outeiro.?Sua Imgem chimerica fluctua,?Deante de mim, no espa?o: é nevoeiro?Vestindo de emo??o a terra nua...
E como na minh'alma se insinua?Aquele etéreo Vulto... am?r primeiro!?Ou?o-o falar, lá fóra, á luz da lua.?Vejo-o brincar na sombra do terreiro.
Apenas vêm meus olhos, n'este mundo,?O seu perfil angelico, o seu fundo,?Misterioso, verde negro olhar...
Vejo uma estrela? é ele. Vejo um lirio??é ele. Tudo é ele. E o meu delirio?é ele: é o seu espírito a cantar!
DEPOIS DA VIDA
Quando meu cora??o parar desfeito?Em sombra, na profunda sepultura,?E o meu sêr, já phantastico e perfeito,?Vaguear entre o Infinito e a terra dura;
Quando eu sentir, emfim, todo o meu peito?A transformar-se em constelada Altura;?Eu, divino Phantasma, o claro Eleito,?O Enviado da Vida á Morte escura;
Quando eu f?r para mim minha esperan?a,?Meu proprio am?r jamais anoitecido,?E a minha sombra apenas f?r lembran?a;
Quando eu f?r um Espectro de Saudade,?Entre o luar e a nevoa amanhecido,?Serei comtigo, Am?r, na Eternidade.
O ENCONTRO COM O RETRATO
Receio o teu encontro, pobre M?e,?Com o retrato de teu Filho. Vaes?Contemplar suas formas materiaes,?O que pertence á morte e a mais ninguem...
Mas para que exaltar ainda mais?Aquela d?r que é só do mundo? Tem?Paciencia. N?o o vejas. Olha bem:?De que servem as lagrimas e os ais?...
Essa d?r n?o a ames, que é profana.?Sim: n?o adores nele a forma humana,?A ilusoria aparencia, o sonho v?o...
Pois é verdade, ó M?e, que tens presente?Seu imortal espírito inocente?Em ti mesma, em teu proprio cora??o!...
NA MINHA SOLEDADE
Aqui, por estes sitios onde nós?Vivêmos; tu brincando no jardim;?Eu a ouvir encantado a tua voz?E vendo em ti um Anjo, um sonho, ao pé de mim;
Aqui, por estes vales de alegria?Emquanto tu viveste,?E agora escuras, êrmas terras de elegia?Batidas do nordeste,?Eu ando á minha sombra redusido?E mais a tua Imagem.?E quem nos vê, de longe, diz entristecido:?Dois Espectros, além, vagueando na Paisagem...
A TUA IMAGEM
Os meus olhos abrigam como um templo,?Tua divina Imagem que os eleva?E os enche de purêsa e santidade;?S?o os meus olhos intimos, aqueles?Que entre as nuvens avistam, certas horas,?Azas de Anjos, relampagos de Deus,?E n?o meus pobres olhos materiaes?Na c?r, nos formas v?s crucificados.
E tu vives e falas nesse mundo,?Ao pé do qual meu corpo de tragedia?é sua antiga e vaga Nebulosa...
E em meu nocturno espirito reb?a?Aquela tua voz amanhecente?Que espalhava alegrias pelo ar.
E a tua voz divina, por encanto,?Se espêlha em minhas lagrimas que ficam?Todas, por dentro, acêsas num sorriso.
A lagrima vê tudo: a propria voz,?Pousando á sua t?rva superficie,?Nela desenha, em ondas, o seu Vulto.
Meu doloroso sêr com tua Imagem?Eterna comunica. A minha vida?Na tua morte assim se continua...?Embora exista entre elas a distancia?De sombras lampejantes, que separa?Nosso corpo mortal do nosso espirito.
E eu canto, e me deslumbro em minha d?r!?De subito, anoite?o, e me disperso,?E vejo-me Phantasma... e, a sós, divago?Pelos caminhos lúgubres da Morte...?E chego á porta em fl?r do teu sepulcro;?E uma alegria misteriosa vem?Doirar a sombra v? de que sou feito...
E esta alegria és tu... que me apareces!...?Minha segunda vida transcendente?Nasceu da tua Ausencia que lhe imprime?O drama eterno, a ac??o divina e triste.
Tua morte refez meu sêr: abriu-lhe?Novo sentido de alma; aquele olhar?Que no seio das lagrimas desperta,?E veste de infinito e de saudade?A t?sca rocha bruta que se torna?Espirito vivente no crepusculo:?Esphinge em cujos labios a tristêsa?Das cousas interroga a d?r humana.
E vós, ó brutas cousas reviveis?Perante o meu olhar que vos penetra?De seu liquido lume visionario.?Tornastes a viver. As vossas almas?Que a minha d?r primeira afugentou,?S?o presentes, de novo, em vosso corpo.?Ei-lo scismando, triste, á luz do luar,?Na projectada sombra que, a seus pés,?Desenha ignotas formas de silencio...?Ei-lo embebido em mistica ternura,?Tremulo de emo??o, reverdecendo,?Esculpindo, no ar, melancolias...
E a tua Imagem paira sobre mim...?Todo eu palpito em ondas de anciedade!?Abysmo de emo??o, em mim me perco!?E minh'alma exaltada e comovida,?D'este meu sêr trasborda e inunda tudo!?Arde no fogo virgem das estrelas,?Em cada humana lagrima scintila,?Chora nas nuvens, no êrmo vento geme!
E julgo haver, meu Deus, resuscitado?Da morte que soffri para nascer!
Sim: o meu ber?o é irm?o do teu sepulcro;?Teu cadaver baixou áquele abysmo?Donde subi outrora á luz da morte...?E lá tu me encontraste ainda em vida,?Na Aurora que precede o nascimento,?E parece doirar a nossa Infancia...
Sinto que estou comtigo em outro mundo.?Lá vivemos os dois em companhia,?Muito embora eu arraste sobre a terra,?Que teu cadaver, t?o mimoso! esconde,?Esta minha Presen?a de affli??o!
E beijo a tua Imagem, de joelhos...?E, em meu silencio, reso... E a tua Imagem?Agora é grave, séria, quasi triste,?Porque se fez sagrada além da Morte.
A NOSSA D?R
Emquanto chora a M?e desventurada,?Sobre o seu cora??o, de noite e dia,?Eu canto a minha d?r; e a d?r cantada?Como que intimamente se alumia...
Se me levanto cêdo e a madrugada?Já vem doirando os longes de harmonia,?Sinto que estás ainda despertada?E eu ou?o, em mim, cantar nova elegia.
Abre-te a d?r os olhos sem piedade,?Durante as longas noites de amargura...?Mas para mim a d?r é já
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