companhia?Uns pequenos batéis, que vêm daquela?Que mais chegada à terra parecia,?Cortando o longo mar com larga vela.?A gente se alvoro?a, e de alegria?N?o sabe mais que olhar a causa dela.?Que gente será esta, em si diziam,?Que costumes, que Lei, que Rei teriam?
46?As embarca??es eram, na maneira,?Mui veloces, estreitas e compridas:?As velas, com que, vêm, eram de esteira?Dumas folhas de palma, bem tecidas;?A gente da cor era verdadeira,?Que Faeton, nas terras acendidas,?Ao mundo deu, de ousado, o n?o prudente:?O Pado o sabe, o Lampetusa o sente.
47?De panos de algod?o vinham vestidos,?De várias cores, brancos e listrados:?Uns trazem derredor de si cingidos,?Outros em modo airoso sobra?ados:?Da cinta para cima vêm despidos;?Por armas têm adargas o ter?ados;?Com toucas na cabe?a; e navegando,?Anafis sonoros v?o tocando.
48?Co'os panos e co'os bra?os acenavam?As gentes Lusitanas, que esperassem;?Mas já as proas ligeiras se inclinavam?Para que junto às ilhas amainassem.?A ,ente e marinheiros trabalhavam,?Como se aqui os trabalhos se acabassem;?Tomam velas; amaina-se a verga alta;?Da ancora, o mar ferido, em cima salta.
49?N?o eram ancorados, quando a gente?Estranha pelas cordas já subia.?No gesto ledos vêm, e humanamente?O Capit?o sublime os recebia:?As mesas manda p?r em continente;?Do licor que Lieo prantado havia?Enchem vasos de vidro, e do que deitam,?Os de Faeton queimados nada enjeitam.
50?Comendo alegremente perguntavam,?Pela Arábica língua, donde vinham,?Quem eram, de que terra, que buscavam,?Ou que partes do mar corrido tinham??Os fortes Lusitanos lhe tornavam?As discretas respostas, que convinham:?"Os Portugueses somos do Ocidente,?Imos buscando as terras do Oriente.
51?"Do mar temos corrido e navegado?Toda a parte do Antártico e Calisto,?Toda a costa Africana rodeado,?Diversos céus e terras temos visto;?Dum Rei potente somos, t?o amado,?T?o querido de todos, e benquisto,?Que n?o no largo mar, com leda fronte,?Mas no lago entraremos de Aqueronte.
52?"E por mandado seu, buscando andamos?A terra Oriental que o Indo rega;?Por ele, o mar remoto navegamos,?Que só dos feios focas se navega.?Mas já raz?o parece que saibamos,?Se entre vós a verdade n?o se nega,?Quem sois, que terra é esta que habitais,?Ou se tendes da índia alguns sinais?"
53?"Somos, um dos das ilhas lhe tornou,?Estrangeiros na terra, Lei e na??o;?Que os próprios s?o aqueles, que criou?A natura sem Lei e sem raz?o.?Nós temos a Lei certa, que ensinou?O claro descendente de Abra?o?Que agora tem do mundo o senhorio,?A m?e Hebréia teve, e o pai Gentio.?Informa??es. A Ilha de Mo?ambique.
54?"Esta ilha pequena, que habitamos,?em toda esta terra certa escala?De todos os que as ondas navegamos?De Quíloa, de Momba?a e de Sofala;?E, por ser necessária, procuramos,?Como próprios da terra, de habitá-la;?E por que tudo enfim vos notifique,?Chama-se a pequena ilha Mo?ambique.
55?"E já que de t?o longe navegais,?Buscando o Indo Idaspe e terra ardente,?Piloto aqui tereis, por quem sejais?Guiados pelas ondas sabiamente.?Também será bem feito que tenhais?Da terra algum refresco, e que o Regente?Que esta terra governa, que vos veja,?E do mais necessário vos proveja."
56?Isto dizendo, o Mouro se tornou?A seus batéis com toda a companhia;?Do Capit?o e gente se apartou?Com mostras de devida cortesia.?Nisto Febo nas águas encerrou,?Co'o carro de cristal, o claro dia,?Dando cargo à irm?, que alumiasse?O largo mundo, enquanto repousasse.
57?A noite se passou na lassa frota?Com estranha alegria, e n?o cuidada,?Por acharem da terra t?o remota?Nova de tanto tempo desejada.?Qualquer ent?o consigo cuida e nota?Na gente e na maneira desusada,?E como os que na errada Seita creram,?Tanto por todo o mundo se estenderam,
58?Da Lua os claros raios rutilavam?Pelas argênteas ondas Neptuninas,?As estrelas os Céus acompanhavam,?Qual campo revestido de boninas;?Os furiosos ventos repousavam?Pelas covas escuras peregrinas;?Porém da armada a gente vigiava,?Como por longo tempo costumava.
59?Mas assim como a Aurora marchetada?Os formosos cabelos espalhou?No Céu sereno, abrindo a roxa entrada?Ao claro Hiperiónio, que acordou,?Come?a a embandeirar-se toda a armada,?E de toldos alegres se adornou,?Por receber com festas e alegria?O Regedor das ilhas, que partia.
60?Partia alegremente navegando,?A ver as naus ligeiras Lusitanas,?Com refresco da terra, em si cuidando?Que s?o aquelas gentes inumanas,?Que, os aposentos cáspios habitando,?A conquistar as terras Asianas?Vieram; e por ordem do Destino,?O Império tomaram a Constantino.
61?Recebe o Capit?o alegremente?O Mouro, e toda a sua companhia;?Dá-lhe de ricas pe?as um presente,?Que só para este efeito já trazia;?Dá-lhe conserva doce, e dá-lhe o ardente?N?o usado licor, que dá alegria.?Tudo o Mouro contente bem recebe;?E muito mais contente come e bebe.
62?Está a gente marítima de Luso?Subida pela enxárcia, de admirada,?Notando o estrangeiro modo e uso,?E a linguagem t?o bárbara e enleada.?Também o Mouro astuto está confuso,?Olhando a cor, o trajo, e a forte armada;?E perguntando tudo, lhe dizia?"Se por ventura vinham de Turquia?"
63?E mais lhe diz também, que ver deseja?Os livros de sua Lei, preceito eu fé,?Para ver se conforme à sua seja,?Ou se s?o dos de Cristo, como Crê.?E porque tudo note e tudo veja,?Ao Capit?o pedia que lhe dê?Mostra das fortes armas de que usavam,?Quando co'os inimigos pelejavam.
64?Responde o valeroso Capit?o?Por um, que a língua escura bem sabia:?"Dar-te-ei, Senhor ilustre, rela??o?De mim, da Lei, das armas que trazia.?Nem sou da terra,
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