Ruy o escudeiro: Conto | Page 5

Luís da Silva Mousinho de Albuquerque
Com o mouro accommetteu.

Aos golpes da herdada lan?a
Muitos mouros expiraram,
Muitos da espada a provan?a
C��ro co'a vida pagaram;
E no sangue de inimigos,
Que pela F�� derramou,
Entre azares, e perigos,
Do pai a morte vingou.
Do defunto Ruy tal era o filho,?Que Pedro Affonso ao ermo acompanhava.?J�� do cadente Sol o ultimo brilho?Nas bordas do horisonte se apagava,?De altas id��as no inspirado trilho?O provecto Ermit?o continuava:?Quando subito o rosto alevantando?Volveu aos dois o aspecto venerando.
ERMIT?O.
?Salve prole de Henrique, heroe preclaro,??Salve sangue de Reis, a quem a gloria??Predestinada est�� no assento claro??De ter, mais que de imigos, a victoria:??Sim, tu triumfar��s do abysmo avaro,??Do mundo calcar��s pompa, e vangloria,??Todo o fulg?r da humana heroicidade??Sepultando no asilo da piedade.
?Onde dos teus a estirpe triumfante??Teve origem ir��s, nobre e animoso,??Do teu sangue encontrar var?o prestante,??Que em ti fecundar�� germen piedoso;??Depor��s a coura?a rutilante,??O elmo, o escudo, o ferro temeroso,??Para aspirar �� gloria, que n?o passa,??No retiro e silencio de Alcoba?a.
?Tu porem, oh mancebo, de que abrolhos??Cheio �� para ti campo da vida,??Em que mar procelloso, entre que escolhos??Teus de seguir a r��ta combatida,??Que lagrimas amargas de teus olhos??Devem correr, no peito que feridas??Pungentes sofrer��s, sem ter conforto??Antes que possas recolher-te ao porto!
?Melhor f?ra p'ra ti, se a natureza??De partes menos bellas te dot��ra,??Se insensivel ��s gra?as e �� belleza??Ao pondenor, �� gloria te form��ra,??Se menos cora??o, menos viveza??Avara p'ra comtigo te outhorg��ra;??Que esse, em quem mais esmero p?e natura,??Raras vezes mimoso �� da ventura.
?Os contrarios do Rei que alevantaste??Os menores ser?o de teus imigos,??Outro mais p'ra temer, outro encontraste??Muito maior no damno, e nos perigos,??Da d?r por esse o calix esgotaste;??Mas, cumpridos teus fados inimigos,??Olhar�� Deus p'ra ti, e �� fonte pura??Te guiar�� da solida ventura.?
Assim disse o Ermita, e reclinando?A cabe?a no peito, alguns momentos?Recolhido ficou; alfim voltando?P'ra os dois, que quedos s't?o mudos e atentos?Acrescentou com tom solemne, e brando.??Que somos n��s mortaes, mais que instrumentos??Dos designios de Deus, da alta sciencia??Da insondavel eterna Providencia?
?Marcha aquelle no trilho da grandeza??De tantos precipicios circumdado;??Estoutro das paix?es entre a braveza??�� no duro combate acrisolado;??Nada um na abundancia e na riqueza;??Outro �� do escasso p?o at�� privado;??Mas se a boa ou m�� sorte os n?o illude,??L�� tem todos a coroa da virtude.?
Estes, e outros discursos repetia?O velho, de un??o cheios extremada,?Que Pedro Affonso n'alma recebia,?Qual a semente a terra preparada:?O mancebo porem a alma sentia?Com violencia tal preoccupada,?Que, orando a p��r dos dois no monumento,?Tinha longe da boca o pensamento.
Mas j�� da noute o estrellado manto?Toda a vasta planicie acobertava,?Quando Pedro deixando o logar santo?Para o regio arraial se encaminhava;?Segue em silencio o Joven, em quem tanto?Desassocego do Ermit?o gerava?O vaticinio, que debalde intenta?Dissimular a agita??o violenta.
Alertas v��las passaram,
Que do campo a guarda tem,
No arraial penetraram,
Descobrindo ��quem e al��m
Os f��gos abandonados
Pelos dormentes soldados.

Baixou sobre Pedro o amigo
Lethargo restaurador;
Mas vigilia traz comsigo
O cuidado roedor
Que no Joven escudeiro
Deixou o Ermita agoureiro.

Em v?o suffocar tentava
Curiosidade indiscreta,
Que, mal os olhos cerrava,
Logo na mente inquieta
Se renovava a impress?o
Das palavras do Ermit?o.

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