K4 O Quadrado Azul | Page 6

José de Almada Negreiros
essas intelligencias �� que lhes permitem a intensidade de vibra??o psichica mas a vontade da direc??o das conchas por todos os deslocamentos do capricho e da necessidade e da abstra??o �� uma autonomia irrevogavel das proprias conchas absolutamente alheias da causa que lhes concede sentir. N'este momento o quadrado azul era o sitio ex��cto onde existia perpendicularmente a maior profundidade oceanica. Esta seria a minha altura depois de sommar a quatro e quatro e sem intervallos todos os gr?os de areia cheios das fantasias de todos os que at�� este instante pensaram em mim quer f?sse com a no??o ex��cta da minha intensidade quer f?sse at�� a inconsciencia de terem pensado num qualquer que f?sse ex��ctamente Eu. A creada veiu trazer-me n'uma bandeja de cristral contente a rir cerimonia uma imensidade de compotas e refrescos. Devia ser uma creada nova com certeza, porque eu n?o a reconheci. Mas t?o pouco podia comprehender que tivessem tido o espirito de acceitar como servente uma extravagante que logo no primeiro dia entrava completamente n��a no meu quarto a servir-me um primeiro almo?o que nunca f?ra t?o exuberantemente de meu habito. E com uma d'estas naturalidades impressionantes desdobrou os guardanapos quadradamente azues sobre uma meza que eu tambem nunca conheci no meu quarto e foi dispondo com requinte decorativo pr�� meu apetite os cristaes, os reflexos, os d?ces e as c?xas. Eu ia pouco a pouco enchendo-me daquella extranheza de nunca ter estado naquelle quarto e pra sentir melhor esse palpitar nervoso do meu cora??o levei a m?o sobre o meu peito mas tinha um seio de mulher. Ella descerrou as janellas cautelosamente e ent?o reparei espantado que estando eu todo descoberto o meu corpo n�� era de mulher. A pelle viciosamente perfumada tinha um tacto desmaiado de setim-velludo interminavel inexgotavel no meu desejo. Eu proprio sentia em mim uma diferen?a de peso que me favorecia uma agilidade fragil que eu tanto quizera resolvida. E eu que apenas tinha sentido no meu c��rebro a alegria dos reflexos dos cristaes, o requinte do perfume das compotas, a musica de um quarto de accordar, o servilismo dos apanhados das cortinas, o dever confidencial dos moveis, a selec??o afectiva dos tap��tes, a embriaguez intima dos bibelots, agora era com todo o meu corpo que possuia essas sensibilidades t?o intensificadamente independentes nos seus contornos, nas suas transparencias, nos seus logares, nas suas substancias que a carne toda me deliciava demoradamente em sp��smos de p��ros alternadamente em desafios de mais g?so. Mas agora, como prova da verdade, eu j�� sentia tambem nos meus joelhos, n'uma satisfa??o convexa de abundancia, as ondula??es sensuaes do tecto no mesmo rithmo de c��o em que se mastrobava a americana viciosamente esguia de music-hall. E as paredes despegavam-se de serem definitivas e ou se enrolavam num gesto de conquista ou se confessavam finalmente s��phicas n'uma apologia oriental de serpentes do peccado, venenosamente magnetisadas plo meu sexo musical. Por fim, eu cria j�� absolutamente em Deus; aquelle meu imprudente impossivel de nunca poder vir a ter a Italia toda sobre o meu travesseiro excedia-se a tal ponto em realiza??o que eu j�� admitia enthusiasticamente na minha opini?o a superioridade do Homem se n?o plo que elle exprimia ao menos plo que elle sentia. Ah! mas d��e muito mais vir a ter a certeza que nunca houve nenhum homem estupido pra dentro quando pra f��ra a maioria transp?e o ignobil. Mas assim, sim! nem ha a necessidade do sp��smo animal quando se domina o instante total de uma nacionalidade por todas as nuances da deprava??o. Que deficiente que �� a express?o do genio! Pra que hav��mos de comprovar o restricto da express?o em tentar litterariamente archivar a vida? �� preferivel viv��-la, real?a-la no decorrer, n?o pla necessidade da divulga??o artistica mas pla intensidade do momento unico. N?o te lastimes, meu polidor das unhas, eu n?o te serei ingrato como os outros. Eu saberei transparecer em ti esta minha paix?o ardente por esse teu gesto curvado de espelhar as unhas em que escondes por vergonha todos os desejos intimos de meio mundo que te usa. Meu Deus! permites que eu pense na Felicidade da vida se todos tivessem a brutalidade da minha Intelligencia? Rep��ra tu, �� Deus, como eu fa?o o possivel pra n?o te comprehender! que b��sta eu desencantar-te em qualquer f��rma de jarra pra ella deixar logo de ser a minha amante pra ser um gesto teu! Como queres tu que eu n?o te admitta, se o meu sexo nunca repetiu um espasmo? E n?o fui eu que revelei que a elegancia do toilette me emendou as ancas? julgavas que eu n?o sabia que me espreitavas do esp��lho quando eu n?o me via ao esp��lho? Eu vi-te ainda a fugir. Se sabes que eu valho tanto porque me n?o dizes a raz?o de ser aquella
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