Marilia de Dirceo | Page 4

Tomás António Gonzaga
assim t?o terno;?Nem p��de competir comigo aquelle,
Que desce ao negro Inferno.
Deixemos, �� Musa,?Empreza maior,?S�� posso seguir-te?Cantando de Amor.
Mal repito _Marilia_, as doces aves?Mostr?o signaes de espanto,?Erguem os collos, volt?o as cabe?as,
Par?o o ledo canto;?Move-se o tronco, o vento se suspende
Pasma o gado, e n?o come:?Quanto podem meus versos! Quanto p��de
S�� de Marilia o nome!
Deixemos, �� Musa,?Empreza maior;?S�� posso seguir-te?Cantando de Amor.
LYRA XII.
Topei hum dia?Ao Deos vendado,?Que descuidado?N?o tinha as settas?Na impia m?o.
Mal o conhe?o,?Me s��be logo?Ao rosto o fogo,?Que a raiva accende?No cora??o.
_Morre, Tyranno,?Morre, inimigo_!?Mal isto digo,?Raivoso o ap��rto?Nos bra?os meus.
Tanto que o mo?o?Sente apertar-se,?Para salvar-se?Tambem me aperta?Nos bra?os seus.
O leve corpo?Ao ar levanto,?Ah! e com quanto?Impulso o trago?Do ar ao ch?o!
Poude suster-se?A vez primeira;?Mas �� terceira?Nos p��s, que alarga,?Se firma em v?o.
Mal o derrubo,?Ferro agu?ado?No j�� can?ado?Peito, que arqueja,?Mil golpes deo.
Suou seu corpo;?Trem��o gemendo;?E �� c?r perdendo,?Bat��o as azas;?Em fim morreo.
Qual bravo Alcides,?Que a hirsuta pelle?Vestio daquelle?Grenhoso bruto,?A quem matou.
Para que pr��ve?A empreza honrada,?C'o a m?o manchada?Recolho as settas,?Que me deixou.
Ouvio Marilia?Que Amor gritava,?E como estava?Vizinha ao sitio?Valer-lhe vem.
Mas quando chega?Espavorida,?Nem j�� de vida?O f��ro monstro?Indicio tem.
Ent?o Marilia,?Que o v�� de perto?De p�� cuberto,?E todo involto?No sangue seu;
As m?os aperta?No peito brando,?E afflicta dando?Hum ai, os olhos?Levanta ao Ceo.
Chega-se a elle?Compadecida;?Lava a ferida?C'o pranto amargo,?Que deramou.
Ent?o o monstro?Dando hum suspiro,?Fazendo hum gyro?C'o a ba?a vista,?Resuscitou.
Respira a Deosa;?E vem o gosto?Fazer no rosto?O mesmo effeito,?Que fez a d?r.
Que louca id��a?Foi a que tive!?Em quanto vive?Marilia bella,?N?o morre Amor.
LYRA XIII.
Oh! quantos riscos,?Marilia bella,?N?o atropella?Quem c��go arrasta?Grilh?es de Amor!
Hum peito forte,?De acordo falto,?Zomba do assalto?Do vil traidor.
O amante de Hero?Da luz guiado,?C'o peito ousado?Na escura noite?Rompia o mar,
Se o Helesponto?Se encapellava,?Ah! n?o deixava?De lhe ir fallar.
Do cantor Thracio?A heroicidade?Esta verdade,?Minha Marilia,?Prova tambem.
Cheio de esf?r?o?Vai ao Cocyto?Buscar afflito?Seu doce bem.
Que ac??o t?o grande?Nunca intentada!?Ao p�� da entrada?J�� tudo assusta?O cora??o!
Pendentes rochas,?Campos adustos,?Que nem arbustos?Nem hervas d?o.
Na funda fralda?De calvo monte,?Corre Acheronte,?Rio de ardente?Mortal licor.
Tem o barqueiro?Testa enrugada,?Vista inflammada,?Que mete horror.
Que seguran?as!?Que fechaduras!?As portas duras?N?o s?o de lenhos;?De ferro s?o.
Por tres gargantas,?Quando alguem bate,?Raivoso late?O negro c?o.
Dentro da cova?So?o lamentos;?E que tormentos?N?o mostra aos olhos?A escassa luz!
Minos a pena?Manda se intime?Igual ao crime,?Que alli conduz.
Grande penedo?Este carrega;?E apenas chega?Do monte ao cume,?O faz rolar.
A pedra sempre?Ao valle desce,?Sem que elle cesse?De a ir buscar.
Nas limpas aguas?Habita aquelle:?Por cima delle?Verdej?o ramos,?Que pomos d?o.
Debalde a bocca?Molhar pertende;?De balde estende?Faminta m?o.
Tem outro o peito?Despeda?ado:?Monstro esfaimado?J�� mais descan?a?De lho ro��r.
A r?xa carne,?Que o abutre come,?N?o se consome,?Torna a crescer.
Mas bem que tudo?Pavor inspira,?Tocando a lyra?Desce ao Averno?O bom Cantor.
N?o se entorpece?A lingua, e bra?o;?N?o treme o passo,?N?o perde a c?r.
Ah! tambem quanto?Dirceo obr��ra,?Se precis��ra,?Marilia bella,?Do esfor?o seu!
Romp��ra os mares?C'o peito terno,?F?ra ao Inferno,?Sub��ra ao Ceo.
Aos dois amantes?De Thracia, e Abydo?N?o deo Cupido?Do que aos mais todos?Maior valor.
Por seus vassallos?For?as reparte,?Como lhes parte?Os gr��os de Amor.
LYRA XIV.
Minha bella Marilia, tudo passa;?A sorte deste mundo he mal segura;?Se vem depois dos males a ventura,?Vem depois dos prazeres a desgra?a.
Est?o os mesmos Deoses?Sujeitos ao poder do impio Fado:?Apollo j�� fugio do Ceo brilhante,
J�� foi Pastor de gado.
A devorante m?o da negra Morte?Acaba de roubar o bem, que temos;?At�� na triste campa n?o podemos?Zombar do bra?o da inconstante sorte.
Qual fica no sepulchro,?Que seus a v��s ergu��r?o, descan?ando:?Qual no campo, e lhe arranca os frios casos
Ferro do torto arado.
Ah! em quanto os Destinos impiedosos?N?o volt?o contra n��s a face irada,?Fa?amos, sim fa?amos, doce amada,?Os nossos breves dias mais ditosos.
Hum cora??o que frouxo?A grata posse de seu bem difere,?A si, Marilia, a si proprio rouba,
E a si proprio fere.
Ornemos nossas testas com as flores,?E fa?amos de feno hum brando leito,?Prendamo-nos, Marilia, em la?o estreito,?Gozemos do prazer de s?os Amores.
Sobre as nossas cabe?as,?Sem que o poss?o deter, o tempo corre;?E para n��s o tempo, que se passa,
Tambem, Marilia, morre.
Com os annos, Marilia, o g?sto falta,?E se entorpece o corpo j�� can?ado;?Triste o velho cordeiro est�� deitado,?E o leve filho sempre alegre salta.
A mesma formosura?He dote, que s�� goza a mocidade:?Rug?o-se as faces, o cabello alveja,
Mal chega a longa idade.
Que havemos d'esperar, Marilia bella??Que v?o passando os florecentes dias??As glorias, que vem tarde, j�� vem frias;?E p��de em fim mudar-se a nossa estrella.
Ah! n?o, minha Marilia,?Aproveite-se o tempo, antes que fa?a?O estrago de roubar ao corpo as for?as,
E ao semblante a gra?a.
LYRA XV.
A minha bella Marilia?Tem de seu hum bom thesouro,?N?o he, doce Alceo, formado
Do buscado?Metal louro.?He feito de huns alvos dentes,?He feito de huns olhos bellos,?De humas faces graciosas,?De crespos, finos cabellos;?E de outras gra?as maiores,?Que a natureza lhe d��o:?Bens, que valem sobre a terra,?E que tem valor no Ceo.
Eu posso romper os montes,?Dar ��s correntes desvios,?P?r cercados espa?osos
Nos caudosos?Turvos rios.?Posso emendar a ventura?Ganhando astuto a riqueza;?Mas, ah! charo Alceo, quem p��de?Ganhar huma s�� belleza?Das bellezas, que Marilia?No seu thesouro met��o??Bens, que valem sobre a terra,?E que tem valor no Ceo.
Da sorte, que vive o rico?Entre o fausto alegremente,?Vive o guardador de gado
Apoucado,?Mas contente.?Beije pois
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