Opúsculos por Alexandre Herculano - Tomo VII | Page 6

Alexandre Herculano
onde o methodo da transplanta??o produziu magnificos resultados. Cada pé de luzerna lan?ando em roda os seus muitos rebent?es ou filhos, fórma uma especie de mouta robusta, que produz em cada córte muito maior por??o de pasto do que produziria uma superficie egual á que occupa, semeada de luzerna que n?o fosse transplantada.
O incremento que estes prados podem ter n'aquelles, d'antes t?o pobres e tristes, hoje t?o ricos e risonhos terrenos, é d'extrema importancia. Duas enormes lag?as, uma das quaes é constantemente refrescada e supprida por uma pequena veia d'agua perenne, foram limpas e vedadas construindo-se canos subterraneos por onde se hajam de sangrar convenientemente. Estas lag?as, collocadas em certa altura, podem regar um valle extensissimo, optimo para o augmento de prados.
A silvicultura, essa parte t?o interessante e t?o bella da sciencia de agricultar, tem em Mafra um terrivel inimigo--o noroeste. Este vento sopra ahi com violencia extraordinaria. Alguma arvore silvestre, que vivia solitaria no meio d'aquelles mattos rasteiros, vergada para sueste na altura das arrancas, estende rachytica os seus ramos a?outados pelas ventanias quasi parallelos com a terra. Estabeleceu-se porém um systema d'abrigos, que deve dentro d'alguns annos tornar n?o só possivel, mas até facil, a propaga??o de arvores de floresta e de fructo. Os pinheirinhos bravos (_pinus maritima_) cobrem já os cabe?os escalvados que se alevantam por meio das chapadas, encostas, e valles, e os castanheiros, carvalhos, e azinheiros bordam os caminhos: estes bosques, quando crescidos, annullar?o em grande parte a violencia dos ventos, e ent?o será possivel o plantio de outras arvores silvestres e fructiferas, principalmente das oliveiras, de que já se v?o preparando extensos e bem ordenados viveiros.
Uma considera??o que occorre naturalmente ao imaginar similhante extens?o de cultura, é a dos adubos, e a do modo de os fazer progressivamente augmentar. ácerca d'este ponto capitalissimo, daremos brevemente curiosas e interessantes noticias, em um artigo especial. Ent?o teremos occasi?o de falar dos differentes methodos de amanhar as terras, que progressivamente se v?o introduzindo na granja de Mafra.
Os instrumentos aratorios e mais machinas do servi?o agricola s?o construidos no mesmo estabelecimento em officina para isso principalmente deputada. Ahi se encontra a charrua ingleza, a arave?a grande de uma aivéca, a pequena de duas, o semeador, as grades triangulares e de diversos feitios, o trilho de debulhar, o engenho de tra?ar cevada, carros inglezes, etc., alem dos instrumentos proprios do paiz construidos com perfei??o.
Tal é o rapido quadro da transforma??o que apresenta uma parte d'esses maninhos inuteis da tapada de Mafra. Importante em si, similhante transforma??o muito mais o tem sido pela influencia que o exemplo produz n'aquelles arredores: o agricultor, que por assim dizer palpa as vantagens que resultam de um systema illustrado de agricultar, vae abandonando as suas grosseiras usan?as, que todos os discursos dos livros n?o alcan?ariam estirpar. Mafra está sendo um fóco de luz, uma fonte de progresso agricola. Entre os beneficios que tem produzido este é porventura o maior. Aquella vasta granja, se proporciona a muitos abastan?a, o alimento para o corpo, offerece a muitos mais as revela??es da sciencia--o alimento para o espirito.
O edificio ahi está mendigo, abandonado, canceroso já, e inutil, ao lado da granja cheia de vi?o, rica, generosa, e aben?oada d'esperan?as. S?o dous monumentos de dous seculos diversos, ambos obras de Reis. Que a philosophia julgue um e outro, e julgue tambem as vontades e as intelligencias que fizeram surgir um e outro.

BREVES REFLEX?ES SOBRE ALGUNS PONTOS DE ECONOMIA AGRICOLA
1849

Ajuda, 8 de mar?o de 1849
Circumstancias meteorolOgicas extraordinarias amea?am o nosso bello paiz de uma colheita nulla. Perto de trez mezes de aridez, na epocha do anno em que as chuvas s?o mais necessarias, têm quasi destruido as esperan?as dos agricultores. Um mez mais que dure esta situa??o, e o mal tornar-se-ha intensissimo e, em grande parte, irremediavel.
Os espiritos fracos contentam-se com blasphemar ou carpir-se. Isto é cobardia. Muitos voltam-se para Deus e imploram a Providencia. Isto é respeitavel. Outros pensam nos alvitres para occorrer á miseria e á fome, que pode vir a pesar sobre a popula??o menos abastada. Isto é generoso e nobre. Mas aquillo em que poucos pensam é em converter esta situa??o assustadora n'uma li??o salutar; em deduzir do mal presente proveito para o futuro.
O nosso povo actual é um pouco similhante a seus avós, os marinheiros do seculo XVI, que affrontavam as procellas dos mares da India e da America. Rudes e feros na bonan?a, voltavam-se para o céu quando a tempestade amea?ava submergil-os. Era d'aquelles trances que os sacerdotes, seus companheiros de riscos e aventuras, se aproveitavam para os revocar ás sanctas doutrinas da fé, e era ordinariamente ent?o que n'essas almas rudes achavam accesso o arrependimento e as verdades da religi?o.
Desejariamos que a imprensa fosse tambem um pouco similhante aos bons missionarios do seculo XVI; que nos dias da angustia dissesse algumas verdades duras
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