Só | Page 6

António Nobre
mo?as e as donzellas?(Mas procuro-te, em v?o, já n?o te vejo entre ellas...)?As andorinhas ainda têm o mesmo fito?(Mas já fizeram trez jornadas ao Egypto...)?Ainda dobra por defuntos e defuntas?(Mas n?o te vejo a ti a rezar de m?os juntas.)?Ainda lá está o figueiral com figos,?(Mas n?o a tua m?o a dal-os aos mendigos...)?O Ruy ainda traz a farda de soldado?(Mas, agora, já poe mais divizas, ao lado.)?As r?s coaxam ainda á noite, á beira d'agoa?(Mas, já n?o têm quem pe?a a Deus por essa magoa.)?O Emilio tem ainda esse olhar que maravilha,?(Mas, com seus olhos d'hoje, é uma pombinha da Ilha)?Ainda lá est?o os cravos, no jardim,?(Mas já n?o s?o as mesmas notas de clarim...)?Ainda oi?o o tanque a solu?ar a sua magoa?(Mas já n?o acho t?o branquinha a sua agoa...)?A Margareth ainda é a papoila de outrora?(Mas a papoila... já está uma senhora!)?Ainda lá est?o as papoilas em flor?(Mas a velhinha já n?o vae de regador...)?Meu cora??o é ainda o Valle de Gangrenas?(Mas já n?o tenho quem lhe plante as a?ucenas...)?Vive ainda o Sol, vivo eu ainda... (Mas tu morreste!)?Tudo ficou, tudo passou...
Que mundo este!
Pariz, 1891.
*Os Sinos*
1
Os sinos tocam a noivado,
No Ar lavado!?Os sinos tocam, no Ar lavado,
A noivado!
Que linda crian?a que assoma na rua!
Que linda, a andar!?Em extasi, o povo commenta que é a Lua,
Que vem a andar...
Tambem, algum dia, o povo na rua,
Quando eu cazar,?Ao ver minha noiva, dirá que é a Lua
Que vae cazar...
2
E o sino toca a baptizado
Que lindo fado??E o sino toca um lindo fado,
A baptizado!
E banham o anjinho na agoa de neve,
Para o lavar,?E banham o anjinho na agoa de neve,
Para o sujar.
ó boa madrinha, que o enxugas de leve,?Tem dó d'esses gritos! Comprehende esses ais:?Antes o enxugue a Velha! antes Deus t'o leve!
N?o soffre mais...
3
Os sinos dobram por anjinho,
Coitadinho!?Os sinos dobram, coitadinho...
Pelo anjinho!
Que aceiada que vae p'ra cova!
Olhae! olhae!?Sapatinhos de sola nova,
Olhae! olhae!
ó lindos sapatos de solinha nova,
Bailae! bailae!?Nas eiras que rodam debaixo da cova...
Bailae! bailae!
4
O sino toca p'ra novena,
Gratiae plena,?E o sino toca, gratiae plena,
P'ra novena.
Ide, meninas, á ladainha,
Ide rezar!?Pensae nas almas como a minha...
Ide rezar!
Se, um dia, me deres alguma filhinha,?ó M?e dos Afflictos! ella ha-de ir, tambem:?Ha-de ir ás novenas, assim, á tardinha,
Com sua m?e...
5
E o sino chama ao Senhor-fóra,
A esta hora!?Os sinos clamam, a esta hora,
Ao Senhor-fóra!
Accendei, vizinhos, as velas,
Allumiae!?Velas de cera nas janellas!
Allumiae!
E luas e estrellas tambem poem velas,
A allumiar!?E a alminha, a esta hora, já está entre ellas,
A allumiar...
6
E os sinos dobram a defuntos,
Todos juntos!?E os sinos dobram, todos juntos,
A defuntos!
Que triste ver amortalhados!
Senhor! Senhor!?Que triste ver olhos fechados!
Senhor! Senhor!
Que pena me fazem os amortalhados,?Vestidos de preto, deitados de costas...?E de olhos fechados! e de olhos fechados!
E de m?os postas!
E os sinos dobram a defuntos,
Dlin! dlang! dling! dlong!?E os sinos dobram, todos juntos,
Dlong! dlin! dling! dlong
Pariz, 1891.
*Ter?as-Feiras*
Ao Alberto
1
ó condezinho de Tolsto? (Alberto)?Santo de minha extrema devo??o,?Alma tamanha, que adorei de perto,?Lá na Thebaida do Sr. Jo?o.
Meu Calix do Senhor! Meu Pallio aberto!?Luar branco na minha escurid?o!?ó minha Joanna d'Arc! Amigo certo?Na hora incerta! Aguia! Meu Irm?o!
A ti as _Ter?as-feiras_, n'este Inferno,?D'aquelle que nasceu, em ter?a-feira?E em ter?a-feira morrerá, talvez...
Quando eu for morto já, noites de inverno,?Aos teus filhinhos, conta-as á lareira?Para eu ouvir de _lá_:
?Era uma vez...
Pariz, 1891.
2
Legenda do Santo
?Era uma vez um velho, mui velhinho,?Vinde, meus filhos! vinde ouvir contar!?Seguia, ao por-do-sol, por um caminho,?Dois saccos de Amargura a carregar.
O pobre velho, todo derreadinho,?Já n?o podia mais, queria arreiar;?Mas passa um cavalleiro: ?Olá, santinho!?Eu deito-lhe uma m?o para o ajudar...?
E o fidalgo desceu do seu cavallo:?Tomou-lhe os saccos que iam a matal-o?E aos hombros carregou com o maior!
E, hoje, o velhinho anda a construir, coitado!?Que linda ermida, n'esse ch?o sagrado,?Onde lhe appareceu Nosso Senhor!?
Pariz, 1891.
3
Prologo
Em hora de afflic???, molhei a penna?Na chaga aberta d'esse corpo amado,?Mas n'uma chaga a suppurar gangrena,?Cheia de puz, de sangue já coalhado!
E depois, com a m?o firme e serena,?Compuz este missal d'um torturado:?Talvez choreis, talvez vos fa?a pena...?Chorae! que immenso tenho eu já chorado.
Abri-o! Orae com devo??o sincera!?E, à leitura final d'uma ora??o,?Vereis cair no solo uma chymera...
Mo?os do meu paiz! vereis ent?o?O que é esta Vida, o que é que vos espera...?Toda uma Sexta-feira de Paix?o!
Coimbra, 1889.
4
Natal d'um Poeta
Em certo reino, á esquina do planeta,?Onde nasceram meus Avós, meus Paes,?Ha quatro lustres, viu a luz um poeta?Que melhor f?ra n?o a ver jamais.
Mal despontava para a vida inquieta,?Logo ao nascer, mataram-lhe os ideaes,?A falsa-fé, n'uma trai??o abjecta,?Como os bandidos nas estradas reaes!
E, embora eu seja descendente, um ramo?D'essa arvore de Heroes que, entre perigos?E guerras, se esfor?aram pelo ideal:
Nada me importas, Paiz! seja meu amo?O Carlos ou o Zé da Th'reza... Amigos,?Que desgra?a nascer em Portugal!
Coimbra, 1889.
5
Ai de Mim!
Venho, torna-me velho esta lembran?a!?D'um enterro d'anjinho, nobre e puro:?Infancia, era este o nome da crian?a?Que, hoje, dorme entre os bichos, lá no escuro...
Trez anjos, a Chymera, o Amor, a
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