K4 O Quadrado Azul | Page 7

José de Almada Negreiros
moldura igual ao recordar-me triste? J�� nem preciso recordar-me triste, j�� existe n'aquella moldura. Se tu soub��sses a minha d?r por aquella pedra ser irregular! Porque n?o lhe d��s um n?me? Faz-me lembrar as coisas iguais a mim mas que ainda n?o sabem do quadrado azul. Se ��s Deus porque me n?o deixas dizer o segr��do da felicidade a esta gente? Doe-me tanto v��-los parvos! E a creada n��a disse-me em italiano se eu queria tomar banho primeiro porque os d?ces estavam can?ados de pensar e que se eu n?o soub��sse responder l��go a seguir j�� uma das americanas tinha tomado o absyntho mais c��do pra me vir beijar o sexo. Preferi o banho.--Sim, menina, disse em italiano tendo-se ajoelhado n'uma reverencia antes de sair. Corri ao esp��lho. Eu era a minha amante! Mas a inteligencia era absolutamente a minha. Extranhava tudo: o atrito das coxas, a curva das pernas, o paladar, o perfume natural da pelle, os cabellos compridamente macios e loiros, os habitos da lingua, a dire??o dos gestos, as atitudes, tudo diferente e tudo melhor. De repente o corpo come?ou a desmanchar-se-me como duas metades mal-coladas sempre com os movimentos d'ella intersecionados do meu corpo n�� a regressar lentamente de um desaparecimento. E outra vez se diluia pra ser apenas a minha amante toda n��a mas com a minha intelligencia. Eu n?o tinha absolutamente vontade nenhuma sobre os seus gestos quotidianos, sobre os seus habitos. Eu era como que alguem que a disfruct��sse na intimidade espreitando-a de dentro dos olhos d'ella. Fui inconscientemente abrir um dos guarda-vestidos e vi-a ter todos os gestos que se teem pra se escolher um vestido que v�� bem com a disposi??o do accordar mas o vestido preferido era o meu corpo m��lle. N'isto entrou a creada ainda toda n��a e ajudou-a a vestir-lhe o meu corpo molle tendo ficado muito contente com ella por ter resolvido p?r hoje aquelle vestido que lhe ficava t?o bem. Eu quiz dizer qualquer coisa que me n?o lembra mas a minha b?cca disse sem querer em italiano: traga-me os sapatos de velludo! Mas a creada sem gestos que confirmassem o que dizia poz-se a declamar cadenciadamente: Porque o desejo tem limite e quando se �� homem, isto ��, quando se n?o atingiu ainda uma forma das imediatamente superiores ao genero humano tudo o que aspire o ao-de-l�� prehenche a deficiencia mais proxima plo deslocamento da intellectualidade sem interven??o de nenhuma das duas vontades. Depois, saiu do quarto por um instante e a voz d'ella continuou a declamar da mesma distancia: Se tua m?e f?sse viva n?o tinhas tu um galgo que te lambe as m?os. O galgo lambe-te as m?os por tua m?e te ter morrido. Se tua m?e n?o tivesse morrido com p��na de te deixar o galgo n?o te lambia as m?os. Se tua m?e n?o tivesse morrido antes de te fazer sentir o grande amor que ela sentia por ti n?o tinhas tu um galgo que tem a mania de te lamber as m?os. Se tua m?e n?o se sufoc��sse no desejo de querer por f?r?a que tu soub��sses, dentro dos teus 2 annos, que ella estoirava no excesso de uma paix?o por ti n?o tinhas tu um galgo damnado que te morde as canellas se o n?o deixas constantemente beijar-te as m?os. �� que todo esse excesso de paix?o eternizou-se em transparencia e foi-se adaptando pouco a pouco no c��rebro do teu galgo, elemento de vida mais proximo de ti. Mas n?o te creias feliz porque toda essa raiva do teu galgo tem a consciencia dos sentidos vivos de tua m?e. Essa massa flu��da e indesagregravel que �� toda a energia da paix?o de tua m?e por ti tem a consciencia de se ter acondicionado no craneo do teu galgo. Por isso tua m?e tem a maldi??o de assistir �� lucidez da sua intelligencia na inexpress?o do teu galgo que te lambe as m?os por uma vontade alheia �� do teu galgo e diferente �� da tua m?e.? E ainda esta disserta??o n?o tinha terminado e j�� a creada tinha voltado co'os sapatos de velludo. Eu estremeci sacudido por um choque t?o violento como se o proprio Sol se suicid��sse de l�� de cima sobre a minha cabe?a e nos tiv��ssemos esmigalhado os dois em escurid?o. Mas Eu n?o era Eu nem Eu era a minha amante. Eu era apenas a minha intelligencia fechada dentro da cabe?a da minha amante e sem comunica??o absolutamente nenhuma co'a minha amante. Eu tinha a excita??o extacticamente atropelada da paralysia geral mas o meu c��rebro pretendia rebentar em congest?o de estrondo que par��sse a terra estampada contra o Sol como uma laranja esmigalhada que deix��sse o Sol todo apagado em n��doa n��gra de sangue pisado. E era a bocca d'ela que a minha intelligencia via
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