patria, em que nação é que se esconde
Esta Bandeira,
esta India, este Castello, aonde? aonde?
Fui ter com minha fada, e
disse-lhe: «Madrinha!
Mas pode haver, assim, na Terra uma
Purinha?»
E a minha fada com sua vara de marfim
Tocou meu
peito... e alguem sorriu lá dentro: Sim...
Meninas, lindas meninas!
Qual de vós é o meu ideal?
Meninas,
lindas meninas
Do Reino de Portugal!
Pariz, 1891.
*Elegia*
Vae em seis mezes que deixei a minha terra
E tu ficaste lá, mettida
n'uma serra,
Boa velhinha! que eras mais uma criança...
Mas, tão
longe de ti, n'este Payz de França,
Onde mal viste, então, que eu
viesse parar,
Vejo-te, quanta vez! por esta sala a andar...
Bates.
Entreabres de mansinho a minha porta.
Virás tratar de mim, ainda
depois de morta?
Vens de tão longe! E fazes, só, essa jornada!
Ajuda-te o bordão que te empresta uma fada.
Altas horas, emquanto o
bom coveiro dorme,
Escapas-teãda cova e vens, Bondade enorme!
Atravez do Marão que a lua-cheia banha,
Atravessas, sorrindo, a
mysteriosa Hespanha,
Perguntas ao pastor que anda guardando o
gado,
(E as fontes cantam e o céu é todo estrellado...)
Para que
banda fica a França, e elle, a apontar,
Diz: «Vá seguindo sempre a
minha estrella, no Ar!»
E ha-de ficar scismando, ao ver-te assim,
velhinha,
Que és tu a Virgem disfarçada em probrezinha...
Mas tu,
sorrindo sempre, olhando sempre os céus,
Deixando atraz de ti, os
negros Pyrineus,
Sob os quaes rola a humanidade, nos Expressos,
Em certo dia ao fim de tantos (conto-os, meço-os!)
Vindo de villa em
villa, e mais de serra em serra,
Chegas!
E cae e cae no soalho alguma terra:
Tua cova que vem pegada aos
teus vestidos!
Ó lua do ceguinho! Amparo dos vencidos!
Alpendre do perdão! ó
Piedade! ó Clemencia!
Singular fado o nosso, estranha coincidencia:
Deixamos nossa Patria ao mesmo tempo: tu,
Adentro d'um caixão,
que era tambem bahu,
Onde levavas as desgraças d'esta vida;
Eu,
n'um paquete sobre a vaga enraivecida
(Sob a qual, entretanto, havia
a paz das loizas)
E n'elle o esquife do meu lar, as minhas coizas,
E
mais tu sabes, Santa! um sacco de mizerias!
Mas a existencia, é um
dia, esta vida são férias
E, mal acabem, te verei de novo... em breve!
E tu de novo me verás...
Ah! como deve
Ser frio esse teu lar de debaixo da terra
Que teu
cadaver de oiro ainda intacto encerra:
Ainda intacto e sempre:
disse-me o coveiro
Que a tua cova era a unica sem cheiro...
E assim
te deixo, Santa! Santa! ao abandono,
Só, aos cuidados das corujas e
do Outomno!
Com este frio, horror! Senhora da Piedade!
Sem uma
mão amiga e cheia de bondade
Que te agazalhe e faça a dobra do
lençol,
Que abra a janella para tu veres o sol,
Que, logo de manhã,
venha trazer-te o leite
E, á noite, a lamparina-esmalte com azeite!
Sem uma voz que vá ao pé da tua loiza,
Ancioza, perguntar se queres
alguma coiza,
Cobrir-te, dar-te as boas-noites... Sem ninguem!
Ai
de ti! ai de ti! minha segunda Mãe!
Dobra era meu coração o sino da saudade...
Aqui, no meio d'esta fria soledade,
Evoco a Coimbra triste, em seu
aspecto moiro:
Entro, chapéu na mão, em tua Caza d'Oiro,
Em
frente a um cannavial, cheio de rouxinoes,
Que era nervozo de
mysterio, ao por-dos-soes...
Vejo o teu lar e a ti, tão pura, tão singella,
E vejo-te a sorrir, e vejo-te, á janella,
Quando eu seguia para as
aulas, manhã cedo,
Ancioza, olhando d'entre as folhas do arvoredo,
Olhando sempre até eu me sumir, a olhar,
Que ás vezes não me fosse
um carro atropelar.
Vejo o meu quarto de dormir, todo caiado,
D'onde ouvia arrulhar as pombas, no telhado;
Oiço o relogio a dar as
horas vagamente,
Devagar, devagar, como os ais d'um doente...
Vejo-te, á noite, pelas noites de Janeiro,
Na sala a trabalhar, á luz do
candieiro,
Mais vejo o Emilio, indo a tactear, quasi sem vista,
Mas
que lembrava com seus olhos de ametysta,
Meio cerrados, como ao
sol uma janella,
Que lindos olhos! uma pomba de Ramella!
E
andava á solta pela caza, não fugia,
Que aos libres ares o cazulo
preferia...
Mais vejo Aquella, cujo olhar são pyrilampos,
Que tem o
nome da mais linda flor dos campos,
Que tem o nome que tiveste...
Vejo-a, ainda,
Como se hontem fosse, a Margareth, tão linda:
Vejo-a passar, sorrindo, e faz-me assim lembrar
No seu vestido rubro,
uma papoila a andar...
Mais te vejo ainda ungir d'affagos minhas
penas,
Mais te vejo voltar, á tarde, das novenas...
Mais oiço os sinos
a dobrar, em Santa Clara
,
E tu encommendando a alminha que
voara...
Mais vejo os meus contemporaneos, pela Estrada,
As capas
destraçando, ao verem-te á saccada;
Mais vejo o Ruy, na sua farda de
artilheiro,
E tu mirando-o (o que são mães!) o dia inteiro!
Mais vejo
o sol, aurea cabeça do Senhor,
Mais vejo os cravos, notas de clarim
em flor!
Mais vejo no quintal as papoilas vermelhas,
Mais vejo o
lar das andorinhas, sob as telhas,
Mais oiço o tanque a soluçar
soluços d'agoa,
Mais oiço as rãs, coaxando á noite a sua magoa,
Mais vejo o figueiral todo cheio de figos,
Mais vejo a tua mão a
dal-os aos mendigos...
Mais oiço os guizos, ao passar da mala-posta,
Mais vejo a sala de jantar, a meza-posta,
E tu, Senhora! prezidindo,
á cabeceira.
E (o que
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