Elegias | Page 5

Teixeira de Pascoais
em seu liquido seio de esplendor,?Tua Imagem come?a a alvorecer,?Pois toma corpo e vida no meu sêr,?Quando a beija, sorrindo, a minha d?r...
ébria do teu espirito sagrado,?A radiosa lagrima estremece,?Emquanto a minha face empalidece?E o luar e a noite scismam ao meu lado...
E a comovida lagrima crepita...?Relampago de d?r... E nada vejo;?Pois nela está presente o meu desejo?E a minha vida fragil e infinita.
E a lagrima scintila, num adeus...?E, desprendida de meus olhos, ei-la?Já distante, no espa?o: é nova estrela?Subindo aos céus...
MEDITA??O
A nocturna lembran?a consumida?Da tua horrivel morte dolorosa,?Enev?a de lagrimas a vida...
E sinto a luz tornar-se duvidosa,?Tocando a minha fronte que lhe gasta?A seiva etérea, a fluida c?r vi?osa.
O meu olhar maldito logo afasta?O Sêr que ás suas lagrimas empece,?E o perfil animado lhe desgasta!
O meu olhar as cousas anoitece...?E elas choram na sombra e na incertêsa,?A minha propria d?r... E eis que aparece,
Deante de mim, o Espectro da Tristêsa...?E tudo transfigura... E eu fico a vêr,?Como através da Morte, a Naturêsa...
O ber?o é cova. Que é nascer? Morrer.?Quem abre ao sol os olhos, escravisa?A alma, a luz espiritual do sêr...
Um rio de emo??o, em mim, deslisa...?Para cantar se fez pequena fonte;?Seu canto é bruma pálida e indecisa.
E fito, de olhos tristes, o horisonte:?Nele me perco em nevoa: sou distancia...?Intima cruz a erguer-se em t?sco monte...
Vésper, sorriso de oiro, luz, fragancia?Da noite que amanhece, ao teu fulg?r,?Vejo Espectros que s?o da minha infancia...
Formas mortas que nem meu proprio Am?r?Anima,--ele que d'antes animava?A sombra, a pedra, as arvores em fl?r!
E como outrora tudo me encantava!?Como perdi no turbilh?o dos dias?O sab?r que nas cousas eu gostava!
Tristêsas s?o phantasmas de alegrias...?E entre Phantasmas vivo... ó meus am?res,?Folhas mortas, outomno, ventanias!...
Sombras da meia noite! M?e das D?res?Em teu altar sósinho, na capela?Do monte sem romeiros e sem fl?res!
ó Noite! Virgem triste! êrma Donzela!?Se eu f?ra sombra de alma adormecida,?Silencio de alma, solid?o de estrela?...
Mas n?o; eu vivo e penso n'esta Vida;?No Mal victorioso e na Bondade?Quasi sempre ultrajada e perseguida!
Vejo a Inocencia ás m?os da Crueldade?Morta, desbaratada, e vejo a aurora?Alumiando esta negra, ferrea edade!
Vejo um pequeno Anjinho que enamora?Meu comovido espírito encantado...?E divinos sorrisos ele chora,
E só de vê-lo, eu sinto-me sagrado!?E fica todo em fl?r meu cora??o,?Paraiso astral, Jardim de Deus, Sol nado!
E, súbito, lá vae: é sonho v?o!?E sobre mim, afflicta, a noite desce:?Maré cheia de treva e solid?o.
E o sangue em minhas veias arrefece...?á altura do meu r?sto, vejo o Mêdo?Que, nos êrmos crepusculos, me empece!
E como tudo é sombra, d?r, segrêdo!?De longe, aspectos de alma que nos falam;?De perto, brutas formas de rochedo!
Quantas intimas d?res nos abalam!?Porque n?o ha no mundo quem as ou?a,?As dolorosas vozes que se calam!
ó gente enamorada! ó gente m??a!?Que, de repente, ao tumulo baixaes,?Qual o vosso pecado? a culpa vossa?
ó Prociss?o das lagrimas, dos ais,?Deante de mim, passando eternamente?A caminho das sombras sepulcraes!
D?r sem fim, sem principio, d?r presente,?Martirisando as almas, e sobre elas?O sorriso de Deus indiferente!
O Deus que p?e na face das estrelas?Nodoas de sombra e enfeita com as fl?res?Da morte, as brancas Noivas e as Donzelas;
O Deus acêso em tragicos fur?res,?Que mata as creancinhas sem peccado?E parece viver das nossas d?res,
E fez do nosso ch?ro o mar salgado,?E fez da nossa angustia um êrmo outeiro,?E sobre ele Jesus crucificado;
O Deus que me tornou prisioneiro,?E que transforma tudo quanto eu amo?Em desfeita vis?o de nevoeiro;
Ah, esse Deus que, quando por Deus chamo,?é profundo silencio, indiferen?a,?A propria sombra morta que eu derramo...
Remoto Deus--Phantasma, sem presen?a,?Que em materia de d?r edificou?As arvores, o Sol, a noite imensa,
E em doloroso barro alevantou?Minha figura tragica e reprêsa,?Num impotente, empedernido v?o;
é o Deus do Abysmo, o Pae da Naturêsa,?Nocturno Deus da vida material,?Divindade da fúnebre Tristêsa;
O Deus creador das Trevas, contra o qual?Sósinho, se ergue em mim, mas sem temor,?O meu divino Sêr espiritual;
Meu Sêr heroico acêso em puro amor!?Sol comovido, ardente meio dia,?Trespassando de luz a noite e a d?r!
Meu Sêr, onde se muda em alegria?A corporea tristêsa; onde a Materia?Se faz alma perfeita de harmonia;
Meu Sêr que afirma o Bem, ante a miseria?Das transitorias cousas; que alevanta,?Contra a sombra do inferno, a Luz etérea!
Meu Sêr espiritual que, alegre, canta,?Se, por ventura, eu choro desolado,?E que os Phantasmas lúgubres espanta;
Meu Sêr creador do Espírito sagrado,?O Redemptor das lagrimas, dos ais;?Senhor dum novo Olimpo sublimado...
Novo Orféu nos Abysmos infernaes.
ESPERAN?A E TRISTêSA
Minha tristêsa é peor que a tua d?r.?Um dia, no teu ventre sentirás?Reencarnar para o mundo o teu amor:?A mesma alma, o mesmo olhar... verás!...
Eu sei que ha de voltar; e assim terás?A alegria primeira, ainda maior...?E ent?o, de novo, alegre ficarás;?Será primeiro o teu segundo am?r!
Mas eu que, antes do tempo, já declino,?Quem sabe se verei o teu Menino,?Numa edade em que possa compreender?
E partirei talvez sem lhe deixar,?Na memoria, esse interno e fundo olhar,?A comovida imagem do meu sêr...
SóSINHO
Tarde. Vagueio só por um
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