Os Simples | Page 4

Guerra Junqueiro
é aza...?Verme! aos infinitos poderás chegar!...
ó velhinha santa, minha boa amiga,?Resa o teu rosario, move os labios teus!...?A ora??o é ingenua? Vem de cren?a antiga??N?o importa! resa, minha boa amiga,?Que ora??es s?o lingoas de falar com Deos!...
Ha pedintes cegos de inspiradas frontes,?Com estrellas n'alma, com vis?es mentaes,?Que atravessam rios, que v?o dar com fontes,?Que andam por agrestes, solitarios montes,?Sem errar a estrada, sem cahir jamais!...
Pelos bosques ermos, onde venta e neva,?Com os seus farrapos mais o seu bord?o,?Marcham por milagre na continua treva...?Oh, dizei, dizei-me quem os guia e leva??Que prodigio oculto? que invisivel m?o?
Pois, velhinha branca, tua cren?a pura,?Tua resa antiga, que me faz chorar,?é egual aos cegos, que na noite escura?N?o precisam d'astros para ver a altura,?N?o precisam d'olhos para ter olhar!
No Infinito mudo tua ingenua cren?a,?Tremula ceguinha de risonho alvor,?Eil-a andando, andando, como que suspensa,?Pelos descampados d'uma noite imensa,?Vastid?es d'assombros, amplid?es d'horror!...
E onde a aguia, o genio de pupila ovante,?Tem vertigens, auras, desfalece e cae,?A ceguinha debil, vagabunda, errante,?D'olhos ás escuras. Infinito adiante,?N'um enlevo aereo perpassando vae!...
Branca e pequenina, ligeirinha e leve,?Corta por abismos, plagas sem faroes,?Stepes infindaveis que ninguem descreve,?Lugubres desertos de mudez e neve,?Bategas de brasas, turbilh?es de soes!...
Vae andando, andando, té que emfim cercada?D'uma aleluia mystica de luz,?Com o bord?osinho que a amparou na estrada?Bate ás portas d'oiro da feliz morada,?Presbiterio d'Almas, onde está Jesus!...
Vem um anjo abril-as; a ceguinha mansa?P?e-se de joelhos, em adora??o...?Diz-lhe o anjo:--Toma, guarda esta lembran?a:?Uma palma d'astros, a luzir Esp'ran?a,?Que á velhinha humilde levarás na m?o!
E, ave pressurosa recolhendo ao ninho,?Já com alimento para os filhos seus,?Eil-a que regressa por egual caminho,?E vem dar-te, ó santa, c?r de jaspe e arminho,?T?o amada ofrenda que te envia Deos!...
Resa esse rosario, santa lagrimosa!?Sobre os teus joelhos deixa-me deitar!?Triste da minh'alma!... vê, que desditosa!...?Unge-m'a de ben??os, m?o religiosa!...?Cobre-m'a de gra?as, cristalino olhar!...
Resa-lhe baixinho, minha boa amiga!?Resa-lhe rosarios de ora??es ideaes!?Morta de miseria, morta de fadiga,?Deixa que ella durma na pureza antiga...?Que ella durma... sonhe... e n?o acorde mais!...
89.
III
*EIRAS AO LUAR*
EIRAS AO LUAR
Alvor da lua nas eiras,?Nem linhos de fiandeiras,?Nem veos de noivas ou freiras,?Nem rendas d'ondas do mar!...?Sobre espigas d'ouro bailam as ceifeiras,?Na aleluia argentea do clar?o do luar!...
Bailae sob as lagrimosas?Estrellinhas misteriosas,?Scintila??es, nebulosas,?Fremitos vagos d'empyreos!...?Deos golpeia a aurora p'ra dar sangue ás rosas,?Deos ordenha a lua p'ra dar leite aos lirios!...
Ai, medas de prata e oiro,?De lua branca e p?o loiro,?Malhadas no malhadoiro,?A enfeiti?ar e a fulgir!...?Oh, bailae á volta d'esse bom tesoiro,?Que é a codea negra que ceaes a rir!...
Quem nas ladeiras e prados,?Com as lan?as dos arados,?Abriu sulcos e valados?Na terra gelida e nua??Oh, bailae á volta desses bois deitados,?Que est?o d'olhos tristes adorando a lua!...
Que bandos de passarinhos,?Vem lá de campos maninhos,?De fraguedos, de caminhos,?Jantar aqui, merendar!...?Oh, bailae em volta de milh?es de ninhos!?Oh, bailae cantando para os acordar!...
Entre as palhas do centeio,?Quantas esmolas no meio,?Que deixam lirios no seio?E as m?os escorrendo luz!...?Oh, bailae em volta do celeiro cheio!?Oh, bailae á volta dos mendigos nus!...
Quanta hostia consagrada,?--P?o da ultima jornada!--?Dorme na meda encantada?Ao luar t?o leve e t?o lindo!...?Oh, bailae em volta d'essa mó doirada,?Que bailaes á volta de Jesus dormindo!...
Alvor da lua nas eiras,?Nem linhos de fiandeiras,?Nem veos de noivas ou freiras,?Nem rendas d'ondas do mar!...?Oh, bailae ceifeiras, lindas feiticeiras,?Na aleluia argentea do clar?o do luar!...
Setembro--91.
IV
*AS ERMIDAS*
AS ERMIDAS
Alvas ermidinhas sob azues maguados,?Vejo-vos de longe n'uma adora??o,?Como ninhos brancos de Ideal pousados?Lá n'esses fragosos montes escalvados,?Onde n?o ha agoa, nem germina o p?o.
Serranias ermas, solid?es contritas...?Azinheiras como velhos Briarcus....?Pedras calcinadas... gados parasitas...?Tristes montes ermos! ermos cenobitas,?Que em burel d'estevas amortalha Deos!...
Pelas torvas, fundas noites de invernada,?Quando os lobos uivam, quando a neve cae,?Que infinitos sustos n'uma tal morada,?Para debil virgem t?o desamparada?Com um inocente nos seus bra?os... ai!
Como é que n?o treme pelo seu menino??Como é que n?o chora seu piedoso olhar??Como é que o seu labio, fresco e matutino,?Se abre n'um sorriso, precursor divino?Da estrellinha d'alva quando vae raiar?!
N?o receia feras quem de rosto ledo?Sofre sete espadas sobre o cora??o!...?E ao filhinho a noite n?o lhe causa medo,?Deu-lhe Deos o mundo para seu brinquedo,?Como um fructo d'oiro tem-no ali na m?o!...
Lá nos altos montes sem trigaes, nem vinhas,?Sem o bafo impuro que dos homens vem,?é que a m?e de Christo com as andorinhas,?E as estrellas d'oiro mesmo ali visinhas,?N'um casebre terreo se acomoda bem.
Bispos n?o precisa; servem-na pastores,?Capel?es d'ovelhas, mais o seu zagal...?Lampada ás Trindades, ch?o varrido, flores,?Nada falta á Virgem, m?e dos pecadores,?N'uma egrejasinha que é como um pombal.
E nas brutas, rudes solid?es t?o calmas?Ai, muito se engana quem a julga só!?Entre o luar dos hinos e o verdor das palmas,?Para lá caminham romarias d'almas...?Todos nós lá fomos com a nossa avó!...
Oh, as invisiveis prociss?es piedosas,?Romarias fluidas, sobrenaturaes!?Por onde ellas marcham, brancas, vaporosas,?Fica nos espa?os um alvor de rosas?E uma angelisante tremulina d'ais!...
Almas de velhinhas, do palor silente?D'uma estrella, quando desmaiando está...?V?o buscar alivios p'ro
Continue reading on your phone by scaning this QR Code

 / 13
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.