Folhas cahidas, apanhadas na lama | Page 3

Camilo Castelo Branco
rubra e gorda,?Acerando o epygramma,?Nem se quer poupando a _ama_,?Que lhe faz em casa a s?rda.
Ha-de v��r o millionario?Brazileiro, com mil tretas,?A contar, com sujas cores,?As lendas dos seus amores?Com as _suas_ trinta pretas.
Estes taes s?o os que infamam?A mocidade infeliz!?S?o estes em cuja tez?O oleo da estupidez?�� da vergonha o verniz.
A mocidade n?o pode?Venc��l-os, n?o pode, n?o!?Dominam, s?o respeitados,?Representam vinculados?Os tempos da corruc??o.
Nascidos, quando por terra?Os homens lan?aram Deus;?Tem s�� f�� no sensualismo,?E escarnecem com cynismo,?As cren?as filhas dos ceus.
Gangrenado o corpo e alma,?Sem saber, e sem piedade,?S?o authomatos de barro,?Que resistem ao catharro?Pr'a vexar a humanidade.
Onde existe a virgem pobre,?Que de maguas vive cheia,?L�� vai ter uma mensagem?Da senil libertinagem,?Que o pudor lhe regateia.
Perguntai nesses alcouces?De miseria e compaix?o,?Quantas victimas da fome?A deshonra ahi consomme,?E de quem victimas s?o.
Heis d'ouvir factos nojentos?Destes velhos que se arrastam?Sobre a lama das torpezas,?Das luxurias e villezas?Em que, cynicos, repastam.
Velho sou, bem alto o disse;?Mas deshonro-me de ser?Desta gera??o de velhos,?Em que os mo?os tem espelhos?Onde infamias possam ver!
Mocidade generosa!?Os teus crimes, tem nobreza;?Quando falla a consciencia,?Nem negaes a Providencia,?Nem manchaes a natureza.
Elles n?o; sempre atufados?Em nojentos tremedaes,?Cr��em s�� no seu dinheiro,?No cavaco do _palheiro_,?Na barriga, e nada mais.
A Cesar o que �� de Cesar,?Aos velhos o que �� dos velhos!?Quem da crytica se encarga,?Deve andar estrada larga,?E n?o metter-se por quelhos.
CONTO MORAL.
Um _attach��_, que vivera?Em Pariz uns quatro mezes,?Voltando �� patria mesquinha,?N?o roubou nem palavrinha?Aos seus amigos francezes.
Quando entrou nos patrios lares,?J�� n?o era o mesmo filho;?Sua m?e dobando estava,?E o _attach��_ perguntava?Que nome tinha o sarilho?
Desceu �� loja onde estava?O honrado pai ao balc?o.?E mal dera ainda um passo,?Quando viu que estava um enga?o?Estendido alli no ch?o.
Ora, o enga?o tinha uns dentes,?Onde o tolo p?e um p��,?Quando ao pai enthusiasmado,?Perguntou todo anafado:?_Este engarilho que ��?_
Vai o cabo levantou-se,?Que assim era de suppor;?Vem direito ao infeliz?Quebra a ponta do nariz,?Do futuro embaixador!
MORAL.
N?o venham fazer-se finos?�� patria os _attach��s_,?Quem vai tolo tolo volta,?Inda que traga uma escolta?De anedoctas dos _Caf��s_.
EPYSTOLA
AO EXCM.^o VISCONDE DE ATHOGUIA EM DUAS VIDAS; MINISTRO DA MARINHA DOS TRES BRIGUES, E DOS NEGOCIOS ESTRANGEIROS... AO SENSO COMMUM.
Illustre paspalh?o, pasmo dos orbes,?Nata da estupidez, alcool dos parvos,?De Campanhan o bardo te sauda!
Eu nunca fui sentar-me �� tua porta,?Mendigando merc��s; nunca os meus cantos,?Fedendo ao macassar da vil lisonja,?As nedeas ventas incensar te foram!?�� livre a minha voz: creiam-me os povos!?Nobre feudo pagar aos grandes parvos?�� do bardo a miss?o. A minha �� esta.
Ha muito que eu de ti pasmado andava,?Contando �� minha Antonia, e aos pequenos,?O nome que no peito escripto tinha.?Em casa do Francisco da Thomasia?Os teus discursos li, Visconde incrivel!?N'aquellas chatas caras que me ouviam,?Vi faiscas saltar de enthusiasmo.
Beb��mos-te �� saude, a rego cheio!?E, no excesso do goso, os teus amigos?N?o podiam lamber-se... eram uns cachos!
Tu, mais novo que o neto, ousado Gorgias,?Ha pouco trituraste os cabralistas?No rijo almofariz do craneo ?co.?Salvaste Roma, �� gan?o!.. se n?o grasnas?Piravam-se os taes p��os[1] e a Lusitania,?Viuva dos seus p��os, ia-se �� mingua!?��s o Curcio das lonas, que remiste[2]
Do jogo infame da Albion perversa?A patria dos Affonsos e Affonsinhos!?A divida fatal, chamada externa,?Saldaste-a c'o producto dessas chapas,?Em que fica chapada a crassa asneira,?Eterna viscondessa d'Athoguia!
Do _Conde de Thomar_ se intitulava?O patacho fatal, terror dos povos!?Fulminaste o patacho! A Europa accesa,?Pedira-te energia audaciosa.?Passaste heroica esponja sobre o nome,?E fizeste callar a voz da Europa!
�� Jervis! tu nem sabes quanto vales!?Que o diga Campanhan, Valbom, S. Cosme,?Onde eu pude chegar, e a minha Antonia.
A machado e eix��, de p��o castanho,?Um busto constru��: era o teu busto.?Teu nome eternisei, nome que teve?Um _u_, maldito _u_, que tantas febres?Na mente escandecida te abraz��ra!
N?o sei se diga mais, palavra d'honra!?Com esta n?o te enfado mais, visconde.?N?o desdenhes vaidoso a offerta humilde,?Que mesquinho reptil aos p��s te arrasta.?Recebe dusia e meia de lampreias,?Cosinhadas por mim; s?o de escabeche...?A proposito, amigo, ha quanto tempo?Conservas de escabeche a intelligencia?
[1] S. exc.^a mandou vender os p��os, porque deu na melgueira d'uns empregados, que os regeneravam �� surelfa, com grave detrimento da marinha portugueza.
[2] S. exc.^a vendeu umas lonas, cujo producto fez subir os fundos em Londres, e permittiu a construc??o de trinta navios de guerra, com que s. exc.^a espera ?sulcar as salsas ondas d'Amphitrite,? segundo a gravissima opini?o do snr. J. M. Grande.
O MINISTRO E O JORNALISTA.
(_Dealogo_).
MINISTRO
Eu vim chamado ao leito desta patria?Matava-a a corrup??o, e eu salvei-a!?Se prostrada jazia, ou talvez morta,?Qual Lazaro da campa, alevantei-a!
JORNALISTA
De certo levantou Vossa Excellencia!?Que brade embora a vil opposi??o...?Esqu��lidos vestigios de gangrena?Bem profundos deixou a corrup??o.
MINISTRO
Se cr�� nessas doutrinas luminosas,?E quer ser prestadio a Portugal,?Acceite a empreza honrosa, augusta, e nobre,?D'expol-as, sustental-as n'um jornal.
JORNALISTA
Empreza honrosa ��; della me ufano!?Irei apostolar o credo novo;?Direi ��s multidoens verdades francas,?Ser�� o meu jornal jornal do povo.
MINISTRO
Bem sei que da defeza �� ��rdua a luta...?Odeia-me, sem causa, esta na??o...?Embora! na grandeza dos servi?os?Compete ao defensor m?r
Continue reading on your phone by scaning this QR Code

 / 10
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.