a
tempestade, Que me denota proxima ruina; Nem por isso me assusto: o
que me afflige, He vêr hum Pai, hum Reino, e o proprio Esposo, Tudo
por meu respeito alvorotado. Em situação tão ardua, e tão penosa, Té
chego a desejar... (infeliz Castro!) Que o sacrosanto nó que a mim te
prende, Este laço tão doce, e desejado, Dos bens o maior bem que
Ignez possue, A ser possivel, hoje se rompesse, Só porque tu podesses
livremente Obedecer a hum Pai, fazer ditosos Por hum feliz consorcio
dois Imperios. Muito embora Beatriz te possuisse... Mas que digo? Ai
de mim! Nos braços d'outra!.. Nos braços d'outra vêr o amado Esposo!
Ah! não... não posso tanto, antes a morte.
Ped. He teu meu coração, será teu sempre. Os laços de Hymenêo são as
mais debeis Prizões que a ti me ligão. Quando amamos, Desnecessarios
são ritos, promessas: Mais força tem amor que os juramentos. Inda que
ante os altares sacros votos De permanente fé, de amar-te sempre Não
tivesse a teu lado proferido, Seria sempre teu, sempre te amára; Sem
que jámais podesse força humana Separar corações, que amor uníra.
Ign. Mas que, talvez em breve sopeados, Aos golpes da politica
succumbão.
Ped. Para lhe resistir basta o meu braço.
Ign. O teu braço, Senhor, só deve armar-se Para emprezas mais dignas
do teu nome: No lance melindroso em que nos vemos Convém, mais
que os furores, a brandura; E apezar das razões que ponderaste, Julgo
que deves dirigir-te á Corte; Pois talvez, se não corres a embarga-los,
Teu Pai avance os começados passos Para as nupcias da Infanta de
Castella, Na esperança de ser obedecido, E a ponto chegue que depois
não possa...
Ped. Sem lhe dizer porque, já fiz saber-lhe, Que taes nupcias jámais
celebraria.
Ign. Mas não fôra melhor...
SCENA IV.
D. Pedro, Ignez, e D. Sancho.
Sanc. ................... Senhor: ah! corre, Vem esperar teu Pai.
Ign. .............. Oh Ceos!
Ped. ...................... Que dizes?
Sanc. Dirigido a Coimbra em veloz marcha Partio da Corte Affonso,
aqui não tarda.
Ign.(7) Agora sim, minha desgraça he certa.
(7) Fallando comsigo mesma.
Ped. (8) Meu Pai? oh Ceos!.. meo Pai?
(8) Pensativo, e admirado.
Sanc. ........................ Coelho, e Pacheco, Seus crueis Conselheiros, o
acompanhão: Toda a Corte, Senhor, em sobresalto Ficou co'esta partida
inesperada: Mendonça que ligeiro vem trazer-te A importante noticia,
assim o affirma: Murmura o Povo já de recusares As nupcias de Beatriz,
que applaudem todos.
Ped. Murmure muito embora, embora venha Armado de poder, ardendo
em raiva, Da vingança, e das furias escoltado, Esse a quem por meu
mal devo a existencia; Que, se intentar comigo ser tyranno, Ha de em
seu filho achar hum inimigo Capaz dos mais tremendos attentados; Que
em casos taes os crimes não são crimes, São forçoso dever das almas
grandes. Espera-lo não vou.
Sanc. ........... Senhor, que fazes?
Ped. O que me apraz fazer.
Ign. .................... Oh Ceos! Nem posso Das tuas expressões horrorizada,
Soltar do coração tremulas vozes: Fallem por mim as lagrimas que
choro... Não me consternes mais. Ah! vai, não tardes; Vôa a encontrar
teu Pai, se ver não queres Estalar de afflicção a tua Esposa.
Ped. (9) Eu vou satisfazer-te, sim eu parto; Vou rasgar do segredo a
cauta venda: Saiba, sim, saiba Affonso antes que chegue Estes sitios a
entrar, que Ignez habita, Que a deve respeitar como Princeza; Que
inquebravel prizão a Ignez me liga.(10)
(9) Depois de ficar hum pouco pensativo, diz resoluto.
(10) Em acção de partir, e D. Sancho retendo-o.
Sanc. Oh Ceos! Não faças tal, melhor discorre; Para lhe revelar hum tal
segredo Occasião mais opportuna espera: A cólera azedar não vás de
Affonso; No transporte cruel das suas iras, Bem sabes que he capaz...
Ped. ................... De que? De nada: Mais de mim, do que eu delle,
tremer deve... Se ousasse contra Ignez... Ah! nem pensa-lo. Para vingar
o seu menor insulto Seria pouco todo o sangue humano.
Ign. Bem me dizia o coração presago... Meu mal he sem remedio; o
proprio Esposo He quem vai despenhar-me no sepulchro. Meus crueis
inimigos não me assustão: O popular tumulto, hum Rei severo Nada
temo, ai de mim! a ti só temo. Ah! Lembra-te, Senhor, do que juraste
Antes de conduzir-me ás sacras Aras, Onde eu te não seguira, se
primeiro Tu me não prometesses guardar sempre O devido respeito ao
teu Monarcha, E a paz não perturbar dos seus Dominios: Tu não has de
faltar, o tempo he este, Que eu já prevía então: oh caro Esposo! Lança
do coração fataes transportes; Não percas tempo, vai, corre a prostrar-te
Aos pés do grande Affonso; mas submisso, Ao beijar de teu Pai a mão
augusta, Sobre ella de teus olhos chova o pranto. Pondera que te perdes,
que me perdes, Se com elle furioso praticares;
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