Opúsculos por Alexandre Herculano - Tomo 08 | Page 6

Alexandre Herculano
em separado ao passo que a publicação seguia no jornal,
suspendendo-se uma e outra cousa por ter cessado a remessa do
manuscripto. Quanto ao outro trabalho, já depois de o percorrer e
corrigir quasi todo retrocedeu o Auctor com o provavel intuito de o
limitar em certas explanações e vehemencias de linguagem onde a
materia controvertida não soffresse com isso. Assim o fazem crêr traços
em cheio passados sobre logares seguidos que rematam o capitulo I,
indicando que esses logares seriam supprimidos ou modificados e o
capitulo arredondado por outra fórma. Mas estes novos preparativos
não tiveram seguimento, e por isso nos limitámos a introduzir em
ambos os estudos as emendas explicitamente marcadas pelo Auctor,
apontando em notas paginaes até onde chegou a revisão completa de
um delles e do outro os logares marcados para córte ou remodelação.
Razões plausiveis nos levaram, porém, a resumir em nota, que
opportunamente será indicada, dous documentos--o projecto de
restauração do collegio dos nobres e o respectivo parecer da commissão
de instrucção pública, que o Auctor ajunctara ao seu opusculo como
provas. Por meio della se fará clara idéa do theor e argumentos de taes
provas em tudo que possam aproveitar ao assumpto de que tractam, ao
passo que evitamos que, num livro destinado como todos os do Auctor,
a perduravel existencia, se notem repetições a que a reproducção

completa dos dous documentos teria de conduzir. A consciencia nos diz
que o Auctor procederia de modo análogo, salva a perfeição com que o
fizesse.
Se o desejo de recordar um período menos conhecido da vida de A.
Henulano nos levou a alongar esta advertencia, um dever imperioso que
não pudémos cumprir no tomo anterior, nos obriga a annexar-lhe mais
algumas páginas. Estavam já impressas as primeiras folhas desse tomo
quando em 31 de janeiro de 1898, falleceu o illustre academico e antigo
official maior do archivo da Torre do Tombo João Pedro da Costa
Basto, dirigente desta publicação por morte do Auctor. Interpretando
disposições de última vontade de A. Herculano, haviam tractado os
seus dous testamenteiros, legatarios de seus manuscriptos e artigos
avulsos, de colligir uns e outros destes elementos para serem
incorporados em livros, como se advertiu no tomo IV e o testamento
auctorisava. Entre ambos se dividiram os diversos trabalhos a
emprehender, cabendo ao fallecido, como era proprio das suas luzes,
além dos repartidos em commum, os de maior ponderação, incluindo a
superintendencia na organisação de novos livros, tomos de opusculos
na sua maioria e a revisão de provas. Igualmente tomou elle sobre si
rever as reimpressões de todas as demais obras de A. Herculano,
reimpressões que de anno para anno foram progressivamente
augmentando como até agora tem succedido, e lhe absorviam largas
horas de escrupulosa attenção. E tão singular desvelo punha nestes
trabalhos que, não raro, folheava importantes obras ou recorria aos
pergaminhos para verificar nos livros de historia citações e datas que
acaso pudessem ter sido alteradas em anteriores edições. Com grande
mágua sua deixou apenas de rever a 5.^a edição, impressa em 1888, do
tomo II da Historia de Portugal, cujas provas não lhe foram enviadas e
o typo foi alterado, porque o então proprietario da primitiva casa
editora, ignorava os compromissos que a tal respeito existiam.
Cumpria-nos, pois, registar nestas páginas a data em que cessaram para
a memoria do illustre academico as responsabilidades inherentes a estes
encargos, e desde a qual toda a benevolencia pública se tornou
imprescindivel em favor de quem, por dever, tem de proseguir nelles
como quer que lhe seja possivel. Cumpria-nos tambem dar aqui

testemunho como singelamente damos, da devoção, e da competencia
até onde por intuição natural pudémos apreciá-la, com que o fallecido
zelava as glorias do que fòra seu grande mestre e amigo. E neste ponto
ajunctaremos mais um facto que harmonisa com os expostos
realçando-lhes o valor.
Por motivos de dignidade pessoal se despedira A. Herculano em 1873
de director da importante publicação academica--Portugaliae
Monumenta Historica. Conversando então particularmente ácerca do
futuro desta publicação dizia elle que João Pedro da Costa Basto
poderia continuá-la ao menos até determinado fascículo. Alguns annos
depois da morte de A. Herculano tambem a Academia Real das
Sciencias ajuizava do mesmo modo, convidando o illustre discípulo do
historiador para aquella espinhosa empresa e não tardando a elevá-lo de
socio correspondente que era a socio effectivo. A idade já avançada e
sobretudo o melindroso estado de saúde do official-maior da Torre do
Tombo, difficultavam-lhe sobraçar encargo de tamanha
responsabilidade. Posto não haver que meditar sobre o já definido
plano da publicação e em grande parte executado, a escolha,
interpretação e cópia dos diplomas que tinham de ser agrupados,
exigiam além de consumada competencia na materia, aturado labor
pbysico e mental. Mas João Basto não ignorava as expressivas palavras
de A. Herculano a seu respeito, bem que as recatasse
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