O cancioneiro portuguez da Vaticana | Page 5

Teophilo Braga
Rios:
"passo su infancia en casa Doña Mencia de Cisneros, su abuela, donde
hubo de aficionar-se à la lectura de los poetas en los codices que
poseyeron Garcilasso de de la Vega y Pero Gonzales de Mendoza..."[3]
Garcilasso de la Vega, bisavó do Marquez, morrera em 1351, e esta
data, e as suas relações de parentesco com a aristocracia portugueza
explicam como a elle ou a Pedro Gonzales de Mendoza chegou o
volume das cantigas. Portanto esse grande cancioneiro não existia em
Hespanha antes poucos annos de 1351 e foi pouco antes de 1418 que o
joven Marquez de Santillana o consultou. Pedro Gonzales de Mendoza
era tambem poeta do côrte de Don Pedro e de Don Enrique (Amador de
los Rios, _op.cit._, p. 623), e isto mostra o interesse que o levaria pelo
seu lado a conservar o grande cancioneiro portuguez.

A descripção que faz o Marquez de Santillana d'esse codice, coincide
com o que existe na Bibliotheca do Vaticano em copia do seculo XVI:
_"un grande volume de Cantigas serranas e dizeres portuguezes e
gallegos"_. São ao todo mil duzentas e cinco cantigas compostas no
genero descripto por Santillana, e os poetas são em grande numero
galegos. Em seguida accrescenta: _"dos quaes a maior parte eram do rei
D. Diniz de Portugal"_. Effectivamente o trovador que mais canções
appresenta no codice da Vatícana é el-rei D. Diniz, cujas composições
estão compiladas entre o numero 80 e 208, sendo ao todo cento e vinte
nove. Accrescenta mais o Marquez de Santillana: _"cujas obras
aquelles que as liam, louvavam de invenções subtis, e de graciosas e
doces palavras"_. Esta affirmação, sobendo-se que o Marquez escreve
sobre uma recordação da sua infancia, não podia resultar se não dos
gabos ouvidos a Pero Gonzales de Mendoza, poeta do Cancioneiro de
Baena, gabos que fizeram com que o livro se conservasse em casa de D.
Mecia de Cisneros, e d'onde se tirara por ventura essa outra copia que
hóje existe em poder de um grande de Hespanha, segundo uma
affirmação de Varnhagem. N'esta mesma carta ao Condestavel de
Portugal, allude o Marquez aos talentos poeticos de seu avô e cita
varias das suas composições: _"E Pero Gonzales de Mendoza, meu avô,
fez boas canções"_. Crêmos que por esta via é que o cancioneiro foi
copiado para Castella, copiado dizemos nós porque se conforma com
um grande cancioneiro já organisado, de que o de Roma é um
apographo terciario. O Marquez de Santillana cita de memoria os
principaes trovadores que vira transcriptos n'essa vasta collecção:
"Havia outras (sc. canções) de Joham Soares de Paiva, o qual se diz
que morrera em Galiza por amores de uma infanta de Portugal; e de
outro _Ferrant Gonçalves de Senabria"_. Pela referencia a estes dois
trovadores se vê qual o estado do cancioneiro manuscripto ou volume
de Cantigas de D. Mecia de Cisneros. No apographo da Vaticana se
acha uma canção de _João Soares de Paiva_, quasi no fim da collecção,
(n°. 937) ao passo que no cancioneiro que pertenceu a Colocci e de que
apenas resta o indice dos trovadores (cod. vat. n°. 3217) se acha logo
sob o numero 23 o nome de _João Soares de Paiva_ com sete canções
successivas. Em seguida a este trovador cita _Ferrant Gonçalves de
Senabria_, porem no Codice de Colocci acha-se sob o numero 384
citado _Gonçalves de Seaura_ com dez canções a seguir. Isto concorda

com a phrase do Marquez, referindo-se a essas canções: "Havia
outras....." O motivo d'esta referencia especial seria por ter este
trovador o apellido de _Gonçalves_, de seu avô, e por isso ainda
pertencente á sua linhagem. No Codice da Vaticana agora publicado,
acha-se um fragmento de canções de _Fernão Gonçalvis_, e só sob o
numero 338 outra canção de _Fernão Gonçalves de Seavra_, a qual
corresponde segundo Monaci ao numero 737 do Codice perdido de
Colocci.
Portanto, o Cancioneiro de D. Mecia de Cisneros era completo pelo que
se deduz da citação d'estes dois trovadores, cujas obras se achavam
antes da folha 42 do actual Codice Vaticano, na qual começa. No
Cancioneiro de Colocci, em vez de cento e vinte nove canções, el-rei
Dom Diniz é representado com _setenta e outo;_ mas ainda assim era
uma grande collecção para o Marquez poder dizer d'ella em relação ao
volume das Cantigas uma maior parte. Em seguida a estas preciosas
referencias cita tambem na sua carta _Vasco Peres de Camões_, poeta
do Cancioneiro de Baena e contemporaneo de Pedro Gonçalves de
Mendoza por cuja via seria conhecido em casa de Dona Mecia de
Cisneros, e pelos eruditos que tinham o cuidado da educação do
Marquez. Por ultimo, infere-se que o Codice de D. Mecia era uma
copia castelhana, por que transcreve o nome de _Fernão_ em Ferrant, e
o de Seavra em Senabria, o que se não pode
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