velhinha,?Que és tu a Virgem disfar?ada em probrezinha...?Mas tu, sorrindo sempre, olhando sempre os céus,?Deixando atraz de ti, os negros Pyrineus,?Sob os quaes rola a humanidade, nos Expressos,?Em certo dia ao fim de tantos (conto-os, me?o-os!)?Vindo de villa em villa, e mais de serra em serra,?Chegas!
E cae e cae no soalho alguma terra:?Tua cova que vem pegada aos teus vestidos!
ó lua do ceguinho! Amparo dos vencidos!?Alpendre do perd?o! ó Piedade! ó Clemencia!?Singular fado o nosso, estranha coincidencia:?Deixamos nossa Patria ao mesmo tempo: tu,?Adentro d'um caix?o, que era tambem bahu,?Onde levavas as desgra?as d'esta vida;?Eu, n'um paquete sobre a vaga enraivecida?(Sob a qual, entretanto, havia a paz das loizas)?E n'elle o esquife do meu lar, as minhas coizas,?E mais tu sabes, Santa! um sacco de mizerias!?Mas a existencia, é um dia, esta vida s?o férias?E, mal acabem, te verei de novo... em breve!?E tu de novo me verás...
Ah! como deve?Ser frio esse teu lar de debaixo da terra?Que teu cadaver de oiro ainda intacto encerra:?Ainda intacto e sempre: disse-me o coveiro?Que a tua cova era a unica sem cheiro...?E assim te deixo, Santa! Santa! ao abandono,?Só, aos cuidados das corujas e do Outomno!?Com este frio, horror! Senhora da Piedade!?Sem uma m?o amiga e cheia de bondade?Que te agazalhe e fa?a a dobra do len?ol,?Que abra a janella para tu veres o sol,?Que, logo de manh?, venha trazer-te o leite?E, á noite, a lamparina-esmalte com azeite!?Sem uma voz que vá ao pé da tua loiza,?Ancioza, perguntar se queres alguma coiza,?Cobrir-te, dar-te as boas-noites... Sem ninguem!?Ai de ti! ai de ti! minha segunda M?e!
Dobra era meu cora??o o sino da saudade...
Aqui, no meio d'esta fria soledade,?Evoco a Coimbra triste, em seu aspecto moiro:?Entro, chapéu na m?o, em tua Caza d'Oiro,?Em frente a um cannavial, cheio de rouxinoes,?Que era nervozo de mysterio, ao por-dos-soes...?Vejo o teu lar e a ti, t?o pura, t?o singella,?E vejo-te a sorrir, e vejo-te, á janella,?Quando eu seguia para as aulas, manh? cedo,?Ancioza, olhando d'entre as folhas do arvoredo,?Olhando sempre até eu me sumir, a olhar,?Que ás vezes n?o me fosse um carro atropelar.?Vejo o meu quarto de dormir, todo caiado,?D'onde ouvia arrulhar as pombas, no telhado;?Oi?o o relogio a dar as horas vagamente,?Devagar, devagar, como os ais d'um doente...?Vejo-te, á noite, pelas noites de Janeiro,?Na sala a trabalhar, á luz do candieiro,?Mais vejo o Emilio, indo a tactear, quasi sem vista,?Mas que lembrava com seus olhos de ametysta,?Meio cerrados, como ao sol uma janella,?Que lindos olhos! uma pomba de Ramella!?E andava á solta pela caza, n?o fugia,?Que aos libres ares o cazulo preferia...?Mais vejo Aquella, cujo olhar s?o pyrilampos,?Que tem o nome da mais linda flor dos campos,?Que tem o nome que tiveste... Vejo-a, ainda,?Como se hontem fosse, a Margareth, t?o linda:?Vejo-a passar, sorrindo, e faz-me assim lembrar?No seu vestido rubro, uma papoila a andar...?Mais te vejo ainda ungir d'affagos minhas penas,?Mais te vejo voltar, á tarde, das novenas...?Mais oi?o os sinos a dobrar, em Santa Clara,?E tu encommendando a alminha que voara...?Mais vejo os meus contemporaneos, pela Estrada,?As capas destra?ando, ao verem-te á saccada;?Mais vejo o Ruy, na sua farda de artilheiro,?E tu mirando-o (o que s?o m?es!) o dia inteiro!?Mais vejo o sol, aurea cabe?a do Senhor,?Mais vejo os cravos, notas de clarim em flor!?Mais vejo no quintal as papoilas vermelhas,?Mais vejo o lar das andorinhas, sob as telhas,?Mais oi?o o tanque a solu?ar solu?os d'agoa,?Mais oi?o as r?s, coaxando á noite a sua magoa,?Mais vejo o figueiral todo cheio de figos,?Mais vejo a tua m?o a dal-os aos mendigos...?Mais oi?o os guizos, ao passar da mala-posta,?Mais vejo a sala de jantar, a meza-posta,?E tu, Senhora! prezidindo, á cabeceira.?E (o que a distancia faz!) vejo-te na cadeira,?Com uma touca preta a cobrir-te os cabellos,?Que eram de neve, aos caracoes, estou a vel-os!?(Hei-de ir cortar-t'os, alta noite, ao cemiterio...)?Mais vejo o Vasco sempre triste, sempre serio,?D'um lado e eu de outro...
Que aben?oado refeitorio!
Mas tudo passa n'este mundo tranzitorio!?E tudo passa e tudo fica! A Vida é assim?E sel-o-á sempre pelos seculos sem fim!?Ainda vejo a tua caza, e oi?o os teus gritos?(Mas nas janellas e na porta vejo escriptos!)?O Vasco é ainda sempre triste, sempre serio?(Mas sua caza, agora, é ao pé d'um cemiterio...)?Meu quarto de dormir vejo-o no mesmo estado?(Mas n?o sei que é, n?o me parece t?o caiado.)?A janella ainda tem o mesmo parapeito?(Mas já n?o sou ?o estudantinho de Direito?.)?Na sala de jantar ainda se estende a meza?(Mas já n?o tem a meza-posta, a sobremeza.)?Vejo o relogio na parede como outrora?(Mas o ponteiro marca ainda a mesma hora...)?O candieiro ainda tem o petroleo e a torcida?(Mas apagou-se a luz a quando a tua vida.)?A diligencia passa, á tardinha, a tinir,?(Mas já n?o tem os olhos teus para a seguir...)?Passam ainda pela Estrada os estudantes?(Mas n?o destra?am suas capas, como d'antes...)?Vêm da novena ainda as
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