Opúsculos por Alexandre Herculano - Tomo 08 | Page 5

Alexandre Herculano
que apontámos na Advertencia do último.
Quiseramos incluir neste livro alguns dos discursos parlamentares do
nosso escriptor, e o pequeno opusculo--O Clero português--publicado
em 1841 sobre um assumpto então submettido á camara dos deputados.
Deste modo e contando com outros artigos avulsos já insertos em
tomos anteriores, bem pouco faltaria para que ficasse constando da
collecção toda a obra de A. Herculano relativa a questões públicas, no
período de que nos ocupamos. Mas aquelles discursos, de breve
extensão em sua maioria, só em memoria especial teriam cabimento,
acompanhados de um summario das controversias a que se ligaram, á
similhança do que fizémos em anotações a este tomo, nas quaes
apresentamos os transumptos de dous delles. Quanto ao opusculo o
facto de ter sido pelo Auctor retirado da publicidade pouco depois de
vir a lume tornaria inadmissivel a sua inclusão, mas está dentro dos
limites desta noticia darmos idéa da substancia delle e conjecturar sobre
os motivos que levaram o Auctor a supprimi-lo.
Inspirando-se nos mesmos sentimentos que no anno seguinte, como se
lê no tomo I, o moveram a expor á condolencia pública a miseria a que
estavam reduzidos os velhos egressos, víctimas de excessos
revolucionarios ainda não remediados, e mais tarde a proceder do
mesmo modo em favor das freiras de Lorvão, naquelle seu opusculo
começara A. Herculano por condoer-se da sorte do clero parochial, a
quem a revolução em seu dizer tambem deixara a viver de esmolas. Em
commovente quadro ahi descrevia elle os longos serviços sociaes da
democracia do clero, e recorrendo a considerações historicas que os
leitores poderão ver muito ampliadas nos notaveis artigos--O País e A

Nação, tomo VII, argumentava que ella não devera ser attingida pela
onda revolucionária, porque não tinha a responsabilidade dos abusos e
extorsões de que haviam desfructado durante séculos as altas classes
ecclesiasticas. Mas se nesta parte o opusculo não era mais que o inicio
de uma propaganda de piedade destinada a moderar ódios ainda
subsistentes entre vencidos e vencedores, nelle aproveitava o Autor o
ensejo para de certo modo deprimir em transparente allusão, o ministro
que referendara o decreto de 1834 sobre corporações religiosas,
notando que o pensamento deste decreto, no que tivera de alcance na
operada transformação social, não era invento de alguem que
isoladamente pretendesse jactar-se da sua concepção, mas subordinado
aos anteriores decretos da dictadura e desde muito tempo definido e
amadurecido em todos os espiritos liberaes. Sobrecarregando o
ministro com a responsabilidade das imperfeições sem todavia lhe
conceder qualquer partilha de gloria na promulgação do famoso
diploma, dir-se-hia que o escriptor se deixara momentaneamente vencer
por algum sentimento de represalia contra elle; e assim é provavel que
fosse, porque o homem público cuja conhecida altivez acaso pretendia
abater com as suas palavras, o mesmo que na recomposição ministerial
de 1841 assumiu a presidencia do gabinete reconstituido, pelo seu
caracter aggressivo menos dignamente o provocara a um jogo de
increpacões irritantes na sessão parlamentar do anno anterior.
De nenhum outro assumpto tractava o opusculo e não é difficil
presumirmos quaes fossem as causas da sua suppressão. Para esta
poderiam ter concorrido algumas discordancias entre as generalidades
nelle resumidas e certas doutrinas de historia patria que o Auctor a esse
tempo andava apurando e não tardou a trazer á luz pública em cartas
que publicou logo em começo de 1842. Mas em relação á materia do
opusculo essas discordancias eram apenas como que de linguagem, não
affectando as conclusões tiradas e podendo até ser attribuidas á
necessidade de evitar explanações. Por isso nos parece que para o facto
tambem concorresse o ter pesado na austera consciencia do escriptor a
animosidade que revelara na allusão que acabamos de apontar. Sendo A.
Herculano como era o mais enthusiasta e o mais sciente defensor dos
grandes decretos de D. Pedro, guardava sempre para segundo exame os
pontos em que cumpria corrigi-los e desenvolvê-los, seguindo as

mesmas normas no julgamento dos ministros que os tinham
referendado. Não admiraria, pois, que elle tivesse retirado o opusculo
da publicidade principalmente como nota destoante destas normas,
quanto ao valor de um desses ministros.
Taes são os esclarecimentos biographicos que nos propusemos expor.
De outros necessitamos agora tractar. Havia A. Herculano começado a
rever os seus dous estudos sobre instrucção pública, fazendo leves
correcções em toda a extensão de ambos e a revisão definitiva de
algumas páginas do publicado em artigos. Tal como o apresentamos
ficara este último por concluir e fòra destinado a um opusculo, como
no-lo indicam antigas provas paginadas que ao auctor serviram para a
revisão. Notemos, porém, que o não prejudica em pontos essenciaes a
falta de remate, e se acaso elle tivesse vindo completo á lus pública,
cousa de que até hoje não tivemos noticia nem esperamos têr, fácil seria
de futuro remediar o erro. O que provavelmente succedeu foi ir-se
paginando
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