Obras poéticas | Page 6

Nicolau Tolentino
em poezia,?Lhe vai supprido em verdade.
Em quanto co'as soltas vélas,?For?adas do vento rijo,?Demandava a Galeota?Os areaes do Montijo;
Em quanto ao Principe Augusto?O patrio Téjo se humilha,?E sobre os rasgados hombros?Lhe leva a soberba quilha;
Meus olhos, meus tristes olhos,?Nas aguas seguindo a esteira,?De lagrimas se arrazav?o?Sobre as praias da Junqueira.
Dentro do cansado peito?Se ateou crua peleja;?Senti huma guerra viva?De saudades, e de inveja;
N?o era de baixa inveja?Affecto grosseiro, e injusto;?Era invejar ao Creado?Ir junto a seu Amo Augusto.
Senhor, n?o sou atrevido;?Ha lugares derradeiros;?O meu dezejo me punha?Entre a chusma dos Remeiros;
Com as faces a?oitadas?Dos agudos ventos frios,?Entre os borrifos das ondas,?E as pragas dos Algarvios;
A Apóllo pedindo a Lyra,?Que só para isto invéjo,?Chamára das frias grutas?As loiras Filhas do Téjo;
Que escutando o som divino?Entre as húmidas moradas,?E levantando nas ondas?Suas cabe?as doiradas;
De tal Hospede soberbas?O lenho rodeari?o;?E as aguas co'branco peito?A' porfia lhe abriri?o;
O fatídico Protêo,?Cheio de saber divino,?Revelára ao novo Heróe?Os segredos do Destino;
Famozas ac??es cantára,?Levantando a sábia voz,?Moldadas sobre as historias?Dos Augustos Pais, e Avós:
Mas, Senhor, a minha Muza?Sem tino ao ar se remonta;?E vai-se mettendo em obra,?De que n?o póde dar conta;
Esta levantada empreza?Até a Boileau deo sustos;?Dizia que só Virgilios?Podi?o louvar Augustos;
He queimar-lhe baixo incenso,?Cansallo com Versos frios;?Amor respeitoso, e votos?Ser?o os meus elogios:
Vós, Illustre Villa Verde,?Com quem sempre me hei achado,?Fazei que seja o meu nome?A seus ouvidos levado;
Se lhe der acolhimento,?Sigamos de Horacio as tra?as,?Fa?amos que a par das Muzas?Marchem as rizonhas Gra?as;
Dizei-lhe, que na Folhinha,?Com letras doiradas puz?Aquelles formozos dias?Das escadas de Quéluz;
Aquelles dias ditozos,?Quando a seus pés ajoelhado,?Era ao abrigo das Muzas?Benignamente escutado;
Quando, tendo já tra?ado?Melhorar-me os meus destinos,?Se dignava perguntar-me?Como estav?o os meninos.
Quando me mandou, que em verso?Contasse como escapára?Naquelle funesto encontro?Dos taes Carreiros da Enxára;[8]
[Nota de rodapé 8: Allude ás Decimas.]
E se inda o favor mere?o?De t?o alta Protec??o,?Dizei, que mudei de Officio,?Porém de ventura, n?o;
Que n?o me engan?o zumbaias?Dos humildes Supplicantes;?Porque a bolsa mais sincera?Trata-me inda como dantes.
Que inda os c?es atrás do Russo?Esper?o nelle a merenda,?Quando eu vou para Lisboa?Fazendo Versos, e renda;
Que dando aos oucos ilhaes,?Vai marchando triste, e só;?Que as mais seges fazem sécia,?Porém que a minha faz dó;
Que até o bo?al Gallego,?Que eu tinha por innocente,?Já me conhece a fraqueza,?E já me revíra o dente;
Depois, que as vélas de cebo?Já cerceia no topete,?E vai conquistar o Bairro?De polainas, e colete;
Depois que em chapeo de Braga,?Que só p?e em dia claro,?Cozeo em devota rosca?Candêa de Santo Amaro;
Depois que em déstros meneios?O suado corpo bole,?E abre guerra ás Cozinheiras?Ao som da Gaita de fole;
Já responde focinhudo,?E eu me cálo as mais das vezes;?Porque, pelos meus peccados,?Sou réo de huns poucos de mezes:
Mas, Senhor, este Epizódio?Vai sendo dos arrastados,?O Gallego veio nelle,?Como me vai aos recados;
Se o julgardes enfadonho,?Ao Principe o n?o conteis;?Nos factos da minha vida?A' vontade escolhereis;
Pintai-lhe a triste familia,?Gritando-me por dinheiro;?Hoje o rol de hum Alfaiate,?A' manh? o de hum Tendeiro;
Pintai-lhe hum Procurador,?Que aqui vem todos os dias?Saber da minha saude?Da parte das Senhorias;[9]
[Nota de rodapé 9: Das Cazas.]
Enfeitai de c?r alegre?A funesta narra??o;?March?o ás vezes os rizos?Ao lado da compaix?o;
E pois que os vossos esfor?os?Nunca me tem sido v?os,?Acabai, benigno Conde,?Esta obra das vossas m?os;
De hum mal fadado Poeta?Trocai em prazer as penas;?Já diante d'outro Augusto?Fez o mesmo outro Mecenas.
CARTA
_No dia dos Annos do Illustrissimo, e Excellentissimo Senhor Marquez de Angeja D. Jozé de Noronha, estando o Author doente_.
Senhor, se vos s?o acceitos?Pobres Versos, mal limados,?Entre vidros, e receitas,?Em triste leito tra?ados;
Se de hum sombrio doente?A fúnebre poezia?Os prazeres n?o perturba?Deste faustissimo Dia;
Consenti, que a branda Lyra,?Por vós outr'ora escutada,?E que teimoza molestia?Tem ha muito pendurada;
Sobre este cansado peito,?Ferida com debil m?o,?Mande ao Ceo singelos hymnos,?Nascidos do cora??o;
Consenti, que eu louve o Dia,?Para mim assinalado,?Qne raia em nosso Horizonte,?De nova luz coroado;
Dia, que vos vio nascer;?E que quiz trazer comsigo?Quem une ao nome de Grande,?O santo nome de Amigo;
Quem n?o quer só a Nobreza?De Illustres Antepassados;?E mais ama huma virtude,?Que cem Titulos herdados;
Quem sabe, que o vir honrar?Dos pequenos a baixeza,?He entre os que nascem Grandes?A verdadeira Grandeza;
Quem a favor de infelizes?Traz sempre occupada a idéa;?E estima a fortuna propria,?Só para fazer a alhea;
Cem vezes, formozo Dia,?Vem o Horizonte doirar;?Nunca poss?o negros ventos?Tuas luzes perturbar;
Tu nos déste em peito illustre,?Que se doe de alheios ais,?Hum cora??o adornado?De mil Virtudes Morais;
Senhor, eu n?o doiro enganos,?Que venal lizonja approva;?Sabidas verdades digo,?E sou dellas huima prova;
Sou hum dos muitos exemplos?Do vosso bom cora??o;?A minha felicidade?Foi obra da vossa m?o;
Razoando em meu favor?Contra teimozos destinos,?Felizmente pleiteastes?A cauza dos meus Meninos;
Ao bom Principe pedistes,?Que com m?o compadecida,?Lhes concedesse humas ferias,?Que durassem toda a vida;
Pedistes depois, Senhor,?Que a sua Real Grandeza?Se dignasse de arrancar-me?D'entre os bra?os da pobreza;
Sei que nelle he natural?Ter dó das alheias penas:?Mas ouve-as melhor Augusto,?Quando lhas conta Mecenas;
Por este modo alegrastes?A triste familia minha;?E em caza nos levantastes?O Interdicto da Cozinha:
Já hum segundo Friz?o,?Pendurada a lingua velha,?Dá
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