Reprezentação à Academia Real das Ciências sobre a refórma da ortografia | Page 9

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empregar oje mesmo em várias d'aquélas palavras, é próva de que éssa letra tem sido e é nula na pronúncia jeral.
No que tóca á substitui??o de letras a fim de se xegar á unidade de reprezenta??o das consoantes, cumpre á comiss?o notar que, sendo éla reclamada pelo princípio fundamental da ortografia sónica, é ao mesmo tempo ezijida pela necessidade de remover os obstáculos que a reprezenta??o múltipla oferéce aos que aprêndem o português. Os dois sons de--c--de--g--e de--r--, os três de--s--e os cinco de--x--, s?o um martírio para professores e alunos d'instru??o primária. E n?o á raz?o para que continuemos a suportar éssas dificuldades.
Com efeito, tendo o--j--que é sinal onomatópico da articula??o--je--, por que n?o avemos d'empregar sempre esse sinal a reprezentar ésta articula??o? Tendo da mesma sórte o--z--, sinal onomatópico de--ze--, n?o dis tambem a raz?o que reprezentemos sempre ésta articula??o por aquele sinal? Dando nós ao--c--um nóme que é onomatópico da articula??o--ce--, e empregando-o só por eicè??o a reprezental-a, ao passo que o empregamos a reprezentar a articula??o--qe--no màiór número dos cazos tendo tambem para ésta um sinal onomatópico, n?o averá nisto um duplo absurdo? E a anomalia dos cinco sons do--x--é tambem injustificável. Os gregos tính?o ésta letra, a que atribuí?o uma só reprezenta??o; os latinos adòtár?o-na, e reprezentáv?o com ela a mesma articula??o que os gregos. Por isso a comiss?o entende, que deveremos empregal-a unicamente a reprezentar a articula??o da qual é para nós sinal onomatópico; nos demais valores déve ser substituída pelos respètivos sinais. E o mesmo julga a respeito do--c--; assim como julga que a boa raz?o manda que--s--fique reprezentando sòmente o seu som sibilante, que oje reprezenta talvês 99 vezes sobre 100.
A todas éstas substitui??is só se póde objètar com a raz?o estimolójica, mas éla n?o reziste a um ezame reflètido. A comiss?o aprecia a etimolojia no que vale; n?o póde porem esquècer o que reclam?o outras considera??is, á frente das quais está a incalculável vantájem das estraordinárias facilidades que d'aquélas substitui??is advir?o a quem aprende o português. Alem d'isso a etimolojia n?o fica perdida; e como já foi indicado, o que se tem a fazer, é nada em compara??o do que já se fês: ólhe-se para a série d'ezemplos das altera??is operadas, que acima se aprezentou, e ficar-se-á convencido de que as substitui??is que se prop?i e é precizo realizar, s?o uma simples emita??o.
Quanto á cria??o de um carátèr privativo para um dos sons de--r--, e á reprezenta??o de--lhe--, assim como de--nhe--, por um carátèr único, parece-lhe que por si mesmas se justifíc?o; e mais justificada ainda se deverá julgar a cria??o dos nóvos caratéres para as vogais acentuadas: bem como julga irrecuzável a vantájem, que os que aprêndem a ler, axar?o em sêrem os ditongos reprezentados por caratéres especiais. E do mesmo módo lhe paréce, que dispensa justifica??o a elimina??o do--ph--; assim como a do--ch--em qualquér das suas duas reprezenta??is (onde nada justifica o seu emprego), atentos os embara?os que ele prodús.
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Finalmente a comiss?o, depois da espozi??o e demonstra??o feitas, julga dever acrecentar que, ao ezemplo que nos dér?o espanhóis e italianos, para a refórma que prop?i, se junta outro vindo de mais alto e de mais lonje. Todas as considera??is lév?o a crer, que a formóza língua da t?o celebrada Grécia antiga tinha ortografia sónica. A prozódia grega contava 7 elementos vogais e 17 consoantes, e a sua ortografia 24 caratéres, um para cada um d'esses elementos privativamente; e com os acentos e espíritos sobre os caratéres, indicáv?o-se as varia??is de quantidade e de tom: se se dobráv?o letras, éra cèrtamente por que a pronúncia das letras dobradas diferia da das sinjélas, como acontéce em italiano. Nem outra couza se devia esperar d'éssa t?o douta na??o, por isso que a unidade de reprezenta??o dos sons éra conseqüéncia lójica da substitui??o da escritura simbólica pela escritura alfabética,--raz?o ésta pela qual póde bem aceitar-se a opini?o d'aqueles que pêns?o, que tinha tambem ortografia sónica o sanscrito, o qual tanto está xamando a aten??o dos filólogos.
Espéra pois, que se lhe n?o léve a mal ter-se tambem inspirado em ezemplo semilhante.
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Senhores, pelo que se deixa dito, paréce manifésto que a ortografia sónica nos é impósta por todas as considera??is, ao tratar-se de dotar a língua com uma ortografia nòrmal. Mas, se á comiss?o isto paréce fóra de toda a dúvida, éla, como está já indicado e deixa compreendêl-o o próprio plano acima transcrito, reconhéce ao mesmo tempo que a sua ezecu??o n?o póde ser operada imediàtamente por compléto. O ábito é uma segunda natureza, cujas leis é precizo respeitar; adqüire-se pouco a pouco, e é m[~u]ito defícil perder-se de gólpe. O respeito pois pelos ábitos, tórna indispensável levar a refórma á prática passo a passo; mas a comiss?o entende que o primeiro passo póde ser largo.
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