centraes e do norte lan?a m?o para resistir ás incertezas das esta??es?
O lavrador cultivou cereaes, muitos cereaes, e repousou, pelo que tocava ao seu gado; nos dons espontaneos do inverno. O inverno negou-os. Resta pedir a Deus que reduza á regularidade as varia??es atmosphericas, varia??es incertas só para nós, e dependentes de leis naturaes, que porventura os progressos da meteorologia vir?o ainda revelar-nos, e que n?o cremos se hajam de alterar a favor da nossa imprevidencia.
Sabemos o que se costuma responder a isto: ?Esses fenos, esses prados, essas raizes fusiformes, que constituem uma alimenta??o abundante para os animaes, s?o possiveis nos paizes humidos do norte. O nosso clima adusto torna impossivel a applica??o de um systema analogo.?
Seria longo, mas pouco difficil, mostrar sob todos os aspectos o sophistico d'este argumento; mostral-o por factos. Impressionados pelo que, com tristeza, acabamos de ver n'um tracto de terra de cinco leguas, limitar-nos-hemos a algumas considera??es especiaes.
E primeiro que tudo, com que direito se invoca, para defender a incuria agricola, falta de humidade no nosso clima, quando deixamos correr annualmente para o mar milh?es de pipas d'agua pelos grandes rios e por centenares de regatos, que podiam, muitas vezes com leve trabalho, fertilisar os campos visinhos e alimentar prados, cuja produc??o excederia quanto a cultura dos paizes do norte offerece, n'este género, mais admiravel?
Depois, que meios se empregam para temperar pela arte os effeitos da nossa situa??o meridional? Os habitos adversos a esses meios s?o os que dominam entre a popula??o campestre. é sabido que as arvores, ainda nas noites mais seccas do estio, attrahem á terra uma grande por??o de humidade. A que deve o Minho a frescura dos seus valles, os enormes productos do seu solo, que n?o soffre compara??o com as nossas terras fortes da Estremadura? A uma arborisa??o admiravel. O homem do sul tem odio, litteralmente odio, n?o só ás selvas, mas até á arvore solitaria, que pode assombrar-lhe algumas pavêas de cereaes, porque os cereaes s?o o idolo que resume todos os seus affectos, embora a cruel experiencia lhe venha provar, nos annos desfavoraveis á cultura das gramineas, que o seu systema acanhado e exclusivo conduz facilmente á miseria e à perdi??o.
Este ódio às mattas e arvoredos tem-se tornado n'uma especie de contagio, que vae lavrando e amea?a as provincias septentrionaes. A Beira ha muito que come?ou a ser despojada dos seus magnificos bosques, que por partes a tornavam rival do Minho. Os effeitos, porém, do destro?o insensato dos grandes vegetaes sentem-se principalmente na Estremadura, e sobretudo n'este tracto de terra entre dous mares, onde se acha situada a capital. Os vapores, que as arvores, povoando os cimos dos montes, attrahiriam para os valles, n?o descem á terra: os ventos do norte, precipitando-se livres dos visos calvos das collinas, fustigam as encostas do sul, remoinham nas planicies, e n?o consentem sequer que o orvalho console á noite a vegeta??o devorada pelo sol do meio-dia. Na verdade, a aridez dos campos na esta??o estival pouco importa ao cultivador exclusivo de cereaes; mas quando causas desconhecidas impedem, durante o inverno, o curso dos ventos chuvosos, quando o ver?o vem substituir-se ao inverno, n?o sabemos se como castigo se como advertencia, ent?o elle maldiz essas torrentes de ventania, que produzem mais seccura em vinte e quatro horas do que tres dias de sol ardente. Maldil-as, sem se lembrar ou sem saber, que seus paes e elle proprio contribuiram para a existencia de similhante flagello pela destrui??o das mattas, ou, quando menos, pelo descuido no plantio d'ellas.
O ciume cego com que a menor leira de terra aravel é disputada aos arvoredos, por causa do predominio exclusivo dos cereaes, explica indirectamente esse furor com que s?o perseguidas as arvores, até nos sitios mais inferteis; com que se lhes disputa a vida até por entre as penedias das serras. Como a cultura das forragens é insignificante, e enormemente desproporcionada á dos cereaes; como o céu está encarregado, pelo commum dos agricultores, de prover á sustenta??o dos gados, o baldio é o segundo artigo do credo agricola d'elles. Os pastos communs s?o a cidadella da inercia e o theatro reservado pela ignorancia ás maravilhas da Providencia. Todas as desvantagens de conservar incultos terrenos que poderiam servir ao homem se adoptassemos um systema mixto, ou se attendessemos ás indica??es da sciencia e á natureza do nosso clima, para promovermos a arborisa??o nos logares accommodados para ella, n?o s?o comparaveis ao delicioso espectaculo de ver retou?ar meia duzia de ovelhas, vaccas, e bois hecticos, nas gandras bravias, quando, n'um systema de cultura judicioso, conservariamos gordos e anafados dobrado numero de animaes, unicamente com a produc??o da nossa propriedade particular, _sem que deixassemos de colher n'esta a mesma quantidade de trigo_, que nos produz o deploravel methodo da cultura exclusiva.
A existencia dos baldios municipaes, dos pastos communs, é um
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