nem da gera??o?Das gentes enojosas de Turquia:?Mas sou da forte Europa belicosa,?Busco as terras da índia t?o famosa.
65?A lei tenho daquele, a cujo império?Obedece o visíbil e ínvisíbil?Aquele que criou todo o Hemisfério,?Tudo o que sente, o todo o insensíbil;?Que padeceu desonra e vitupério,?Sofrendo morte injusta e insofríbil,?E que do Céu à Terra, enfim desceu,?Por subir os mortais da Terra ao Céu.
66?Deste Deus-Homem, alto e infinito,?Os livros, que tu pedes n?o trazia,?Que bem posso escusar trazer escrito?Em papel o que na alma andar devia.?Se as armas queres ver, como tens dito,?Cumprido esse desejo te seria;?Como amigo as verás; porque eu me obrigo,?Que nunca as queiras ver como inimigo."
67?Isto dizendo, manda os diligentes?Ministros amostrar as armaduras:?Vêm arneses, e peitos reluzentes,?Malhas finas, e laminas seguras,?Escudos de pinturas diferentes,?Pelouros, espingardas de a?o puras,?Arcos, e sagitíferas aljavas,?Partazanas agudas, chu?as bravas:
68?As bombas vêm de fogo, e juntamente?As panelas sulfúreas, t?o danosas;?Porém aos de Vulcano n?o consente?Que dêem fogo às bombardas temerosas;?Porque o generoso animo e valente,?Entre gentes t?o poucas e medrosas,?N?o mostra quanto pode, e com raz?o,?Que é fraqueza entre ovelhas ser le?o.
69?Porém disto, que o Mouro aqui notou,?E de tudo o que viu com olho atento?Um ódio certo na alma lhe ficou,?Uma vontade má de pensamento.?Nas mostras e no gesto o n?o mostrou;?Mas com risonho e ledo fingimento?Tratá-los brandamente determina,?Até que mostrar possa o que imagina.
70?Pilotos lhe pedia o Capit?o,?Por quem pudesse à índia ser levado;?Diz-lhe que o largo prémio levar?o?Do trabalho que nisso for tomado.?Promete-lhos o Mouro, com ten??o?De peito venenoso, e t?o danado,?Que a morte, se pudesse, neste dia,?Em lugar de pilotos lhe daria.
71?Tamanho o ódio foi, e a má vontade,?Que aos estrangeiros súbito tomou,?Sabendo ser sequazes da verdade,?Que o Filho de David nos ensinou.?ó segredos daquela Eternidade,?A quem juízo algum nunca alcan?ou!?Que nunca falte um pérfido inimigo?Aqueles de quem foste tanto amigo!
72?Partiu-se Disto enfim coa companhia,?Das naus o falso Mouro despedido,?Com enganosa e grande cortesia,?Com gesto ledo a todos, e fingido.?Cortaram os batéis a curta via?Das águas de Neptuno, e recebido?Na terra do obsequente ajuntamento?Se foi o Mouro ao cógnito aposento.
73?Do claro assento etóreo o gr?o Tebano,?Que da paternal coxa foi nascido,?Olhando o ajuntamento Lusitano?Ao Mouro ser molesto e avorrecido,?No pensamento cuida um falso engano,?Com que seja de todo destruído.?E enquanto isto só na alma imaginava,?Consigo estas palavras praticava:
74?"Está do fado já determinado,?Que tamanhas vitórias, t?o famosas,?Hajam os Portugueses alcan?ado?Das Indianas gentes belicosas.?E eu só, filho do Padre sublimado,?Com tantas qualidades generosas,?Hei de sofrer que o fado favore?a?Outrem, por quem meu nome se escure?a?
75?"Já quiseram os Deuses que tivesse?O filho de Filipo nesta parte?Tanto poder, que tudo submetesse?Debaixo de seu jugo o fero Marte.?Mas há-se de sofrer que o fado desse?A t?o poucos tamanho esfor?o e arte,?Que eu co'o gr?o Macedónio, e o Romano,?Demos lugar ao nome Lusitano?
76?"N?o será assim, porque antes que chegado?Seja este Capit?o, astutamente?Lhe será tanto engano fabricados?Que nunca veja as partes do Oriente.?Eu descerei à Terra, e o indignado?Peito revolverei da Maura gente;?Porque sempre por via irá direita?Quem do oportuno tempo se aproveita."
77?Isto dizendo, irado e quase insano,?Sobre a terra africana descendeu,?Onde vestindo a forma e gesto humano,?Para o Prasso sabido se moveu.?E por melhor tecer o astuto engano,?No gesto natural se converteu?Dum Mouro, em Mo?ambique conhecido?Velho, sábio, e co'o Xeque mui valido.
78?E entrando assim a falar-lhe a tempo e horas?A sua falsidade acomodadas,?Lhe diz como eram gentes roubadoras,?Estas que ora de novo s?o chegadas;?Que das na??es na costa moradoras?Correndo a fama veio que roubadas?Foram por estes homens que passavam,?Que com pactos de paz sempre ancoravam.
79?E sabe mais, lhe diz, como entendido?Tenho destes crist?os sanguinolentos,?Que quase todo o mar têm destruído?Com roubos, com incêndios violentos;?E trazem já de longe engano urdido?Contra nós; e que todos seus intentos?S?o para nos matarem e roubarem,?E mulheres e filhos cativarem.
80?"E também sei que tem determinado?De vir por água a terra muito cedo?O Capit?o dos seus acompanhado,?Que da tens?o danada nasce o medo.?Tu deves de ir também co'os teus armado?Esperá-lo em cilada, oculto e quedo;?Porque, saindo a gente descuidada,?Cair?o facilmente na cilada.
81?"E se inda n?o ficarem deste jeito?Destruídos, ou mortos totalmente?Eu tenho imaginado no conceito?Outra manha e ardil, que te contente:?Manda-lhe dar piloto, que de jeito?Seja astuto no engano, e t?o prudente,?Que os leve aonde sejam destruídos,?Desbaratados, mortos, ou perdidos."
82?Tanto que estas palavras acabou,?O Mouro, nos tais casos sábio e velho,?Os bra?os pelo colo lhe lan?ou,?Agradecendo muito o tal conselho;?E logo nesse instante concertou?Para a guerra o belígero aparelho,?Para que ao Português se lhe tornasse?Em roxo sangue a água, que buscasse.
83?E busca mais, para o cuidado engano,?Mouro, que por piloto à nau lhe mande,?Sagaz, astuto, e sábio em todo o dano,?De quem fiar-se possa um feito grande.?Diz-lhe que acompanhando o Lusitano,?Por tais costas e mares com ele ande,?Que, se daqui escapar, que lá diante?Vá cair onde nunca se alevante.
84?Já o raio Apolíneo visitava?Os montes Nabatêos acendido,?Quando o Gama, colos seus determinava?De vir
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