Ruy o escudeiro: Conto | Page 4

Luís da Silva Mousinho de Albuquerque
foi manchada,??Alli deixo esse escudo por heran?a,??Esse elmo, essa cota, e essa espada:??Se o summo Deus tiver de n��s lembran?a,??E que um filho haja em ti, oh bem amada,??Meu nome lhe dar��s, e essa armadura??Sob a qual encontrei a morte dura.
?Dar-lhe-has esta Cruz. Isto dizendo??Do peito a separou por vez primeira,??E o bra?o, j�� sem for?a, a custo erguendo,??Aos labios a levou por derradeira.??Dir-lhe-has, que se a paz acho morrendo??A esta insignia a devo verdadeira,??Devo-a de Christo �� f��, que a vida guia,??Que ensina a fallecer sem agonia.
?Dize-lhe que a conserve ao peito unida,??Que ao lado seu cinja a paterna espada,??Aquella p'ra o guiar �� eterna vida,??Esta p'ra ser a seu Senhor votada;??Que indomito na pugna asp'ra e renhida,??A fraqueza respeite desarmada;??Que preze a honra; fuja da cobi?a,??E da moleza vil, que o vicio ati?a.
?Assim fallou teu Pai.... e a penetrante??Ferida em rouxo sangue se esvaia.??Sumiu-se a voz no peito palpitante,??Aos olhos se apagou a luz do dia:??Soou da minha dita ultimo instante,??J�� d'esta alma a ametade n?o vivia;??Mas dentro de meu seio palpitava??Penhor, que a ficar viva me obrigava.
?Vivi, a for?a achei, que me vigora??No maternal amor, oh filho amado,??C��ro penhor de um la?o, doce outr'ora;??Mas roto, quando apenas estreitado!??A ti mancebo, a ti pertence agora??Restituir-me aquelle que hei chorado,??Se, como espero, em ti vir renascida??A virtude d'essa alma ao ceo subida.
?Da tua infancia os dias acabaram,??J�� teus membros tem for?a e tem destreza,??Aquelles, que o esposo me roubaram,??Saibam que n?o fiquei s��, sem defeza.??Sangue vil minhas veias n?o herdaram,??Nem cora??o sugeito a tal fraqueza,??Que ao filho de Ruy estorve a gloria??De ter por Deus, e pelos seus victoria.?
De Ruy a viuva, assim fallando,?Do muro antigo as armas desprendia,?E os humidos olhos enchugando,?O filho de Ruy d'ellas cobria.?O mancebo, de nobre ardor c��rando.?Com respeito a armadura recebia,?Que j�� na dura guerra exp'rimentada,?F?ra do pai com o sangue consagrada.
Um captivo entretanto apparelhava?O bruto ardente, que se apraz na guerra,?Que impaciente o freio mastigava,?Co'a vigorosa m?o cavando a terra;?J�� armado sobre elle cavalgava?Quem do ninho paterno se desterra,?A procurar do mundo as aventuras,?Gratas a poucos, para tantos duras.
Da triste m?i os olhos macerados?Por largo espa?o a marcha lhe seguiram;?Ao perde-lo porem entre os silvados?De uma nevoa de pranto se cobriram.?Seus animos, do filho sustentados,?Ao arrancar-se d'elle sucumbiram.?Sentiu a triste, a d?r, magoa, anciedade,?Que s�� conhece a maternal saudade.
Segue no emtanto o mo?o a varia estrada?Que o Mondego do Douro distanceia,?Na terra, dos Beroens Beira chamada,?Onde o Vouga entre as serras serpenteia,?Do Bussaco transp?e serra elevada,?E bem depressa a vista lhe recreia?Valle ameno, co'as flores e a verdura?Que nutre do Mondego a limfa pura.
De risonha colina no vertente,?Que o rio carinhoso em baixo lava,?A cidade Conimbrica �� jacente,?Que ent?o de espesso muro se cercava;?N'ella ajuntando estava armada gente?Affonso, que attacar apparelhava?O agareno Ismar chefe animoso?Do transtagano mouro bellicoso.
Era Affonso acompanhado
D'esse Irm?o, de Henrique filho
Cavalleiro de alto brilho,
Por Dom Fuas educado.
Fuas era aparentado
De Ruy com os ascendentes,
E o sangue de seus parentes
No Joven reconhecendo,
Seus destinos protegendo,
Por escudeiro o ligou
A Pedro, que o aceitou,
E entregando-lhe a lan?a,
Poz n'elle tal confian?a,
Que como a filho o tratou.

L�� na peleija de Ourique
No mais forte das batalhas
Rachou elmos, rompeu malhas
Ruy, com o filho de Henrique.
Ao som da tuba guerreira
Seu cora??o se accendeu;
Qual touro, aberta a barreira,
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