Marilia de Dirceo | Page 5

Tomás António Gonzaga
torpe avarento?As arcas de barras ch��as:?Eu n?o beijo os v��s thesouros;?Beijo as douradas cad��as,?Beijo as settas, beijo as armas?Com que o cego Amor venc��o:?Bens, que valem sobre a terra,?E que tem valor no Ceo.
Ama Apollo o fero Marte,?Ama, Alceo, o mesmo Jove:?N?o he, n?o, a v? riqueza,
Sim belleza,?Quem os move.?Posto ao lado de Marilia?Mais que mortal me contemplo:?Deixo os bens, que aos homens ceg?o,?Sigo dos Deoses o exemplo:?Amo virtudes, e dotes;?Amo em fim, prezado Alceo,?Bens, que valem sobre a terra,?E que tem valor no Ceo.
LYRA XVI.
Eu, Glauceste, n?o duvido?Ser a tua Eulina amada
Pastora formosa,?Pastora engra?ada.?Vejo a sua c?r de rosa,?Vejo o seu olhar divino,?Vejo os seus purp��reos bei?os,?Vejo o peito crystallino;?Nem ha cousa, que assemelhe?Ao crespo cabello louro.?Ah! que a tua Eulina vale,?Vale hum immenso thesouro!
Ella vence muito, e muito?�� laranjeira copada,
Estando de flores,?E frutos ornada.?He, Glauceste, os teus Amores;?E nem por outra Pastora,?Que menos dotes tivera,?Ou que menos bella f?ra,?O meu Glauceste can?��ra?As divinas cordas de ouro.?Ah! que a tua Eulina vale,?Val hum immenso thesouro!
Sim, Eulina he huma Deosa;?Mas an?ma a formosura
De huma alma de f��ra,?Ou inda mais dura.?Ah! quando Alceo pond��ra?Que o seu Glauceste suspira,?Perde, perde o soffrimento,?E qual enfermo delira!?Tenha embora brancas faces,?Meigos olhos, fios de ouro,?A tua Eulina n?o vale,?N?o vale immenso thesouro.
O fuzil, que imita a cobra,?Tambem aos olhos he bello;
Mas quando alum��a,?Tu tremes de velo.?Que importa se mostre ch��a?De mil bellezas a ingrata??N?o se julga formosura?A formosura, que mata.?Evita, Glauceste, evita?O teu estrago, e desdouro;?A tua Eulina n?o vale,?N?o vale immenso thesouro.
A minha Marilia quanto?�� natureza n?o deve!
Tem divino rosto,?E tem m?os de neve.?Se mostro na face o g?sto,?Ri-se Marilia contente:?Se canto, canta comigo;?E apenas triste me sente,?Limpa os olhos com as tran?as?Do fino cabello louro.?A minha Marilia vale,?Vale hum immenso thesouro.
LYRA XVII.
Minha Marilia,?Tu enfadada??Que m?o ousada?Perturbar p��de?A paz sagrada?Do peito teu?
Por��m que muito?Que irado esteja?O teu semblante?Tambem troveja?O Claro Ceo.
Eu sei, Marilia,?Que outra Pastora?A toda a hora,?Em toda a parte,?C��ga namora?Ao teu Pastor.
Ha sempre fumo?Aonde ha fogo;?Assim, Marilia,?Ha zelos, logo?Que existe amor.
Olha, Marilia,?Na fonte pura?A tua alvura,?A tua bocca,?E a compostura?Das mais fei??es.?Quem tem teu rosto,?Ah! n?o receia,?Que terno amante?Solte a cadeia,?Quebre os grilh?es.
N?o anda Laura?Nestas campinas?Sem as boninas?No seu cabello,?Sem pelles finas?No seu jub?o.
Por��m que importa??O rico aceio?N?o d��, Marilia,?Ao rosto feio?A perfei??o.
LYRA XVIII.
N?o ves aquelle velho respeitavel,
Que �� moleta encostado,?Apenas mal se move, e mal se arrasta??Oh quanto estrago n?o lhe fez o tempo?
O tempo arrebatado,?Que o mesmo bronze gasta.
Enrug��r?o-se as faces, e perd��r?o
Seus olhos a viveza;?Voltou-se o seu cabello em branca neve:?J�� lhe treme a cabe?a, a m?o, o queixo;
Nem tem huma belleza?Das bellezas que teve.
Assim tambem serei, minha Marilia?Daqui a poucos annos;?Que o impio tempo para todos corre.?Os dentes cahir��?, e os meus cabellos.
Ah! sentirei os damnos,?Que evita s�� quem morre.
Mas sempre passarei huma velhice?Muito menos penoza.?N?o trarei a moleta carregada:?Descan?arei o j�� vergado corpo
Na tua m?o piedoza,?Na tua m?o nevada.
As frias tardes em que negra nuvem?Os chuveiros n?o lance,?Irei comtigo ao prado florescente:?Aqui me buscar��s hum sitio ameno,
Onde os membros descance,?E ao brando Sol me aquente.
Apenas me sentar, ent?o movendo?Os olhos por aquella?Vistoza parte, que ficar fronteira;?Apontando direi: _Alli fall��mos,
Alli, �� minha bella,?Te vi a vez primeira_.
Verter��? os meus olhos duas fontes,?Nascidas de alegria:?Far?o teus olhos ternos outro tanto:?Ent?o darei, Marilia, frios beijos,
Na m?o formosa, e pia,?Que me limpar o pranto.
Assim ir��, Marilia, docemente?Meu corpo supportando?Do tempo deshumano a dura guerra.?Contente morrerei, por ser Marilia
Quem sentida chorando,?Meus ba?os olhos cerra.
LYRA XIX.
Em quanto pasta alegre o manso gado,?Minha bella Marilia, nos sentemos?�� sombra deste cedro levantado.
Hum pouco meditemos?Na regular belleza,?Que em tudo quanto vive, nos descobre
A sabia Natureza.
Attende, como aquella vaca preta?O novilhino seu dos mais separa,?E o lambe, em quanto chupa a liza teta.
Attende mais, �� chara,?Como a ruiva cadella?Supporta que lhe morda o filho o corpo;
E salte em cima della.
Repara, como cheia de ternura?Entre as azas ao filho essa ave aquenta:?Como aquella esgravata a terra dura,
E os seus assim sustenta;?Como se encoleriza,?E salta sem receio a todo o vulto,
Que junto delles piza.
Que gosto n?o ter�� a esposa amante?Quando der ao filhinho o peito brando,?E reflectir ent?o no seu semblante!
Quando, Marilia, quando?Disser comigo: _he esta?De teu querido pai a mesma barba,
A mesma bocca, e testa_.
Que gosto n?o ter�� a m?i, que toca,?Quando o tem nos seus bra?os, c'o dedinho?Nas faces graciosas, e na bocca
Do innocente filhinho!?Quando, Marilia bella,?O tenro infante j�� com risos mudos
Come?a a conhec��-la!
Que prazer n?o ter?o os pais ao verem?Com as m?is hum dos filhos abra?ados;?Jogar outros a luta, outros correrem
Nos cordeiros montados!?Que estado de ventura!?Que at�� naquillo, que de pezo serve,
Inspira Amor do?ura.
LYRA XX.
Em huma frondosa?Roseira se abria?Hum negro bot?o.?Marilia adorada?O p�� lhe torcia?Com a branca m?o.
Nas folhas vi?osas?�� abelha inraivada?O corpo escond��o.?Tocou-lhe Marilia,?Na m?o descuidada?A fera mord��o.
A penas lhe morde,?Marilia gritando,?C'o dedo fugio.?Amor, que nos bosques?Estava brincando,?Aos ais acudio.
Mal vio a rotura,?E o sangue espargido,?Que a Deoza mostrou;?Rizonho beijando?O dedo offendido,?Assim lhe fallou.
_Se
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