Só nos pode salvar docil
brandura: Se não queres matar-me, sê submisso.
Ped. O temor de affligir-te pode tudo. Respeitoso serei, terei brandura,
Se elle brandura igual usar comigo. Nada temas, Princeza: Adeos. Eu
juro Pelos Ceos outra vez, e por ti mesma, Que inda que o Mundo
inteiro se me opponha, Castro ha de ser de Portugal Rainha.(11)
(11) Parte.
Ign. Não te apartes, D. Sancho, do seu lado: Moderem teus conselhos
seus transportes.
Sanc. Dai forças, justos Ceos, ás minhas vozes, Lançai a Portugal
piedosas vistas.
SCENA V.
Ignez só.
Que temor, infeliz! de mim se apossa!(12) Caro Principe!.. Esposo!.. oh
Deos, quem sabe Se a ver-te tornarão inda os meus olhos. Vai, ó Castro,
abraçar-te aos caros filhos, E entrega-te nas mãos da Providencia. (12)
Sem poder despregar os olhos do caminho que tomou D. Pedro.
ACTO II.
SCENA I.
D. Affonso, e D. Pedro.
Af. Basta, Principe, basta: prescindamos De justas arguições, de escusas
futeis; Não quizeste ir, vim eu. Quero esquecer-me, Perdoar quero
mesmo as tuas faltas, Huma vez que obediente hoje as repares.
Concluão-se estas nupcias proveitosas, Que para teu prazer, e a bem do
Estado, Prudente contratei. Verás com gosto, Quando Lisboa entrares a
meu lado, Com quanto regozijo o Povo todo, Teu consorcio
applaudindo, a festeja-lo Com pompa jámais vista se prepara. Que
doçura não he para os Monarchas, Espalhar alegria entre os Vassallos!
Vê-los mandar ao Ceo ardentes votos, Pela conservação da Regia Prole,
Que lhe segura a paz, a dita, a gloria! Vêr que as suas acções o Povo
approva, E contente abençôa o seu Reinado, Curvando-se de grado ao
leve jugo, Que sómente os máos Reis fazem pezado! Mil graças dou
aos Ceos, pois satisfeitos Julgo estarão de mim os Lusitanos. E nada
mais desejo que deixar-lhes, Em meu filho, outro eu, que sempre os
ame, E que por elles seja sempre amado. Começa desde já neste
consorcio A firmar o seu bem. Sim, hoje mesmo Deves partir comigo
para a Corte, A fim de o celebrar, logo que chegue A Infanta de
Castella, digno objecto Que escolhi para Esposa de meu filho.
Ped. Ah! Que seja possivel, por meu damno, Que o melhor dos
Monarchas do Universo, Igualmente não seja o Pai mais terno! Que
hum Rei, que desvelado buscou sempre Fazer os seus Vassallos
venturosos, Queira fazer seu filho desgraçado!... Contratares, Senhor,
sem consultar-me Hum consorcio, ignorando se teu filho Pode, ou quer
d'Hymenêo ás leis cingir-se! Se essa, que lhe destinas para Esposa,
Pode ao seu coração ser agradavel! Acaso julgas tu desnecessaria A
minha approvação para estas nupcias! Não será livre hum coração ao
menos Na escolha d'huma Esposa, que amar deve... Ah! Não queiras,
Senhor, com tal violencia...
Af. Immudece, insensato; não prosigas Indignas expressões que me
envergonhão... Bem conheço a razão porque assim pensas. Que
indignos sentimentos, que fraqueza, Para quem deve hum dia ser
Monarcha! Como, quando do Imperio as redeas tomes, Quando na mão
a espada formidavel Da severa Justiça sustentares, Das paixões punirás
o torpe effeito, Sendo tu proprio das paixões escravo? Como jámais
serás obedecido, Se tu mesmo ao teu Rei desobedeces? Com quanta
repugnancia os Portuguezes, Murmurando, verão no Luso Solio, Que
de tantos Heróes tem sido assento, Hum Rei dado ás paixões,
afeminado, Incapaz de empunhar o Sceptro augusto!
Ped. Mas capaz de os reger, e defende-los. Se das grandes paixões sou
susceptivel, A molleza detesto, bem o sabes: Quando cumpre, Senhor,
em campo armado; Ensinado por ti, brandindo a espada Sei por acções
mostrar que sou teu filho; Nem para ser bom Rei (Senhor, perdôa) Eu
julgo necessario huma alma dura; Mas antes me persuado não devêra O
que fosse insensivel reger Homens. Corações que á ternura se não
rendem, Jámais sabem carpir alheios males; Nem doêr-se das lagrimas
do afflicto.
Af. Apagada a razão, cégo deliras; Isentos de paixões os Reis ser devem;
Manão dos seus os publicos costumes: Se exemplificão mal os seus
Estados, Os vicios dos Vassallos são seus vicios; Devem sacrificar os
seus desejos; Ser comsigo crueis a bem dos Povos, Que o Ceo lhes
confiou; e os que se ensaião Para lhes dar as Leis, devem mostrar-se
Capazes destes nobres sacrificios. Os consorcios dos Principes são obra
Dos int'resses do Estado, elles decidem, Elles dispõe de nós. Deixem-se
ao Vulgo Caprichosos melindres com que exige, Que aos laços
d'Hymenêo Amor presida. As doçuras de Amor para os Monarchas São
de pouca valia: a nossa gloria Não se firma em tão fracos alicerces.
Ped. Se aos que devem reinar he necessario Ceder dos privilegios, dos
direitos Que a Natureza deo aos Homens todos; Por tal preço, Senhor,
não quero o Throno! Laços formar, que o coração repugna, Origem de
desgraças, e de crimes... Assaz o exp'rimentei... grilhões tão duros, Por
tuas mãos lançados,
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