Nova Castro: tragedia | Page 3

João Baptista Gomes Junior

quer quando lhe imploro, Que á Corte vá lançar-se ás Regias Plantas.
Todavia, D. Sancho, eu te prometto, Que não hão de cessar minhas
instancias; Embora, longe delle, Ignez saudosa, Ao furor dos seus
émulos exposta, Venha talvez a ser victima triste De insidiosa politica:
antes quero Morrer, do que lembrar-me que sou causa De que o
Principe falte aos seus deveres.
Sanc. Quem nutre em si tão nobres sentimentos, Inda sendo opprimida,

he venturosa. Zombou sempre a virtude da desgraça, Debalde a
emulação, armando a intriga, Conspira contra ti: mas he preciso Seus
designios frustrar: sim....
Ign. ........................ Eis D. Pedro.
Sanc. Queira o Ceo que o convenças! Eu vos deixo.
SCENA III.
D. Pedro, e Ignez.
Ped. Quanto são vagarosos, cara Esposa, Os poucos melancolicos
momentos, Que distante de ti saudoso passo? Só ao teu lado, Ignez,
socêgo encontro, Não existo senão quando te vejo.
Ign. Quanto me adoras sei, Principe amado; Mais terno cada vez, mais
extremoso, As tuas expressões meu pranto excitão; Porém d'amor agora
não tratemos: Bradando estão deveres mais sagrados Que preencher te
cumpre: antes de tudo Tenho, Esposo, hum favor que supplicar-te:
Negar-mo-has tu, Senhor?
Ped. ................ Ignez, que dizes? Tu, que tens na minha alma todo o
imperio, Ah! Podes duvidar que eu te obedeça?
Ign. Pois bem, Senhor, attende á tua Esposa, Ouve meus rogos, e a
meus rogos céde: Se tu só junto a mim socêgo encontras, Tambem só
junto a ti socêgo eu tenho; Porém quer o destino, o dever manda, Que
te apartes de mim por algum tempo.
Ped. Apartar-me de ti? Oh Ceos! Que escuto! Apartar-me de ti? Castro
he quem falla?
Ign. He Castro, sim, Senhor, aquella mesma, Que preza mais que tudo a
tua gloria; Aquella, cujo brio não tolera, Que seja o terno amor, que lhe
consagras, Motivo de infringires teus deveres. Bem o sabes, Senhor, em
nenhum tempo Procurei ardilosa fascinante: Cedi ao teu amor, porque
te amava, Porque em ti divisei huma alma terna, Alma que o Ceo

formou para encantar-me, De todas as virtudes adornada. Agora pois te
cumpre conserva-las, E a mim não consentir que as abandones: Eu de
mim propria assaz me horrorizára Se visse que as perdias por amar-me.
Não, Principe querido, eu te supplico Por este mesmo amor que a ti me
prende, Que á Corte sem demora te dirijas, Onde teu Pai, talvez já
fatigado De te chamar em vão, te espera ancioso. Obedecer aos
Paternaes preceitos He lei da Natureza, he lei sagrada; Cumpri-la deves:
vai...
Ped. ............... Basta: Eu conheço Quaes meus deveres são, e sei
cumpri-los; Sei que he devida aos Pais a obediencia; Mas igualmente
sei que tem limites A Paternal, sagráda authoridade. Tenho pensado
bem no que obrar devo: Justos motivos, que não sabes inda, Exigem
que eu não cumpra as Regias ordens. Obedecêra a hum Pai, se Pai
tivera... Mas eu não vejo mais do que hum tyranno Nesse que o ser me
dêo...
Ign. ................. Senhor, suspende: He teu Pai; muito embora cruel seja;
Tu deves respeita-lo, e obedecer-lhe.
Ped. Se quer que lhe obedeça, e que o respeite, Não me imponha
preceitos deshumanos.
Ign. Não prometeste ha pouco á tua Esposa Conceder-lhe o favor que te
pedisse?
Ped. Vê pois quando não posso comprazer-te, Se terei razões justas que
me estorvem De obedecer a hum Pai!
Ign. .............. Não póde have-las.
Ped. Tyrannos... que nos julgão seus escravos!(6) Para nos flagellar o
ser nos derão!
(6) Sem attender a Ignez, transportado.
Ign. Tu me fazes tremer.

Ped. .................. Sabe em fim tudo. Affonso, e o Monarcha de Castella
Acabão de firmar a nova alliança, Em que sem meu consenso
contratárão, Qu'eu daria a Beatriz a mão de Esposo: Para este fim á
Corte sou chamado. Affonso, não contente da violencia Que ao meu
coração fez, quando forçado De rôjo me levou ante os altares Para
unir-me a Constança em laço eterno, Pezado laço, que rompeo a morte;
Não contente de haver sido o motivo De... Mas que digo? Não, ah! não
foi elle; Eu em lhe obedecer fui o culpado: Que desenfrêe agora as suas
iras; Que rogue, que ameace; mesmo quando Em secreto Hymenêo não
estivessem Ligadas para sempre nossas almas, Debalde intentaria
submetter-me A hum jugo que a vontade recuzasse, Reconheço porém
que a pertinacia, O despotico orgulho de seu genio, Sem que attenda
senão ao seu Tractado, Quererá que por força o desempenhe. Não
convém descobrir nosso consorcio; E outra escusa qualquer que eu
fosse dar-lhe D'irrita-lo inda mais só serviria. Agora julga pois se partir
devo. Se me devo ir expôr, talvez... quem sabe! A faltar-lhe ao respeito
inteiramente... Mas tu choras?.. Que vejo!.. Acaso temes?...
Ign. Nada temo por mim, por ti só temo: Sim, quando vejo sobranceiros
males, Por desditoso amor originados; Quando vejo engrossar
Continue reading on your phone by scaning this QR Code

 / 24
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.