por água a terra apercebido.?A gente nos batéis se concertava,?Como se fosse o engano já sabido:?Mas pode suspeitar-se facilmente,?Que o cora??o pressago nunca mente.
85?E mais também mandado tinha a terra,?De antes, pelo piloto necessário,?E foi-lhe respondido em som de guerra,?Caso do que cuidava mui contrário;?Por isto, e porque sabe quanto erra?Quem se crê de seu pérfido adversário,?Apercebido vai como podia,?Em três batéis somente que trazia.
86?Mas os Mouros que andavam pela praia,?Por lhe defender a água desejada,?Um de escudo embra?ado e de azagaia,?Outro de arco encurvado e seta ervada,?Esperam que a guerreira gente saia,?Outros muitos já postos em cilada.?E, porque o caso leve se lhe fa?a,?P?em uns poucos diante por nega?a,
87?Andam pela ribeira alva, arenosa,?Os belicosos Mouros acenando?Com a adarga e co'a hástia perigosa,?Os fortes Portugueses incitando.?N?o sofre muito a gente generosa?Andar-lhe os c?es os dentes amostrando.?Qualquer em terra salta t?o ligeiro,?Que nenhum dizer pode que é primeiro.
88?Qual no corro sanguino o ledo amante,?Vendo a formosa dama desejada,?O touro busca, e pondo-se diante,?Salta, corre, sibila, acena, e brada,?Mas o animal atroce, nesse instante,?Com a fronte cornígera inclinada,?Bramando duro corre, e os olhos cerra,?Derriba, fere e mata, e p?e por terra:
89?Eis nos batéis o fogo se levanta?Na furiosa e dura artilharia,?A plúmbea péla mata, o brado espanta,?Ferido o ar retumba e assovia:?O cora??o dos Mouros se quebranta,?O temor grande o sangue lhe resfria.?Já foge o escondido de medroso,?E morre o descoberto aventuroso.
90?N?o se contenta a gente Portuguesa,?Mas seguindo a vitória estrui e mata;?A povoa??o, sem muro e sem defesa,?Esbombardeia, acende e desbarata.?Da cavalgada ao Mouro já lhe pesa,?Que bem cuidou comprá-la mais barata;?Já blasfema da guerra, e maldizia,?O velho inerte, e a m?e que o filho cria.
91?Fugindo, a seta o Mouro vai tirando?Sem for?a, de covarde e de apressado,?A pedra, o pau, e o canto arremessando;?Dá-lhe armas o furor desatinado.?Já a ilha e todo o mais desemparando,?A terra firme foge amedrontado;?Passa e corta do mar o estreito bra?o,?Que a ilha em torno cerca, em pouco espa?o
92?Uns v?o nas almadias carregadas,?Um corta o mar a nado diligente,?Quem se afoga nas ondas encurvadas,?Quem bebe o mar, e o deita juntamente.?Arrombam as miúdas bombardadas?Os pangaios subtis da bruta gente:?Desta arte o Português enfim castiga?A vil malícia, pérfida, inimiga.
93?Tornam vitoriosos para a armada,?Co'o despojo da guerra e rica presa,?E v?o a seu prazer fazer aguada,?Sem achar resistência, nem defesa.?Ficava a Maura gente magoada,?No ódio antigo mais que nunca acesa;?E vendo sem vingan?a tanto dano,?Somente estriba no segundo engano.
94?Pazes cometer manda arrependido?O Regedor daquela iníqua terra,?Sem ser dos Lusitanos entendido,?Que em figura de paz lhe manda guerra;?Porque o piloto falso prometido,?Que toda a má ten??o no peito encerra,?Para os guiar à morte lhe mandava,?Como em sinal das pazes que tratava.
95?O Capit?o, que já lhe ent?o convinha?Tornar a seu caminho acostumado,?Que tempo concertado e ventos tinha?Para ir buscar o Indo desejado,?Recebendo o piloto, que lhe vinha,?Foi dele alegremente agasalhado;?E respondendo ao mensageiro a tento,?As velas manda dar ao largo vento.
96?Desta arte despedida a forte armada,?As ondas de Anfitrite dividia,?Das filhas de Nereu acompanhada,?Fiel, alegre e doce companhia.?O Capit?o, que n?o caía em nada?Do enganoso ardil, que o Mouro urdia,?Dele mui largamente se informava?Da índia toda, e costas que passava.
97?Mas o Mouro, instruído nos enganos?Que o malévolo Baco lhe ensinara,?De morte ou cativeiro novos danos,?Antes que à índia chegue, lhe prepara:?Dando raz?es dos portos Indianos,?Também tudo o que pede lhe declara,?Que, havendo por verdade o que dizia,?De nada a forte gente se temia.
98?E diz-lhe mais, com o falso pensamento?Com que Sinon os Frígios enganou:?Que perto está uma ilha, cujo assento?Povo antigo crist?o sempre habitou.?O Capit?o, que a tudo estava a tento,?Tanto com estas novas se alegrou,?Que com dádivas grandes lhe rogava,?Que o leve à terra onde esta gente estava.
99?O mesmo o falso Mouro determina,?Que o seguro Crist?o lhe manda e pede;?Que a ilha é possuída da malina?Gente que segue o torpe Mahamede.?Aqui o engano e morte lhe imagina,?Porque em poder e for?as muito excede?A Mo?ambique esta ilha, que se chama?Quíloa, mui conhecida pela fama.
100?Para lá se inclinava a leda frota;?Mas a Deusa em Citere celebrada,?Vendo como deixava a certa rota?Por ir buscar a morte n?o cuidada,?N?o consente que em terra t?o remota?Se perca a gente dela tanto amada.?E com ventos contrários a desvia?Donde o piloto falso a leva e guia.
101?Mas o malvado Mouro, n?o podendo?Tal determina??o levar avante,?Outra maldade iníqua cometendo,?Ainda em seu propósito constante,?Lhe diz que, pois as águas discorrendo?Os levaram por for?a por diante,?Que outra ilha tem perto, cuja gente?Eram Crist?os com Mouros juntamente.
102?Também nestas palavras lhe mentia,?Como por regimento enfim levava,?Que aqui gente de Cristo n?o havia,?Mas a que a Mahamede celebrava.?O Capit?o, que em tudo o Mouro cria,?Virando as velas, a ilha demandava;?Mas, n?o querendo a Deusa guardadora,?N?o entra pela barra, e surge fora.
103?Estava a ilha à terra t?o chegada,?Que um estreito pequeno a dividia;?Uma cidade nela situada,?Que na fronte do mar aparecia,?De nobres edifícios
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