ao centro d'àfrica?
Talvez alguma viuva necessitada encontrasse na venda d'aquelle objecto, que pertencêra a um esp?so estremecido, algumas migalhas de p?o para matar a fome.
Perguntei a Munutumueno ?como tinha obtido aquella farda? e elle respondeu-me, que tinha sido presente de um sertanejo Biheno, havia ja muito tempo.
Indaguei, se n?o lhe havia encontrado nada nos bolsos, e elle respondeu-me, que n?o tinha bolsos. Uma farda de official sem bolsos, era impossivel.
Pedi-lhe para m'-a deixar examinar, e tendo elle desabotoado o peito, effectivamente vi que n?o tinha b?lso ali.
Roguei-lhe, que se voltasse, e comecei a explorar-lhe os bolsos das abas. Elle estava admirado, porque n?o sabia que tinha bolsos ali. Em um d'elles os meus dêdos encontráram um pequenino bilhête.
?Iria saber a quem tinha pertencido aquella farda?
?O que conteria aquelle papelinho dobrado que eu tinha diante dos olhos e n?o me atrevia a abrir?
Cheio de commo??o, desdobrei o papél, e vi n'elle algumas linhas escritas a lapis, que li àvidamente.
N?o pude conter uma gargalhada.
O papél dizia assim:--
"Se lhe n?o sou indifferente, rogo-lhe o obsequio de me indicar o modo de nos correspondermos."
Por baixo um nome e uma morada.
Sabia de quem f?ra a farda.
O nome era o de um dos meus amigos e antigo condiscìpulo, que h?je occupa uma distintissima posi??o n'uma das armas scientìficas do exêrcito Portuguez.
Um dia em pùblico commetti a indiscri??o de pronunciar o nome do signatario do bilhête, que eu possuo, e ainda que indiscreto fui, n?o creio ter de modo algum offendido aquelle nobre official e distincto cavalheiro.
Uma farda que o talento e a applica??o ao estudo fizéram trocar por outra, mais distincta; que, abandonada ou dada a algum criado, pêla instabilidade das cousas, foi parar ao centro de àfrica, creio é cousa que n?o desdoura ninguem. Em quanto ao bilhête de am?res, creio bem que ainda menos o deve vexar.
Infelizes d'aquelles que, aos desoito annos, n?o escrevêram bilhêtes assim, e mais infelizes os que depois dos trinta ja os n?o podem escrever.
"Aquillo, meu amigo, foi cousa que um papá, ou uma máma, sempre impertinentes em taes casos, te n?o deixou entregar, ao sahir do theatro ou de um baile, á tua Dulcinea d'aquella noute, ou que a tua timidez dos desoito annos fêz recolher ao b?lso. Imagino, meu amigo, que te deves ter rido, sabendo que aquelle bilhête esquècido, depois de atravessar os mares, atravessou aquelles inhòspitos paizes, e andou em companhia de um prêto no alto Zambeze. é verdade, que, para te consolares, sabes que esse prêto era filho de rei."
N'esta aventura, eu fui o ùnico t?lo, em ter tido pensamentos tristes, á vista do bilhête encontrado no b?lso da farda de um alferes de cavallaria, porque logo devia suppor, que tal bilhête só podia ser um bilhête d'am?res.
Um alferes de cavallaria, em Portugal, como em t?dos os paizes, é sempre um fogacho onde as marip?sas v[~e]m queimar as azas douradas.
Pensando na proposi??o que acabo de formular, deitei-me cheio de tristeza, lembrando-me que ja era major.
No dia immediato, recresceu a febre a ponto de eu n?o poder andar. Lobossi foi visitar-me, e levou com-sigo o seu mèdico de confian?a.
Era um velho, pequeno e magro, de barba e cabello branco.
Principiou elle por tirar do pesc??o um cord?o onde tinha enfiado oito metades de caro?os de uma fruta qualquér que eu n?o conhecia. Come?ou, com grande recolhimento, a pronunciar umas palavras màgicas, e atirou com os caro?os ao ch?o. D'estes, uns ficáram com a parte interna voltada para a terra, outros com a externa. Elle leu n'aquella disposi??o, concluindo da leitura, que os meus parentes mortos se tinham apossado de mim, e que era preciso dar-lhes alguma cousa para elles me deixarem. Eu aturei tudo com a maior paciencia, fingindo acreditar o que elle me dizia, e dei-lhe um pequeno presente de pòlvora.
N'aquelle dia o Gambela deu-me um presente de dez cargas de milho e massambala.
Estando concluido o meu acampamento, mudei para elle.
No dia 29 de Agosto, a febre cedeu um pouco ás fortes doses de quinino que tomei, e senti bastantes melhoras. O meu estado moral é que peiorava de instante a instante.
Tinha alguns momentos de desalento inexplicaveis. A minha energia cedia ante a fraqueza moral que se apossava de mim.
Estava s?b o pêso esmagador de um terrivel ataque de nostalgia.
O rei mostrava muitos cuidados pêlo meu estado, mas cada portador que vinha encarregado de saber da minha saude, era emissario de um pedido cada vez mais impertinente.
N'aquelle dia mandou elle os seus mùsicos tocarem e cantarem para me enterter, mas mandou em seguida pedir-me dois cartuxos de pòlvora por cada mùsico.
N'essa tarde ouvi grandes toques de tambores na cidade, e o rei mandou-me pedir, que mandasse dar alguns tiros na grande pra?a, desejo que eu satisfiz mandando doze homens dar f?go.
Sube depois que aquillo era uma convoca??o á guerra, e antes de falar nos motivos d'ella,
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