instantes?Ha-de ver em cinzas já desfeito ali!...
Quantas vezes, quantas! lhe bailara em torno!?Quantas noites, quantas! elle ali dormia?Pelo mez das ceifas, quando o luar é morno,?E das restolhadas, quentes como um forno,?Se evolavam cheiros d'arre?? bravia!...
Como n?o sentir um entranhado afecto,?Como n?o amal-o com venera??o,?Se lhe dera a trave que sustenta o tecto,?Se lhe dera o ber?o onde repoisa o neto,?Se lhe dera a tulha onde arrecada o p?o!
Fez com elle o jugo e fez com elle o arado;?Fez com elle as portas contra os vendavaes;?E com elle é feito o velho leito amado,?Onde se deitara para o seu noivado,?E onde já morreram seus avós, seus paes!
E o bom velho embala o seu netinho doente...?--Morte negra, foge... dorme, dorme... ó, ó...--?E, fitando as chamas simultaneamente,?Ri-se a creancinha, vendo o oiro ardente,?Lagrimeja o velho, vendo cinza e pó!...
A velhinha resa, resa afervorada...?T?o velhinha e branca, branca de jasmins,?Que a idealiso e creio d'esplendor banhada,?Entre palmas verdes até Deos levada?N'um andor de rosas pelos serafins...
Resa pelos mortos... resa á virgem pura...?Desde a sua infancia t?o ditosa e bella,?Já d'essa choupana (como a noite é escura!)?Quantos tem partido para a sepultura,?Quantos tem ficado dentro d'alma d'ella!...
Dentro d'alma d'ella, triste campo santo,?Muitas almas vivem mortas a sonhar!...?Vivem mortas, mudas, n'um dorido encanto...?Nos seus olhos vitreos cristalisa o pranto,?Nos seus labios roxos fosforece o luar...
E essas almas fluidas que ella traz comsigo,?--Talisman da cren?a, magico poder!--?Frias como a neve vem do seu jasigo,?Vem sentar-se todas no logar antigo,?A chorar á roda do braseiro a arder!...
Ai dos pobres mortos que n?o tem fogueiras,?Nem velhinhas santas que lhe deem luz!?Sob leivas, onde ninguem p?e roseiras,?Umas sobre as outras juntam-se as caveiras,?Dando sangue aos vermes, podrid?es á Cruz...
D'esses desgra?ados, mortos no abandono,?Onde est?o as almas? P'ra que Deos as fez??Quando o vento uivando lhes perturba o somno?Pela treva errantes, como c?es sem dono,?Andar?o perdidas a ulular talvez!...
Pois até por essas que ninguem conforta?A velhinha chama... e todas ellas vem...?--Vinde pobresinhas, (como o vento as corta!)?Vinde aqui sentar-vos, que eu vos abro a porta,?A aquecer-vos, filhas, ao meu lar tambem!--
E a dos olhos gar?os pastorinha bella?Fia no seu fuso linho por corar;?é trigueiro o linho, trigueirinha é ella...?Rodopia o fuso... quando for donzella,?Já terá camisas para se ir casar!...
E esse fuso alegre onde se enrosca o linho?Já foi ramo verde n'esse tronco em brasas:?Deu já cachos brancos como o branco arminho,?Já sobre elle a ave construiu seu ninho,?Já sobre elle amando palpitaram azas!...
Fuso como giras em dedinhos breves?Prasenteiramente, com t?o louco ardor!?Que estarás fiando?... que enxovaes?... que neves??Se ser?o camisas, ou mortalhas leves,?Cama para bodas, ou len?oes de dor!...
No vetusto escano o lavrador sombrio?Pensa na courela... Santo Deos, Jesus!?Se a tormenta engrossa, se lha leva o rio,?Como é que hade o gado pelo ardor do estio?Sustentar-se a piornos de fraguedos nus!...
Choram ventanias!... panica tristeza!...?Sentem-se na loja bois a ruminar...?Queixas insondaveis vem da naturesa!...?Quanto monstro mudo, quanta lingoa presa,?Contemplando a Noite sem poder fallar!...
Ronronando ao lume, dorme o c?o e o gato.?Almas misteriosas, em que sonhar?o?...?Como que n'um dubio lusco-fusco abstracto,?De ter sido tigre lembra-se inda o gato?...?De ter sido hiena lembra-se inda o c?o?...
Eis as brasas mortas... Eil-o já converso?O castanheiro em cinza, em fumo v?o, em luz...?Luz e fumo e cinza tudo irá disperso?Reviver na vida eterna do universo,?Circulo de enigmas, que ninguem traduz...
Sempre, sempre, sempre, cinza, fumo e chama?Viver?o, morrendo a toda a hora... sempre!...?Nuvem que troveja, calix que enbalsama,?Planta, pedra, insecto, humanidade, lama,?Ser?o tudo, tudo!... inconcebivel!... Sempre!
Mas a alma, as almas quem as ha criado??Qual a origem d'onde a sua essencia emana?...?Ah, em v?o levanto o triste olhar magoado?Para os olhos d'ouro que do azul sagrado?Lan?am as estrellas á miseria humana!...
Oh em v?o!... que os astros, onde em sonho habito,?S?o tambem fogueiras sobrenaturaes,?Que na pavorosa noite do Infinito?Crepitando espalham seu clar?o bemdito,?Suas alvoradas roseas, virginaes,
Para em torno d'ellas se aquecerem mundos?A tremer com frio, a solu?ar com dor,?Miseraveis monstros cegos, vagabundos,?Atravez d'eternos turbilh?es profundos,?N'um virtiginoso, angustioso horror!...
E ardam astros d'oiro, ou ardam castanheiros,?No Infinito imenso ou n'um tugurio assim,?Fica a mesma cinza d'esses dois braseiros,?Atomos errantes, sonhos v?os, argueiros?Na inconsciencia calma da amplid?o sem fim!...
E o mundo e os mundos a girar na altura?Como vós, ó velhos, morrer?o tambem...?Blocos de materia fria, sem verdura,?Errar?o na vaga imensidade escura,?Cemiterio d'astros que nem cruzes tem!...
Dormir?o? oh, nunca!... v?o eternamente?Circular na eterna vida universal:?Nebulosa fluida, lavareda ardente,?Lodo, o mesmo lodo, como antigamente,?Com os mesmos dramas entre o Bem e o Mal!...
Formas da materia, que eu em v?o desnudo,?Que invisiveis for?as, e almas encobris??Quem o sabe? A Morte, que conhece tudo...?Mas o enigma impresso no seu labio mudo?Só na treva aos mortos é que a morte o diz!...
Só a Morte o sabe... mais a Fé que abrasa,?Que penetra as coisas com o seu olhar!?N?o ha fé na alma, n?o ha luz na casa...?A ras?o é um verme, mas a cren?a
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