Reprezentação à Academia Real das Ciências sobre a refórma da ortografia | Page 8

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óra, éssa evolu??o está pela màiór parte já tambem operada na escritura. As altera??is propóstas s?o o seu complemento; e constituir?o os dois grandes progréssos--a unidade da reprezenta??o dos sons e a conformidade da linguájem escrita com a linguájem falada--reclamados pela necessidade de tornar fácil ao povo a aquizi??o da instru??o que se quér que ele tenha, poisque com eles se aprenderia a ler em m[~u]itíssimo menos tempo do que oje se gasta. E o pouco que résta fazer, está àutorizado de um módo irrecuzável pelo m[~u]ito que se axa feito.
Alem d'isso a refórma nésta parte tambem se n?o aprezentará menos justificada a quem a quizér considerar nas diferentes ipótezes; como passa a mostrar-se a respeito das principais d'entre élas.
A comiss?o votou unànimemente a supress?o das letras nulas; e julga que com raz?o o fês. Tais letras s?o motivo de grande confuz?o e portanto um grande embara?o; porque todas élas, em circunstáncias idênticas, umas vezes s?o nulas, outras n?o (menos as dobradas que o s?o sempre), sem ser possível dar régras que satisfá??o, para indicar quando o s?o ou deix?o de ser. E tem unicamente valor etimolójico,--valor esse iluzório e sem importáncia, porque a etimolojia n?o fica perdida com a sua supress?o, como n?o se perdeu a d'éssas m[~u]ito numerózas centenas de palavras cujas raízes se áx?o alteradas; em quanto que os embara?os a que d?o cauza, s?o um mal m[~u]ito grande e m[~u]ito real e pozitivo.
Por contemporizar com ábitos e sucètibilidades, póde aceitar-se o adiamento da supress?o do--u---nulo, visto poder dar-se régra cérta que indique a sua nulidade; porque depois de--q--nenhuma outra raz?o póde motivar a sua conserva??o. Pois se os latinos o uzáv?o, pronunciáv?o-no, como oje o pronuncí?o sempre os italianos; e se os francezes, e até os espanhóis, o emprég?o sem o pronunciar, é por um méro caprixo que n?o devemos seguir.
Por esse mesmo motivo a comiss?o lembrou-se de se adiar tambem a supress?o do--h--inicial, mas por fim n?o lhe pareceu justificada éssa rezolu??o. Paréce provado que o--h--, que nunca foi uzado pelos gregos, éra para os latinos simplesmente sinal d'aspira??o. Por isso juntáv?o-no ao t, ao p e ao c, para reprezentar téta, fi qi, consoantes mudas aspiradas do alfabéto grego, e tambem ao r nas palavras tomadas do grego em que ésta letra éra aspirada; e para que fosse aspirada a vogal seguinte, o empregáv?o no come?o das palavras,--raz?o por que escreví?o por ezemplo hora, palavra tomada do grego onde éra ora. E assim compreende-se que os francezes o empréguem no come?o d'aquélas palavras cuja primeira vogal aspír?o, e ainda se compreende o seu emprego em espanhol, visto uzar-se a aspira??o respètiva em algumas províncias do reino vizinho; mas nós que n?o aspiramos nenhuma vogal inicial, é lójico que suprimamos esse inútil sinal d'aspira??o, evitando os embara?os que rezúlt?o do seu emprego.
A comiss?o, a propózito da supress?o do--h--no vérbo haver, discutiu os inconvenientes da anfibolojia produzida pelas omonímias; assim como discutiu a ezistencia do--h--nas interjei??is hui ah oh, onde paréce aver quem admite aspira??o. óra, quanto á anfibolojia, impórta considerar que as omonímias que provirí?o da refórma, s?o nada em compara??o das que ezístem já na língua sem ninguem sentir os inconvenientes da supósta anfibolojia d'élas rezultante; que na pronúncia n?o á meio d'evitar esses inconvenientes, que alguem se aprás em recear; e que na escritura, melhór que na fala, indica o sentido qual é a significa??o da palavra, se ésta a tem dupla ou múltipla: se por ezemplo se escrever--ás á, avias avia, aví?o, ouve--, em vês de--has ha, havias havia, havi?o, houve--, ninguem desconhecerá quando respètivamente se trata do vérbo haver, ou da craze da prepozi??o a com o artigo as a, do vérbo aviar e do vérbo ouvir. Em quanto ás três interjei??is, no cazo de decidir-se que á aspira??o, seria melhór indical-a pondo na vogal o espírito áspero dos gregos--uma vírgula ás avéssas; mas a comiss?o n?o vê raz?o por que a aja, nem lhe paréce que aja com efeito, e t?o pouco julga conveniente avêl-a, porque a sua aspereza tornaria a interjei??o menos eufónica.
Em fim, a respeito do fato da nulidade das letras, sucitár?o-se dúvidas quanto ao--x--, e ao--s--no meio das palavras. Porem um ezame reflètido móstra, que só em pronúncia afètada se fás ouvir o som sibilante que éssas letras reprezentarí?o nas palavras respètivas, e que éssa pronúncia é for?ada e tórna a palavra mais áspera, sendo por isso menos confórme ao jénio da língua. E o fato do--s--se n?o axar em documentos das primeiras éras da língua, e em livros de épocas menos remótas (de Càm?is, Fr. Luís de Souza, J. Freire de Andrade, Padre Vieira, etc.), e de n?o se
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