Marilia de Dirceo | Page 7

Tomás António Gonzaga
dos labios ao seio,?E nos peitos se escond��o.
Outro Genio mais astuto?Este novo ardil alcan?a,?Muda-se n'uma crian?a?De divino parecer.
Esconde as azas, e a venda;?Esconde as settas, e quanto?P��de d��-lo a conhecer.
Ella que v�� hum menino?Todo de gra?as cuberto,?T?o risonho, e t?o esperto?Alli s��zinho brincar.
A elle endireita os passos;?Finge Amor ter medo, e a Deosa?Mais se empenha em lhe pegar.
Ella corria chamando;?Elle fugia, e chorava:?Assim for?o onde estava?O descuidado Pastor.
Este, mal vio a belleza,?E o gentil menino, entende?A malicia do traidor.
P?e as m?os sobre os ouvidos,?Cerra os olhos, e constante?N?o quer ver o seu semblante,?N?o o quer ouvir fallar.
Qual Ulysses n'outra idade?Para illudir as Ser��as?Mandou tambores tocar.
Cupido, que a empreza via,?Julga o intento frustrado,?E de raiva transportado?O corpo no ch?o lan?ou.
Tra?ou a lingoa nos dentes;?Mett��o as unas no rosto,?E os cabellos arrancou.
O Genio, que se escondia?Entre os peitos da Pastora,?Ergu��o a cabe?a f��ra,?E o successo conhec��o.
Deixa o socego em que estava,?E vai ligeiro metter-se?No peito do bom Dirceo.
Apenas c'o brando peito?Lhe tocou a neve fria,?Com o calor que trazia?Lhe abrazou o cora??o.
D�� o Pastor hum suspiro,?Abre os seus olhos, e s��lta?Do apertado ouvido a m?o.
Logo que vir?o os Genios?Ao triste Pastor disposto?Para ver o lindo rosto,?Para as palavras ouvir.
Cada hum as armas toma,?Cada hum com ellas busca?Seu terno peito ferir.
Com os cabellos da Deosa?Lhe f��rma hum Cupido la?os,?Que lhe segur?o os bra?os,?Como se fossem grilh?es.
O Pastor j�� n?o resiste;?Antes beija satisfeito?As suas doces priz?es.
LYRA XXVI.
O destro Cupido hum dia?Extrahio mimosas cores?De frescos lyros, e rosas,?De jasmins, e de outras flores.
Com as mais delgadas pennas?Usa de huma, e de outra tinta,?E nos angulos do cobre?A quatro bellezas pinta.
Por fazer pensar a todos?No seu lizo centro escreve?Hum letreiro, que pergunta:?_Este espa?o a quem se deve_?
Venus, que vio a pintura,?E l��o a letra engenhosa,?P?z por baixo: _Eu delle cedo;?D��-se a Marilia formosa_.
LYRA XXVII.
Alexandre, Marilia, qual o rio?Que engrossando no Inverno tudo arraza;
Na frente das cohortes?C��rca, vence, abraza?As Cidades mais fortes.?Foi na gloria das armas o primeiro,?Morr��o na flor dos annos, e j�� tinha
Vencido o mundo inteiro.
Mas este bom Soldado, cujo nome?N?o ha poder algum, que n?o abata,
Foi, Marilia, s��mente?Hum ditozo pirata,?Hum salteador valente.?Se n?o tem huma fama baixa, e escura;?Foi por se p?r ao lado da injusti?a
A insolente ventura.
O grande Cesar, cujo nome v?a,?�� sua mesma Patria a f�� quebranta;
Na m?o a espada toma,?Opprime-lhe a garganta,?D�� Senhores a Roma.?Consegue ser her��e por hum delicto;?Se acaso n?o vencesse ent?o seria
Hum vil traidor proscripto.
O ser her��e, Marilia, n?o consiste?Em queimar os Imperios: move a guerra,
Espalha o sangue humano,?E despovoa a terra?Tambem o m��o tyranno.?Consiste o ser her��e em viver justo:?E tanto p��de ser her��e o pobre,
Como o maior Augusto.
Eu he que sou her��e, Marilia bella,?Seguindo da virtude a honroza estrada.
Ganhei, ganhei hum throno.?Ah! n?o manchei a espada,?N?o a roubei ao dono.?Ergui-o no teu peito, e nos teus bra?os:?E valem muito mais que o mundo inteiro
Huns t?o ditosos la?os.
Aos barbaros, injustos vencedores?Atorment?o remorsos, e cuidados;
Nem descan??o seguros?Nos Palacios cercados?De tropa, e de altos muros.?E a quantos nos n?o mostra a sabia historia?A quem mudou o fado em negro opprobrio
A mal ganhada gloria?
Eu vivo, minha bella, sim, eu vivo?Nos bra?os do descan?o, e mais do gosto:
Quando estou acordado,?Contemplo no teu rosto?De gra?as adornado;?Se durmo logo sonho, e alli te vejo.?Ah! nem desperto, nem dormindo s��be
A mais o meu desejo.
LYRA XXVIII.
Cupido tirando?Dos hombros a aljava,?N'um campo de flores?Contente brincava.
E o corpo tenrinho?Depois enfadado,?Incauto reclina?Na relva do prado.
Marilia formosa,?Que ao Deos conhecia,?Occulta espreitava?Quanto elle fazia.
Mal julga que dorme?Se chega contente,?As armas lhe furta,?E o Deos a n?o sente.
Os Faunos, mal vir?o?As armas roubadas,?Sahir?o das grutas?Soltando rizadas.
Acorda Cupido,?E a causa sabendo,?A quantos o insult?o?Responde, dizendo:
_Temieis as settas?Nas minhas m?os cruas??Vereis o que podem?Agora nas suas_.
LYRA XXIX.
O tyranno Amor risonho?Me apparece, e me convida?Para que seu jugo acceite;?E quer que eu passe em deleite?O resto da triste vida.
_O sonoro Anacreonte_?(Astuto o mo?o dizia)?_J�� perto da morte estava,?Inda de amores cantava;?Por isso alegre vivia_.
_Aos negros, duros pezares?N?o resiste hum peito fraco,?Se Amor o n?o fortalece:?O mesmo Jove carece?De Cupido, e mais de Baccho_.
Eu lhe respondo: _Perjuro?Nada creio ao que dizes;?Porque j�� te fui sujeito,?Inda conservo no peito?Estas frescas cicatrizes_.
Amor, vendo que da offerta?Algum apre?o n?o fa?o,?Me diz affoito que trate?De ir com elle a combate?Peito a peito, bra?o a bra?o.
Vou buscar as minhas armas;?Cinjo primeiro que tudo?O brilhante arn��z, e �� pressa?Ponho hum elmo na cabe?a,?Tomo a lan?a, e o grosso escudo.
Mal no Campo me apresento,?Marilia (oh Ceos!) me apparece:?Logo os olhos me fita,?O meu cora??o palpita,?A minha m?o desfallece.
Ent?o me diz o tyranno:?_Confessa louco o teu erro;?Contra as armas da belleza?N?o vale a externa defeza.?Dessa armadura de ferro_.
LYRA XXX.
Junto a huma clara fonte?A m?i de Amor se sentou:?Encostou na m?o o rosto,?No leve somno pegou.
Cupido, que a vio de longe,?Contente ao lugar corr��o;?Cuidando que era Marilia?Na face hum beijo lhe d��o.
Acorda Venus irada:?Amor a conhece; e ent?o?Da ousadia, que teve,?Assim lhe pede o
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