tres dias do mes de Junho na cydade de llixboa demtro da parochiall
Igreya de sam Gjão estãdo ahy de presente o senhores lljonardo nardez
de cyxo (sic) prior da dita Igreya e guomcallo diaz e Jorge Rebejro e
pedro ortyz e ffrancisquo de lhãnes beneffyciados em ella todos
presentes e Imtaresemtes na dita ygreya e todos jumtos e cõgregados
por som de campam tãgjda em cabido e cabydo ffazemdo ffazemdo (sic)
especyallmente sobre o auto de que abayxo ffara memçam e todos de
huã parte e da outra estamdo a esto presente cateryna diaz dona veuua
molher que ffoy de gaspar diaz o chyado dalcunha vynhateyro que deus
aja e ella vyue hora nesta cidade na Rua derejta da porta de samta
cateryna e lloguo por elles senhores pryor e majs beneficiados ffoy dyto
que amtre os majs bens e propriadades que A dita Sua Igreja pertemce e
de que ella esta de pose como derejto senhoryo asy sam huas cassas que
estão nesta cydade no topo da callcada de pay de nabays na Rua derejta
da porta de samta cateryna as quoajs pessue hora como vtill senhoryo A
dyta caterina diaz por as nomear em ellas por segunda pessoa o dito
gaspar diaz chyado que nellas hera a primeira pessoa comfforme ao
emprazameto que dellas lhe ffoy ffeyto por A dyta Igreya pryor e
benefficiados della e pagua de fforo myl e trezemtos e cimquoenta reis
em cada num Anno com galljnhas e tudo e com outras majs comdjcões
e obrigações de seu comtrato, etc.»
Ora ahi se diz textualmente a respeito d'aquella Catharina Dias:
«molher que ffoy de gaspar diaz o chyado dalcunha vynhateyro que
deus aja.»
A falta de pontuação nos documentos antigos dá origem a muitas
escuridades e equivocos. Assim, na phrase que deixamos transcripta,
poderiam caber duas interpretações: que Gaspar Dias tinha a alcunha de
Chiado ou tinha a alcunha de Vinhateiro. Mas a anteposição do artigo á
palavra--Chiado--reforçaria por si mesma a hypothese de ser alcunha,
se a não confirmasse plenamente esta passagem que se encontra no
texto do documento:
«Aos seys dias do mes de junho de myll e quynhemtos e sesemta e sete
Annos na cydade de llixboa Rua derejta da porta de ssamta cateryna
nas cassas de caterina diaz _A chiada dalcunha_ donna veuua etc.»
Assim, pois, ficamos seguros de que o Gaspar Dias da rua Direita da
Porta de Santa Catharina não tinha o appellido de Chiado, como alguns
individuos do Alemtejo, mas sim a alcunha, e de que exercia a
profissão de «vinhateiro» por ser viticultor ou negociante de vinhos.
Bem poderia succeder que os vendesse a retalho na propria casa de
residencia, especie de estalagem talvez, onde admittisse hospedes.
N'elle era, portanto, alcunha o que n'outros fôra appellido de familia;
mas bem póde haver sido que a origem do appellido no Alemtejo
proviesse primitivamente de uma alcunha.
Quanto á significação da palavra _chiado_ não ha duvida. Na _Revista
Lusitana_ VI, 79, encontra-se um estudo intitulado--Dialecto
indo-português de Gôa--, auctor monsenhor Sebastião Rodolpho
Dalgado (_sic_), no qual estudo se lê: «_Chiado_, astuto, ladino. «Não
é porque eu seja mais chiado, mais astuto do que os outros». Do k.,
sansk _chhadmin_.» Mas, sem recorrermos ao concani, o nosso verbo
«chiar» e o seu participio podem dar ideia de um sujeito de «ruidosa»
reputação como bargante e dizidor. No Brazil o nome--Camões--tomou
a accepção popular de--cego de um olho; e até me informam--ó
sacrilegio!--que lá se diz, por exemplo, «um cavallo camões». O povo
tem um grande instincto de generalisação: certos individuos
seriam--chiados--por se assimilharem moralmente. Da alcunha proviria
talvez o appellido; mas não vale a pena insistir n'este ponto.
O que faz ao nosso proposito é dizer que a Gaspar Dias fôram aforadas
pela collegiada de S. Julião umas casas sitas «no topo da calçada de Pai
de Nabaes na rua Direita da Porta de Santa Catharina» e que houve
renovação do prazo no tempo da viuva, segundo ella requereu e obteve.
A referida calçada é descripta em documentos antigos como sendo--de
Payo de Novaes--Pai de Navaes ou--Pai de Nabaes[9].
[9] «Calçada de Payo de Novaes--Corre a dita Calçada ao principio
quasi norte sul e contem seu comprimento desde o Largo da Cruz do
Azulejo thé donde volta 173 p. e de Largura 16 p. e voltando corre
Leste oeste, e contem thé intestar com a rua do Chiado donde parte o
destricto do Bayrro 42 p. e de Largura pello leste 42 p. e pello oeste 25
p.». _Tombo da Cidade de Lisboa, Livro 10, Rocio fl. 20._
O _Mappa de Portugal_, III, 391, diz que a calçada de Payo de Novaes
pertencia á freguezia de S. Nicolau.
No livro 8 da _Extremadura_ lê-se, fl. 27: «na rua que vem da callçada
que vem de pay de nauaaes pera o
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