por um documento
digno de fé[2].
[2] _Elementos para a historia do municipio de Lisboa_, tomo IV, pag.
41. Ahi se vê que o conde de Atouguia morava «ao Chiado».
E eu proprio li, posteriormente, uma referencia mais antiga, porque é
relativa á primeira década do mesmo seculo XVII: «Outras casas do
bairro do Marquez ficavam situadas _ao Chiado_, quando se entra na
rua Direita da Porta de Santa Catharina (1610)[3]»
[3] Archivo Nacional. _Chancellaria de D. Filippe II_. livro XIX, fol.
269.
Mas hoje cuido trazer prova convincente de que foi o poeta que, por
consenso espontaneo do povo, deu o nome de Chiado á antiga rua da
Porta de Santa Catharina ou a parte d'ella.
O povo baptiza melhor do que a camara municipal, porque baptiza com
mais acerto, quasi sempre com inteira razão de ser; por isso, nome que
elle ponha, péga, fica, perdura.
E, não obstante a camara municipal mudar em 1880 o nome á rua, de
_Chiado_ para _Garrett_, o povo não quiz saber de reviravoltas de
letreiros nas esquinas: continua a chamar-lhe _Chiado_; _Chiado_ é
que é, porque o povo quer que seja assim.
As novas descobertas que hoje tiro a lume sobre a vida azevieira do
poeta Chiado, anecdotas passadas entre o povo e com o povo, das quaes
resulta que elle foi um bohemio tão acabado e popular no seculo XVI
como Bocage o veiu a ser no seculo XVIII, essas novas descobertas,
dizia eu, acodem a reforçar a prova, que em documentos colhi, de haver
sido elle que celebrizou a rua em que morava e que por esse facto, sem
que ninguem o decretasse, mas porque todos assentiram, ficou a
alcunha do poeta tradicionalmente ligada á rua como um padrão de
celebridade local[4].
[4] De todas as ruas de Lisboa o Chiado é a mais cantada e decantada.
Na literatura, além de infinitas referencias, tem fornecido o titulo de
algumas obras: _Do Chiado a Veneza_ por Julio Cesar Machado (1867);
_Viagens no Chiado_ por Beldemonio (Ed. de Barros Lobo) 1857; _A
campanha do Chiado_, scena comica; _Trez ao Chiado_, cançoneta. No
principio do anno de 1868 começou a publicar-se em Lisboa um
periodico com o titulo _O Chiado_, em formato grande e excellente
papel. Teve ephémera existencia. No n^o 5. correspondente a 6 de
fevereiro, inseriu um artigo do sr. Brito Rebello sobre o poeta Chiado.
D'esse artigo recortamos os seguintes periodos:
«Mas d'onde lhe veiu a alcunha: Eis os eruditos em duvida. A opinião
correntia até alguns annos era de que esta lhe proviera da rua onde
habitava, que era a parte da subida desde o Espirito Santo, hoje palacio
da casa de Barcellinhos, até á rua de S. Francisco (_Ivens_). Ha porém
um contra: em monumento ou documento algum anterior ao seculo
XVI, se encontra tal designação. É pois mais natural a hypothese do sr.
Alberto Pimentel, de que do poeta veiu o nome á rua.»
A hypothese, formulada em 1889, é hoje uma these documentada.
II
Eu conjecturei em 1889 que--Chiado--era alcunha popular e nao
appellido de familia. Hoje possuo provas de ter havido no districto de
Evora, d'onde o poeta era natural, uma familia de appellido Chiado,
anterior ao poeta.
Bem pode ser que o appellido proviesse de alcunha, no sentido em que
a tomei[5], o que muitas vezes acontece. Mas não ha duvida que já no
seculo XV existiam Chiados no baixo Alemtejo.
[5] _Ver Obras do poeta Chiado_, pag. XXVIII a XXX.
Perante D. João II queixaram-se João Lopes Chiado e Francisco Lopes
Chiado, ambos eborenses e irmãos, contra a perseguição judicial que
lhes moviam Ayres Gamito e Gonçalo d'Elvas, serviçaes d'el-rei.
Por carta regia, datada de Evora, D. João mandou annullar-lhes a culpa
deixando-os illibados[6].
[6] Archivo Nacional. Chancellaria de D. João II, liv. 17, fl. 89, v.
No seculo XVI havia em Montemor-o-Novo um Antonio Fernandes
Chiado, homem muito pobre, a quem D. João III perdoou o delicto (em
11 de setembro de 1553) de ter caçado perdizes com boiz, contra o que
dispunham as Ordenações[7].
[7] Archivo Nacional. D. João III. Perdões e legitimações, liv, 19, fl.
398, v.
Mas nenhuma d'estas noticias vale tanto como a de ter existido ao
tempo do poeta, no anno de 1567, em Lisboa, uma Catharina Dias,
«dona viuva», mulher que foi de Gaspar Dias o Chiado, a qual residia
«na rua Direita da Porta de Santa Catharina.»
Colhi esta noticia n'um documento authentico[8].
[8] Archivo Nacional. _Collegiada de São Julião de Lisboa_, maço
unico n^o 14. Instrumento lacerado no fim. Transcrevemos apenas o
começo, por ser a parte que mais nos interessa:
«Em nome de deus amem sajbam quãtos este estromento de emnouacão
de prazo e nouo emprazamento vyrem que no Anno do nascymento de
nosso senhor Jesus Christo de myll e quinhentos e sesemta e sete Aos
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