acodem d'Alemtejo, e Estremadura?Bizarros Campioins: da Vidigueira,?Vila de Frades, Borba, de Vilalva,?Setubal, e Palmela. De Lisboa?Axa?-se os Carcavélicos mansebos?De furibundo senho. Esta? do Algarve?Mil Soldados d'embarque destemidos,?Mil de sima do Doiro, e das Bairradas;?E sa? mais de dés mil Coimbricenses.
Toda esta Soldadesca, he bem verdade,?Cavaleiros na? sa? d'aureas esporas:?Sa? rotos, bandalhoins, babozos, porcos;?Mas qualquer deles um Eroi xapado?De inaudito valor, corajem suma,?Capás de se avansar ao mesmo Alcides.?N'uma palavra bebados eternos.
Entrase a rezenhar: cazo estupendo!?Inda a mais d'um milha? monta a rezenha.?Formarse va? da Feira ao grande largo.[7]?A linda variedade em farda, e armas?Os olhos encantava: grande parte?Em cambudos capotes romendados?A trouxe mouxe postos se rebusa:?Parte em mangas, e pernas, sem sombreiro,?Xeia de impavidês caminha aos tombos.?Este trás um pixel, este trás quatro?No alforje a tiracolo: um tres borraxas?De admiravel grandeza, e tudo xeio.?Armados todos vem muito á lijeira:?Nada de arnezes, peito descuberto;?á excesa? dos rompentes granadeiros?Que feitos va? ali cabides d'armas.?Com grevas, bacinetes, e lorigas?Bem poucos se embarasa?: a rodela,?A talhante farrusca colubrina,?A adaga, o varapáo, a masa, o xuso,?Comforme cada um melhor se ajeita,?He tudo quanto importa á mais da tropa.?Nas pezadas carretas rexinantes?Temivel ali vai das bocas negras?A ignívoma tormenta: até na? falta?Quem leve junto a si seu ca? de fila.
Enta? sobre um jumento de atafona?Ricamente ajaezado, o Santareno?As odreas pernas escarranxa a custo.?Veste de bode um tresdobrado coiro;?Poim um elmo de vides enlasadas?Na caveira d'um tigre tremebundo?Que lhe a grande carranca asombra, e adorna,?E empunhando na dextra uma tarasca?De dilatada folha, vai bizarro?Puxando os batalhoins para o combate.
Tanto que do lugar alcanse ouvera?,?E os raivozos imigos avistara?,?Fas alto o Santareno, expede as ordems,?As fileiras divide, o campo asenta.?Depois entre um salseiro procelozo?De perdigotos que da boca xove,?Da sua jente á testa asim troveja:
Lembrar-vos, generozos Camaradas,?O que ides a fazer, f?ra esqueserme?Até de quem vós fois: eu sei que o brio?A cada um de vós outros alentados?Na ponta do naris brilhando salta.?Ou morrer, ou venser: a cauza he nosa.?As Aguas de bazofia em va? na? se enxa?,?Custelhes caro se venser quizerem.?Corajem, meus amigos, oje a gloria?Q'ate'qui se ganhou na? vá perder-se.
Nos animos calou vinhi-potentes?De tal sorte a raza? destas palavras,?Que cada um deles se reputa um raio,?E ja para envestir as trélas roem.
Agora, ó Muzas, na? falteis ao Vate,?Asopraime no peito o extinto fogo,?Que he precizo cantar melhor que nunca?O combate maior que os evos vira?.
Deu sinal a trombeta Neptunina?Aspero, forte, atrós, e formidavel:?Nas cabesas as grenhas se arripia?,?Bate mais forte o corasa? nos peitos.?Comesa?-se a mover as longas alas;?O medonho alarido se levanta;?Da? fogo os mosqueteiros; da descarga?Sobe rapido aos Ceos enovelado?O denso negro fumo; c'o estampido?Os cavernozos montes retumbando?Enxem tudo de orror. Dos grandes eixos?Parecia que a máquina do mundo?Sacodida, em pedasos se fazia.?C'um asoite na ma? de duro ferro?Os cruentos cavalos instigando?Girava a impia Guerra o campo todo.?Os Soldados que a via? se animava?.?A Dezesperasa? á redea solta?Corria furibunda, e sem maneira.?As incendidas balas estridentes,?As mortíferas xusas enristadas,?Gemidos arrancando aos mizeraveis,?Um inferno fazia?. Alastrado?De sangue viu-se em breve, e corpos mortos?Da orroroza batalha o sitio extenso.[8]
Rocio, que em raza? de vizinhansa?O nome erdado tems de Santa Clara,?Se gloria ganhas oje em ser teatro?De ta? sanguinolenta brava guerra,?O nome mudarás, e dos vindoiros?Virás a
Continue reading on your phone by scaning this QR Code
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the
Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.