Elegias | Page 6

Teixeira de Pascoais
outeiro.?Sua Imgem chimerica fluctua,?Deante de mim, no espa?o: é nevoeiro?Vestindo de emo??o a terra nua...
E como na minh'alma se insinua?Aquele etéreo Vulto... am?r primeiro!?Ou?o-o falar, lá fóra, á luz da lua.?Vejo-o brincar na sombra do terreiro.
Apenas vêm meus olhos, n'este mundo,?O seu perfil angelico, o seu fundo,?Misterioso, verde negro olhar...
Vejo uma estrela? é ele. Vejo um lirio??é ele. Tudo é ele. E o meu delirio?é ele: é o seu espírito a cantar!
DEPOIS DA VIDA
Quando meu cora??o parar desfeito?Em sombra, na profunda sepultura,?E o meu sêr, já phantastico e perfeito,?Vaguear entre o Infinito e a terra dura;
Quando eu sentir, emfim, todo o meu peito?A transformar-se em constelada Altura;?Eu, divino Phantasma, o claro Eleito,?O Enviado da Vida á Morte escura;
Quando eu f?r para mim minha esperan?a,?Meu proprio am?r jamais anoitecido,?E a minha sombra apenas f?r lembran?a;
Quando eu f?r um Espectro de Saudade,?Entre o luar e a nevoa amanhecido,?Serei comtigo, Am?r, na Eternidade.
O ENCONTRO COM O RETRATO
Receio o teu encontro, pobre M?e,?Com o retrato de teu Filho. Vaes?Contemplar suas formas materiaes,?O que pertence á morte e a mais ninguem...
Mas para que exaltar ainda mais?Aquela d?r que é só do mundo? Tem?Paciencia. N?o o vejas. Olha bem:?De que servem as lagrimas e os ais?...
Essa d?r n?o a ames, que é profana.?Sim: n?o adores nele a forma humana,?A ilusoria aparencia, o sonho v?o...
Pois é verdade, ó M?e, que tens presente?Seu imortal espírito inocente?Em ti mesma, em teu proprio cora??o!...
NA MINHA SOLEDADE
Aqui, por estes sitios onde nós?Vivêmos; tu brincando no jardim;?Eu a ouvir encantado a tua voz?E vendo em ti um Anjo, um sonho, ao pé de mim;
Aqui, por estes vales de alegria?Emquanto tu viveste,?E agora escuras, êrmas terras de elegia?Batidas do nordeste,?Eu ando á minha sombra redusido?E mais a tua Imagem.?E quem nos vê, de longe, diz entristecido:?Dois Espectros, além, vagueando na Paisagem...
A TUA IMAGEM
Os meus olhos abrigam como um templo,?Tua divina Imagem que os eleva?E os enche de purêsa e santidade;?S?o os meus olhos intimos, aqueles?Que entre as nuvens avistam, certas horas,?Azas de Anjos, relampagos de Deus,?E n?o meus pobres olhos materiaes?Na c?r, nos formas v?s crucificados.
E tu vives e falas nesse mundo,?Ao pé do qual meu corpo de tragedia?é sua antiga e vaga Nebulosa...
E em meu nocturno espirito reb?a?Aquela tua voz amanhecente?Que espalhava alegrias pelo ar.
E a tua voz divina, por encanto,?Se espêlha em minhas lagrimas que ficam?Todas, por dentro, acêsas num sorriso.
A lagrima vê tudo: a propria voz,?Pousando á sua t?rva superficie,?Nela desenha, em ondas, o seu Vulto.
Meu doloroso sêr com tua Imagem?Eterna comunica. A minha vida?Na tua morte assim se continua...?Embora exista entre elas a distancia?De sombras lampejantes, que separa?Nosso corpo mortal do nosso espirito.
E eu canto, e me deslumbro em minha d?r!?De subito, anoite?o, e me disperso,?E vejo-me Phantasma... e, a sós, divago?Pelos caminhos lúgubres da Morte...?E chego á porta em fl?r do teu sepulcro;?E uma alegria misteriosa vem?Doirar a sombra v? de que sou feito...
E esta alegria és tu... que me apareces!...?Minha segunda vida transcendente?Nasceu da tua Ausencia que lhe imprime?O drama eterno, a ac??o divina e triste.
Tua morte refez meu sêr: abriu-lhe?Novo sentido de alma; aquele olhar?Que no seio das lagrimas desperta,?E veste de infinito e de saudade?A t?sca rocha bruta que se torna?Espirito vivente no crepusculo:?Esphinge em cujos labios a tristêsa?Das cousas interroga a d?r humana.
E vós, ó brutas cousas reviveis?Perante o meu olhar que vos penetra?De seu liquido lume visionario.?Tornastes a viver. As vossas almas?Que a minha d?r primeira afugentou,?S?o presentes, de novo, em vosso corpo.?Ei-lo scismando, triste, á luz do luar,?Na projectada sombra que, a seus pés,?Desenha ignotas formas de silencio...?Ei-lo embebido em mistica ternura,?Tremulo de emo??o, reverdecendo,?Esculpindo, no ar, melancolias...
E a tua Imagem paira sobre mim...?Todo eu palpito em ondas de anciedade!?Abysmo de emo??o, em mim me perco!?E minh'alma exaltada e comovida,?D'este meu sêr trasborda e inunda tudo!?Arde no fogo virgem das estrelas,?Em cada humana lagrima scintila,?Chora nas nuvens, no êrmo vento geme!
E julgo haver, meu Deus, resuscitado?Da morte que soffri para nascer!
Sim: o meu ber?o é irm?o do teu sepulcro;?Teu cadaver baixou áquele abysmo?Donde subi outrora á luz da morte...?E lá tu me encontraste ainda em vida,?Na Aurora que precede o nascimento,?E parece doirar a nossa Infancia...
Sinto que estou comtigo em outro mundo.?Lá vivemos os dois em companhia,?Muito embora eu arraste sobre a terra,?Que teu cadaver, t?o mimoso! esconde,?Esta minha Presen?a de affli??o!
E beijo a tua Imagem, de joelhos...?E, em meu silencio, reso... E a tua Imagem?Agora é grave, séria, quasi triste,?Porque se fez sagrada além da Morte.
A NOSSA D?R
Emquanto chora a M?e desventurada,?Sobre o seu cora??o, de noite e dia,?Eu canto a minha d?r; e a d?r cantada?Como que intimamente se alumia...
Se me levanto cêdo e a madrugada?Já vem doirando os longes de harmonia,?Sinto que estás ainda despertada?E eu ou?o, em mim, cantar nova elegia.
Abre-te a d?r os olhos sem piedade,?Durante as longas noites de amargura...?Mas para mim a d?r é já
Continue reading on your phone by scaning this QR Code

 / 11
Tip: The current page has been bookmarked automatically. If you wish to continue reading later, just open the Dertz Homepage, and click on the 'continue reading' link at the bottom of the page.