aos povos, quando mais n?o fosse, ao menos para interromper a monotonia das que diariamente diz aos reis. A imprensa que vive da publicidade, da publicidade que se estriba na bolsa do povo, praticaria um acto de devo??o mais corajosa, falando severamente aos seus naturaes patronos, do que dirigindo-se aos principes, de quem ella depende incomparavelmente menos para existir e prosperar.
Por isso nós a convidariamos para que, sem distinc??o de partidos, sem lhe importar com a diversidade da sua miss?o politica ou litteraria, aproveitasse o ensejo de temores que assaltam geralmente os animos, para insinuar n'estes importantes verdades.
A natureza do flagello que nos opprime, as observa??es que fizemos n'uma pequena excurs?o para o lado de Cintra, nos suscitaram estas reflex?es, a que esperamos associem outras de mais valor as pessoas competentes. Posto que dominados por uma viva affei??o á agricultura, a essa rainha das industrias, somos apenas curiosos n'esta materia. Ha, porém, uma certa somma de verdades iniciaes na sciencia que est?o ao alcance de todos os que as buscam, seja como estudo, seja como curiosidade.
Portugal tem uma agricultura incompleta. Se exceptuarmos o Minho, podemos dizer que o producto do nosso sólo é exclusivamente representado pelos cereaes, pelo vinho e pelo azeite. Por importantes, comtudo, que sejam os dous ultimos, o principal é, como em todos os paizes, o dos cereaes.
Mas é doutrina incontestavel que para a cultura d'estes poder prosperar é necessaria a copia de estrumes; que para haver copia d'estes é necessario gado; que este n?o existe, ou tem uma existencia precaria onde n?o ha pastagens, e estas s?o sempre miseraveis e insufficientes n'um paiz onde a intensidade, digamos assim, do systema agricola n?o é proporcional á sua _extens?o_; onde a arte n?o ajuda energicamente a natureza a supprir a alimenta??o dos animaes.
Portugal n?o tem crea??es de gado: queremos dizer, n?o tem n'este ramo de industria rural sen?o o restrictamente necessario para a lavoura, pelo que respeita a gado grosso; e o seu gado lanigero é pouco numeroso, imperfeito, e rareado annualmente pelos resultados de um tractamento quasi selvagem. Porque? Porque ainda n?o adoptámos a doutrina fundamental de toda a agricultura judiciosa, a crea??o dos animaes n'uma larga escala, nem buscámos ainda os meios para isso adequados.
As nossas terras mais ferteis produzem de 10 a 15 sementes, e a produc??o das mediocres é entre 5 e 8. Tendo a cultura adquirido uma grande _extens?o_, com esta produc??o acanhada o lavrador acha-se collocado entre dous extremos deploraveis. Se o anno é mau, a limitada propor??o entre a semente e o producto torna-se ainda mais restricta, e embora suba o pre?o do genero, o fabrico absorve quasi a colheita: se o anno é propicio, a barateza no mercado vem a inutilisar a abundancia, e o cultivador fica sempre miseravel.
A imperfei??o das machinas e dos methodos, o pessimo systema, ou antes a nega??o de systema nas rota??es, e varias outras causas, contribuem para este estado violento; mas a causa principal é a despropor??o enorme na distribui??o do solo: o homem crê fazer para si a parte do le?o, e engana-se. Espoliando os animaes que o ajudam nas suas laboriosas tarefas, os animaes que o vestem ou lhe fertilisam os campos, do quinh?o que lhes cabe nos fructos d'estes, torna-se desgra?ado a si no meio de uma abundancia mais apparente que real.
Na Inglaterra, o paiz modelo da agricultura, os productos de um ter?o, pelo menos, da terra cultivada pertencem aos animaes domesticos. Nós talvez n?o lhes reservamos um centesimo. O erro n'esta parte produz uma infinidade de factos, que principalmente determinam a falta de progresso _d'intensidade_ na agricultura nacional.
Um anno pouco favoravel, como o que vae correndo, descobre logo por diversos modos a nossa situa??o deploravel.
De que ouvimos principalmente queixar os agricultores, quando os interrogamos sobre os fataes effeitos d'este estio inesperado, que veio pesar sobre nós no cora??o do inverno? De que esse pouco gado que possuem morrerá á fome. Porque? Porque o lavrador p?e quasi exclusivamente as suas esperan?as nas hervagens espontaneas; entrega á Providencia o cuidado dos seus bois e das suas ovelhas. Esta confian?a nem é prudente, nem religiosa. Deus n?o deu inutilmente ao homem a faculdade de reflectir, nem os bra?os para o trabalho. A protec??o da Providencia n?o vae até o ponto de supprir o desprezo da nossa actividade intellectual e material.
Perdemos os poucos gados, que possuimos, quando o inverno é secco; perdemol-os se é excessivamente chuvoso. Pode-se dizer que este facto pinta e resume o estado do nosso progresso agricola.
Que preven??es faz em geral o cultivador para obviar a qualquer d'eslas hypotheses terriveis, t?o faceis de verificar-se, principalmente a segunda? Nenhumas. Onde est?o os fenos devidamente colhidos e reservados, onde as raizes das plantas chenopodeas e cruciferas, onde os prados artificiaes, regados pelos ribeiros, onde, emfim, todos esses recursos, de que o agricultor dos paizes
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