claramente qual era a situa??o da cal?ada de Pai de Nabaes em rela??o �� rua Direita da Porta de Santa Catharina.
[Ilustra??o: Planta do Chiado por Jos�� Valentim]
Por este fragmento, que reproduzimos, reconhece-se que a cal?ada de Pai de Nabaes ficava ao fundo do Chiado actual, entalada entre o palacio do conde de Valladares e a egreja do Espirito Santo, e que foi do predio ahi situado, onde residira Gaspar Dias, que se alastrou o nome de Chiado para um trecho apenas da rua Direita da Porta de Santa Catharina, conservando esta rua o seu antigo nome desde a Cordoaria Velha[10] at�� propriamente �� porta de Santa Catharina, isto ��, at�� ao Loreto moderno.
[10] A Cordoaria Velha correspondia �� rua de S. Francisco, hoje rua Ivens.
Seria em casa de Catharina Dias a Chiada que o poeta Antonio Ribeiro se hospedou. N?o pod��mos admittir que fosse o marido d'ella que d��sse o nome �� rua, a qual no tempo da viuva ainda tinha a designa??o antiga e total--de rua Direita da Porta de Santa Catharina.
Pode ser que o poeta recebesse da propria casa de Pai de Nabaes, como seu hospede ou freguez, a alcunha de Chiado, tanto mais que esta alcunha lhe quadrava como astuto e ladino, e que elle, segundo uma accusa??o de Affonso Alvares, se dava a frequentar lojas de bebidas:
E tu queres ser rufi?o?e beber como francez.
Pode ser que fosse parente, adherente ou intimo da viuva de Gaspar Dias, e que por parte do povo tambem houvesse malicia em dar ao commensal a alcunha que pertenc��ra ao marido.
A tradi??o diz que o poeta morou n'aquella rua e, segundo a maior certeza possivel, parece poder agora ficar assente que foi elle, pela notoriedade de que gosou, devida a suas ribaldarias e veia comica, que deu o nome �� rua.
�� menos admissivel a hypothese de que o poeta, por singular coincidencia, fosse um dos Chiados do Alemtejo, apesar de ter nascido no districto de Evora, onde, na cidade capital do districto e na villa de Montemor-o-Novo, existia aquelle appellido. No Alandroal, c��rca de seis leguas ao sul de Evora, ha um _monte_ (casa de habita??o de uma herdade) que tem o nome de--Chiado[11]--e um logar chamado--Chiada. No districto de Faro (Algarve) tambem ha um logar com a denomina??o de--Chiado,--como se v�� da _Chorographia_ de Baptista. Chiado ��, pois, um vocabulo do sul. Mas tanto o poeta como seu irm?o Jeronymo, tambem poeta, assignavam apenas o appellido--Ribeiro. O que me leva a cr��r que Chiado f?ra alcunha posta a Antonio Ribeiro, bem assente n'elle, que a merecia; e por ser alcunha a precediam de um artigo.
[11] Situado a dois kilometros da villa. Haver�� um seculo pertenciam este _monte_ e herdade a um individuo chamado Pedro Gon?alves. Passando de paes a filhos, veio a propriedade a pertencer ao pai do sr. Martins, do Redondo, actual proprietario.
Em resumo: antes do poeta a rua n?o tinha o nome de Chiado[12].
[12] Fica, pois, documentalmente contradictada a opini?o, tantas vezes repetida, de que o poeta recebeu o nome da rua. Ainda recentemente disse a _Encyclopedia portugueza illustrada_: ?Indo para Lisboa (o poeta), foi morar para o Chiado, e d'ahi o ser conhecido por este nome.? �� verdade que a mesma _Encyclopedia_ tambem diz que o Chiado escreveu varios autos, sendo conhecidos dois: _Auto de Gon?alo Chamb?o_ e _Auto da natural inven??o_.? justamente estes dois �� que ninguem tem podido v��r. Dos trez que publiquei em 1889, n?o fala: esses ent?o �� que s?o os desconhecidos!
III
J�� agora seja-me permittida uma divaga??o, que reputo interessante, a respeito do sitio do Chiado, que o nosso poeta tornou famoso.
Eu disse que a cal?ada de Pai de Nabaes ficava entalada entre o palacio do conde de Valladares e a egreja do Espirito Santo da Pedreira.
?Da Pedreira?, porque os alicerces d'este edificio foram assentes no alto da escarpa, que impendia em tempos remotos sobre um esteiro do Tejo, cidade dentro, e que ainda hoje se deixa adivinhar na enorme differen?a de nivel que ha entre o fundo do Chiado e a rua do Crucifixo.
A egreja e hospital do Espirito Santo est?o actualmente substituidos, no mesmo local, pelo moderno palacio da familia Barcellinhos.
A egreja era muito antiga, pois que no anno de 1279 j�� tinha sido fundada.
No seculo XVI foi reconstruida com donativos de el-rei D. Manoel e outros bemfeitores. Ficou o templo com trez naves, e tinha uma capella-m��r artificiosamente lavrada, obra de muita estima??o e riqueza.
O padre Carvalho, na _Chorographia Portuguesa_[13], d�� larga noticia d'esta egreja depois de reconstruida.
[13] Tomo III, pag. 445 e seguintes.
Junto ao templo, e com serventia para elle, havia o hospital do Santo Espirito, que albergava permanentemente doze pessoas necessitadas, entre as quaes ?dez mulheres donzellas ou donas viuvas de boa vida?.
A bem dizer, era mais um recolhimento do que um hospital.
E assim foi at�� o anno de
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