servido para a composi??o da sua.?
é Ruy de Pina de todos os nossos antigos chronistas o de que nos restam maior numero de chronicas. Escreveu elle a de D. Sancho I, D. Affonso II, D. Sancho II, D. Affonso III, D. Diniz, D. Affonso IV, D. Duarte, D. Affonso V e D. Jo?o II. As duas ultimas s?o sem duvida escriptas originalmente por elle. Na de D. Duarte, segundo parece a Dami?o de Goes, o substancial da historia é de Fern?o Lopes; o que é relativo á expedi??o de Tangere, de Gomes Eannes de Azurara; e de Ruy de Pina apenas a coordena??o d'esses diversos trabalhos. Quanto ás da primeira dynastia, quer o mesmo Goes (e esta opini?o prevalece hoje) que n?o sejam mais que uma recopila??o ou resumo do primeiro volume das chronicas de Fern?o Lopes, que existia em poder de um tal Fern?o de Novaes, e que D. Jo?o II mandou fosse entregue a Ruy de Pina. Impossivel parece hoje averiguar até a certeza esta opini?o; porque esse volume de Lopes ou se perdeu, ou foi aniquilado por Pina, que, ambicioso de pouco suada gloria, quiz, pobre corvo de D. Jo?o II, adornar-se com as brilhantes pennas de pav?o do Homero de D. Jo?o I.
Segundo o testemunho de Jo?o de Barros, Ruy de Pina foi uma potencia litteraria no seu tempo. O historiador da India refere que o grande Affonso de Albuquerque tivera a fraqueza de enviar joias a Ruy de Pina, para que se n?o esquecesse d'elle na sua historia. Aquella cujo nome devia encher o mundo n?o teve a consciencia de que era o maior capit?o do seculo, é creu que a sua immortalidade dependia de um chronista obscuro! Triste documento de que os genios mais portentosos est?o como os homens ordinarios sujeitos às mais ridiculas fraquezas.
O abbade Corrêa da Serra p?e Ruy de Pina acima dos chronistas que o precederam. é talvez o juizo litterario mais injusto que se tem pronunciado na republica das letras. Que elle exceda Azurara n?o o contestaremos nós; mas que seja anteposto a Fern?o Lopes é no que n?o podemos consentir: as narra??es de Ruy de Pina, postoque superiores ás de Gomes Eannes, est?o mui longe da vida e c?r local que se encontra nos escriptos do patriarcha dos chronistas portuguezes.
Parece que os fados de Ruy de Pina eram ganhar nome e celebridade á custa do trabalho alheio: ajudou elle o seu destino em quanto vivo; ajudaram-lh'o outros depois de morto. Em 1608 publicou-se em Lisboa um volume em 8.^o com o titulo de _Compendio das grandezas e cousas notaveis d'entre Douro e Minho_, obra que no frontispicio é attribuida a Ruy de Pina. Este livro, porém, nada mais é do que o que compoz mestre Antonio, fisiquo e solorgiam, natural de Guimar?es, e que em antigos codices anda juncto ás chronicas de Ruy de Pina, bastando ler uma pagina d'elle para nos convencermos de que é escripto em um periodo da lingua anterior á epocha d'este chronista, e que elle talvez n?o fez mais que copial-o, com intento de lhe chamar seu, podendo-se-lhe applicar aquelle distico francez:
Pour tout esprit que le bon homme avait, Il compilait, compilait, compilait.
IV
*Garcia de Rezende*
Com os come?os do reinado de D. Manuel os horizontes da nossa litteratura estenderam-se consideravelmente. Era a epocha do esplendor nacional e, ao passo que as nossas conquistas e poderio se dilatavam, dilatavam-se tambem os progressos litterarios dos portuguezes. A imprensa tinha produzido o magnifico livro da Vita-Christi, e com isso dava mostra de que Portugal possuia, esse motor maravilhoso que devia conduzir a Europa com passos agigantados pela estrada da civilisa??o e do progresso. N'este reinado de gloria e de predominio--mas de uma gloria differente da antiga e de um predominio que assentava sobre base t?o incerta como eram os milh?es de ondas do oceano em que elle se estribava--proseguiu em maior escala o triste systema de D. Jo?o II de substituir a agricultura pelo commercio, como fonte principal da riqueza publica. Era ent?o que a monarchia, aniquilando os derradeiros restos da sociedade feudal nas Ordena??es Manuelinas, e assentando-se na larga e firme base do direito romano, realisava e completava, por um lado o pensamento politico, por outro o pensamento economico do manhoso filho do nosso ultimo rei cavalleiro. As palavras _e da conquista, navega??o e commercio da Ethiopia_, etc., que D. Manuel accrescentava ao dictado de senhor de Guiné, que D. Jo?o para si tomara, eram a express?o mais simples e mais exacta da idêa commercial e monarchica, isto é, de que o commercio obtido por meio das conquistas e navega??es pertencia ao senhorio real, e a historia dos ciumes de D. Jo?o II e do seu successor sobre os novos descobrimentos confirma a nossa opini?o. Assim o estado se confundia ou, antes, se incorporava na cor?a, e
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