reboque, como póde,?A' antiga meia parelha;
Já o sórdido Gallego,?Meu antigo companheiro,?De gravata, e carrapito?Arvorado em Boleeiro;
A?oitando surdas ancas?De dois Sendeiros roazes,?No mesmo Bairro apreg?a,?Ora barr?s; ora pazes;
Mas, Senhor, deixando gra?as,?Pois n?o as pede a materia,?E pedindo á minha Muza,?Que seja comvosco séria;
Rogo ao Ceo vos dê mil annos,?Já que s?o t?o bem gastados;?Annos que achareis depois?Em Livro de Oiro apontados;
E se em dia de Mercês?Ides de Semana entrar,?Seja a Mercê destes Annos?O meu nome apprezentar.
Ao Principe, ajoelhando,?Em favoravel momento,?Por mim, Senhor, lhe jurai?Eterno agradecimento;
E eu, em largando este leito,?Já sei a hora opportuna?De poder ajoelhar-lhe,?Quando elle chega á Tribuna;
E pondo-me ao pé do Ginja,?Que na _Náo Ajuda_ falla;?E faz a todos os Glorias?Continencias co'a vengalla;
Surdo á historia do naufragio,?Com que elle ás vezes me afferra,?Rezarei ao Deos do Ceo,?E assistirei aos da Terra.
CARTA.
_Tendo mandado huma Senhora ao Author Vinho da Madeira com huma Carta em boa Poezia_.
Hum humilde admirador?Da vossa bondade, e estilo,?Beija a Carta precioza,?Que veio honrallo, e instruillo;
Desde hoje, do Mestre Horacio?Minha alma a li??o escuza;?Quiz a minha Bemfeitora?Ser tambem a minha Muza;
De fino licor mandastes?A minha cava prover;?A vossa m?o generoza?Sabe dar, como escrever;
A' parca meza assentado,?Em Vinho, e Carta pegava;?Hia bebendo, hia lendo,?E tudo me embebedava;
Deixo o velho Anacreonte,?Hoje mettido a hum cantinho;?Sua meza nunca teve?T?o bons Versos, t?o bom Vinho;
Se os teve, Vós o roubastes?Por minha felicidade;?Já cá tem o Vinho, e os Versos?Quem delle só tinha a idade;
Das escumas do Madeira?Vejo nascer a alegria;?Com as azas affugenta?A minha melancolia;
Já se perturba a cabe?a;?Já tenho emprestadas cores;?Já come??o a esquecer-me?As molestias, e os Crédores;
O tal Horacio enganou-se;?N?o conhecêo a parreira;?N?o se chamava Falerno;?Se era bom, era Madeira;
He bom, mas tira o juizo;?Mandai-mo, em vez de o beber;?N?o se arrisque neste jogo?Quem tem tanto que perder.
CARTA.
_Desculpando-se o Author de n?o ir a huns Annos_.
Senhora, em honra do Dia,?Esfor?ando a m?o pezada,?Tómo a Lyra, ha longo tempo?Ao silencio consagrada;
E em quanto lhe alimpo as cordas,?Que bolor aos dedos d?o,?E atarantadas aranhas?Despejando o bêco v?o;
C'os olhos ao ar al?ados?A' minha Muza pedia?Me désse sonóros Versos,?Dignos de Apollo, e do Dia;
Que me ensinasse a louvar?O ditozo Nascimento,?Que ao vosso brilhante Séxo?Trouxe mais hum ornamento;
Que pintasse a loira Venus?Vosso rosto bafejando;?Que me mostrasse as tres Gra?as?O rico ber?o embalando;
Que me ensinasse a cantar,?Cingida a testa de loiro,?Huns claros, triunfantes olhos,?Huns finos cabellos de oiro;
Que me fizesse augurar,?Rasgando ao futuro o véo,?Amor consagrando as settas?Nos Altares de Hymenêo;
Mas as Muzas, como as Ninfas,?Tem para mim os pés mancos;?Fogem de trémulas vozes,?Tremem de cabellos brancos;
Fiquei, pois, desamparado;?E merecendo desculpa,?De n?o vos mandar bons Versos,?Peco perd?o, sem ter culpa;
Sei que devia ir pedillo?Respeitozo, e diligente;?Mas impede-me essa honra?Hum defluxo impertinente;
E quem em caza traz botas,?E vinte xaropes bebe;?E quando fahe, fahe mettido?N'uma loge de Algebebe;
Se fosse em tempo invernozo?Entrar na illustre Assembléa?Com leve, ingleza cazaca,?Fina, transparente mêa;
Sem acabar cumprimentos,?Logo o corpo arripiado,?Gelada a voz sobre os bei?os,?Cahiria constipado;
E o Marcos largando os bules,?Pondo o Velho em quentes pannos,?Entre os applauzos dos vossos,?Praguejaria os meus annos;
Vossa bondade n?o quer?P?r o Cortez?o em risco,?De ir com Habito de Christo,?E vir no de S. Francisco;
Acceitai dahi meus votos;?Daqui a m?o vos beijei;?E dos doces que n?o como,?Domingo me vingarei;
Darei escumantes copos?Ao perum, e aos m?lhos seus;?Brindarei os vossos Annos,?Tratando mui bem dos meus.
CARTA.
_Aconselhando a hum Cebelleireiro, que n?o continuasse a fazer Versos_.
Pois que o talento inquieto?Até em poezia provas,?E queres ás mais desgra?as?Ajuntar desgra?as novas;
Pois, que em galantes cantigas?Teu Rival puzeste razo,?E coroado de trovas?Vás entrando no Parnazo,
Quero em trovas avizar-te,?Que ha baix?os nesta barra;?Vou ser Prégador trovista,?Vou ser hum novo Bandarra;
A occupa??o de Poeta?He nobre por natureza;?Mas todo o Officio tem ossos,?E os deste s?o, a pobreza;
Os dentes do bom Cam?es?Sej?o fieis testemunhas;?Muitas vezes esfaimados?N?o achár?o sen?o unhas;
Depois que seus frios olhos?Se fechár?o no Hospital?Logo as Filhas da Memoria?Lhe erguêr?o Busto immortal;
De que serve honra tardia??Bem sei, que o rif?o vem torto;?Mas faz lembrar a cevada,?Que se deo ao asno morto;
Só as Muzas o chorár?o;?E o enterro devia ser?Como hoje nos pinta o Lobo?O de Jo?o Xavier.
Homéro, o divino Homéro,?Honra de antigas Idades,?Por cujos inuteis ossos?Brigár?o sete Cidades;
Doces Versos recitando,?Pela Grecia discorria;?Tinha os Thezouros de Apollo,?E esmola aos homens pedia;
Mas se de Authores antigos?Tens tido pouco exercicio,?Eu te aponto hum bem moderno,?E até do teu mesmo Officio;
Foi este o famozo Quita,?A quem triste fado ordena,?Que a fome lhe traga o pentem,?E da m?o lhe tire a penna;
Em quanto na suja banca?Pobre tarefa tecia,?Seu espirito sublime?Sobre o Parnazo se erguia;
Cozendo sobre o joelho?Era dura, falsa cáveira,?A sua alma conversava?Com Bernardes, e Ferreira;
Mil vezes travêssas Muzas?Da baixa obra o desvi?o;?E mostrando-lhe o tinteiro,?Pós, e banha lhe escondi?o;
Mas de que servem talentos?A quem nasceo sem ventura??Vale mais, que cem Sonetos,?A peior penteadura;
Amigo, vamos errados;?Escolhemos muito mal;?He o fado dos Poetas?N?o professarem real;
Péga no pardo baralho,?E sobre a cama assentado,?Fisga as biscas conhecidas?Ao parceiro descuidado;
Matando bo?aes taf?es,?Vai mexendo os
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