Marilia de Dirceo | Page 6

Tomás António Gonzaga
tu for t?o pouco?O pranto desatas,?Ah! d��-me atten?a?;?E como daquelle,?Que feres, e matas,?Na? tens compaixa?_?
LYRA XXI.
N?o sei, Marilia, que tenho,?Depois que vi o teu rosto;?Pois quanto n?o he Marilia,?J�� n?o posso ver com gosto.
Noutra idade me alegrava,?At�� quando conversava?Com o mais rude vaqueiro:?Hoje, �� bella, me aborrece?Inda o trato lizongeiro?Do mais discreto pastor.?Que effeitos s?o os que sinto!?Ser?o effeitos de amor?
S��io da minha cabana?Sem reparar no que fa?o;?Busco o sitio aonde moras,?Suspendo defronte o passo.
Fito os olhos na janella,?Aonde, Marilia bella,?Tu chegas ao fim do dia;?Se alguem passa, e te sa��da,?Bem que seja cortezia,?Se accende na face a c?r.?Que effeitos s?o os que sinto!?Ser?o effeitos de Amor?
Se estou, Marilia, comtigo,?N?o tenho hum leve cuidado;?Nem me lembra, se s?o horas?De levar �� fonte o gado.
Se vivo de ti distante,?Ao minuto, ao breve instante,?Finge hum dia o meu desgosto:?J�� mais, Pastora, te vejo?Que em teu semblante composto?N?o veja gra?a maior.?Que effeitos s?o os que sinto!?Ser?o effeitos de Amor?
Aonde j�� com o juizo;?Marilia, t?o perturbado,?Que no mesmo aberto sulco?Metto de novo o arado.?Aqui no cent��o p��go,?Noutra parte em v?o o c��go:?Se alguem comigo conversa,?Ou n?o respondo, ou respondo?Noutra coiza t?o diversa,?Que nexo t?o tem menor.?Que effeitos s?o os que sinto!?Ser?o effeitos de Amor?
Se geme o bufo agoureiro?S�� Marilia me desvella:?Enche-se o peito de magoa,?E n?o sei a causa della.
Mal durmo, Marilia, sonho,?Que f��ro le?o medonho?Te devora nos meus bra?os:?Gella-se o sangue nas veias.?E s��lto do somno os la?os?�� for?a da immensa dor.?Ah! que os effeitos que sinto?S�� s?o effeitos de Amor.
LYRA XXII.
Muito embora, Marilia, muito embora?Outra belleza, que n?o seja a tua,?Com a vermelha roda, a seis puxada,
Fa?a tremer a rua.
As paredes da salla aonde habita?Adorne a seda, e o trem�� dourado;?Pend?o largas cortinas, penda o lustre
Do t��to apainelado.
Tu n?o habitar��s Palacios grandes,?Nem andar��s nos coches voadores;?Por��m ter��s hum Vate, que te preze,
Que cance os teus louvores.
O tempo n?o respeita a formosura;?E da palida morte a m?o tyranna?Arraza os edificios dos Augustos,
E arraza a vil choupana.
Que bellezas, Marilia, florecer?o?De quem nem se quer temos a memoria??S�� podem conservar hum nome eterno
Os versos, ou a historia.
Se n?o houvesse Tasso, nem Petrarcha,?Por mais que qualquer dellas fosse linda,?J�� n?o sabia o mundo, se existir?o
Nem Laura, nem Clorinda.
He melhor, minha bella, ser lembrada?Por quantos h?o de vir sabios humanos,?Que ter urcos, ter coches, e thesouros,
Que morrem com os annos.
LYRA XXIII.
N'um sitio ameno?Cheio de rosas,?De brancos lyrios,?Murtas vi?osas;
Dos seus amores?Na companhia?Dirceo passava?Alegre o dia.
Em tom de gra?a,?Ao terno amante?Manda Marilia?Que toque, e cante.
P��ga na lyra,?Sem que a tempere,?A voz levanta,?E as cordas fere.
C'os doces pontos?A m?o atina,?E a voz iguala?A voz divina.
Ella, que teve?De rir-se a id��a,?Nem move os olhos?De assombro ch��a.
Ent?o Cupido?Apparecendo,?�� bella falla?Assim dizendo:
_Do teu amado?A lyra fias,?S�� porque delle?Zombando rias_?
_Quando n'um peito?Assento fa?o,?Do peito subo?�� lingoa, e bra?o_.
_Nem creias que outro?Estylo tome,?Sendo eu o mestre,?A ac??o teu nome_.
LYRA XXIV.
Encheo, minha Marilia, o grande Jove?De immensos animaes de toda a especie
As terras, mais os ares,?O grande espa?o dos salobros rios,
Dos negros, fundos mares.?Para sua defeza,?A todos d��o as armas, que convinha;
�� sabia Natureza.
D��o as azas aos passaros ligeiros;?D��o ao peixe escamoso as barbatanas:
D��o veneno �� serpente,?Ao membrudo Elefante a enorme tromba,
E ao Javali o dente.?Coube ao le?o a garra:?Com leve p�� saltando o servo foge;
E o bravo touro marra.
Ao homem d��o as armas do discurso?Que valem muito mais que as outras armas:
D��o-lhe dedos ligeiros,?Que podem converter em seu servi?o
Os ferros, e os madeiros;?Que tecem fortes la?os,?E forj?o raios com que aos brutos cort?o
Os v?os, mais os passos.
��s timidas donzellas pertencer?o?Outras armas, que tem dobrada for?a:
D��o-lhes a Natureza?Al��m do entendimento, al��m dos bra?os
As armas da belleza.?S�� ella ao Ceo se atreve,?S�� ella mudar p��de o gello em fogo,
Mudar o fogo em neve.
Eu vejo, eu vejo ser a formosura?Quem arrancou da m?o de Coriolano
A cortadora espada.?Vejo que foi de Helena o lindo rosto
Quem p?z em campo armada?Toda a for?a de Grecia.?E quem tirou o Sceptro aos Reis de Roma,
S�� foi, s�� foi Lucrecia.
Se podem lindos rostos, mal suspir?o,?O bra?o desarmar do mesmo Achilles;
Se estes rostos irados?Podem soprar o fogo da descordia
Em p��vos alliados;?Hes arbitra da terra;?Tu p��des dar, Marilia, a todo o mundo
A paz, e a dura guerra.
LYRA XXV.
O cego Cupido hum dia?Com os seus Genios fallava,?Do modo que lhe restava?De captivar a Dirceo.
Depois de larga disputa,?Hum dos Genios mais sagazes?Este conselho lhe d��o:
As settas mais agu?adas,?Como se em roxa batessem,?D?o nos seus peitos, e descem?Todas quebradas ao ch?o.
S�� as gra?as de Marilia?Podem vencer hum t?o duro,?T?o izento cora??o.
A fortuna desta empreza?Consiste em armar-se o la?o,?Sem que sinta ser o bra?o,?Que lho prepara, de Amor.
Que elle vive como as aves,?Que j�� deix��r?o as pennas?No visco do Ca?ador.
Na for?a deste conselho?O raivoso Deos socega,?E �� tropa a honra entrega?De o fazer executar.?Todos pertendem ganh��-la,?Batem as azas ligeiros,?E v?o as armas buscar.
Os primeiros se occult��r?o?Da Deosa nos olhos bellos;?Qual se enla?ou nos cabellos;?Qual ��s faces se prend��o.
Hum amorinho cansado?Cahio
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