Opúsculos por Alexandre Herculano - Tomo 08 | Page 3

Alexandre Herculano
A verdade é que, sem quebra allegavel de rigor
partidario, elle os havia ininterruptamente sustentado desde que viera a
público com o seu ardente opusculo A Voz do Propheta. Foram tambem
esses principios que lhe serviram de base no transumpto historico que

se lê no tomo I desta collecção, ácerca dos nossos acontecimentos
politicos, desde a revolução de setembro até a de 1842. Assim as
increpações de incoherencia politica lançadas naquella épocha contra o
nosso escriptor, e mais tarde reproduzidas sem exame, reduzem-se a
estranhar que elle não tivesse tido duas consciencias, uma para
condemnar os actos desordenados do setembrismo e outra para se
conformar com os analogos dos seus correligionarios.
Assente este ponto fundamental dos esclarecimentos em que vamos
proseguindo, podemos agora cingir-nos aos que mais de perto se ligam
ao conteúdo do tomo. Como ao constituir-se aquella camara não
estivesse patenteada nenhuma das divisões possiveis do cartismo
parlamentar, foram eleitos membros da commissão d'instrucção pública
A. Herculano e mais dous deputados do seu grupo. Occorreu então ao
incansavel e patriotico publicista o pensamento de estudar e redigir
com o auxilio de um destes deputados, o lente da Universidade e seu
particular amigo V.F. Netto de Paiva, um projecto de organisação de
instrucção popular. Não lhe viera de salto esse pensamento. Já na
folha--O Repositorio Litterario--publicada de 1834 a 1835 na cidade do
Porto, elle começara a manifestar o seu interesse pela instrucção do
povo, descrevendo ahi as escholas d'instrucção elementar da Prussia e
encarecendo-as como modêlos no genero. Evidentemente pretendera
então impressionar o público pondo em confronto o estado intellectual
deste país com o do nosso, isto é, fazendo destacar os dous extremos.
Em 1838 voltava ao momentoso assumpto, por incidente em luminosa
passagem do artigo sobre monumentos patrios publicado no Panorama,
e no Diario do Governo em uma série de artigos que não incluimos
neste tomo por dispormos de mais completos trabalhos do Auctor sobre
a materia. Aquelle projecto não seria, pois, mais que nova phase de
uma propaganda que o Auctor fôra desinvolvendo par a par com a
relativa ao regimen politico recentemente implantado entre nós, e que
elle reputava tão fundamente correlacionada com esta quanto pelas suas
eloquentes palavras os leitores poderão em breve apreciar.
Fundada esperança de bom exito tinha A. Herculano nesta tentativa
porque contava com a boa vontade de todos ou quasi todos os seus
collegas da commissão e com a acquiescencia do ministro do reino, a

quem o prendiam relações de amizade. Foi de certo a partir dessa
épocha que essas relações começaram a esfriar, degenerando mais tarde
em animosidades que concorreram para perturbar gravemente a carreira
litteraria do escriptor; mas até ahi e desde o cèrco do Porto haviam sido
cordealissirnas e firmadas em repetidas provas de mútua confiança.
Desta vez, não tractava, pois, o insigne patriota apenas de ajunctar mais
um brado em prol da grande causa a que se dedicava, mas de um acto
decisivo e que, por bem concebido e delineado teria resultados seguros.
Porém, a poucos passos as divergencias politicas que já descrevemos
deram por terra com estas illusões. Mesmo no decorrer da sessão de
1840 apresentava o ministro do reino á camara um projecto seu que não
teve seguimento mas que sem dúvida impedia a premeditada
combinação; e aberta a sessão de 1841, logo A. Herculano e os seus
amigos foram acintosamente excluidos da commissão de instrucção
pública, sem que a maioria desta se resentisse do facto. Depois, quando
no progresso da sessão o ministro mudava de pasta e desta mudança e
do subsequente caminhar dos negocios, se podia deduzir que o
assumpto não viria a ser ventilado na camara, resolveu o escriptor
levá-lo para a imprensa, expondo em successivos artigos publicados de
setembro a novembro na folha--O Constitucional, as theses que sobre
elle havia apurado e examinando á luz dellas o projecto ministerial. São
esses artigos que constituem um dos estudos sobre instrucção insertos
neste tomo e no qual, por emenda deixada pelo Auctor, substituimos a
epigraphe primitiva de--Instrucção Nacional pela de--Instrucção
Pùblica.
Ainda na sessão de 1840 um deputado da maioria apresentara á camara
um projecto de restabelecimento de anachronicos institutos de ensino
público mortos pela ditadura setembrista e de extincção de outros que
ella creara para os substituir. O principal objectivo do proponente era a
quéda da eschola polytechnica e a restauração do collegio dos nobres, e
contra essa idéa tão retrógrada deu parecer a commissão de instrucção
pública, sendo relator A. Herculano; mas como a questão ficasse
reservada, succedeu que alguem interessado nella mandou distribuir aos
deputados na sessão de 1841, antes do adiamento da camara decretado
em março, uma analyse impressa refutando aquelle parecer. Reaberta a
camara respondeu A. Herculano com o seu opusculo--Da Eschola

Polytechnica e do Collegio dos Nobres,--que é o outro dos dous
referidos estudos, o que contém mais vivas
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