Como atravessei Àfrica | Page 6

Alexandre Alberto da Rocha de Serpa Pinto
direi em poucas palavras a historia do Lui, desde o ponto em que ficou narrada pêlo D^{or.} Livingstone, isto é, desde a morte de Chicrêto.
O imperio, poderosamente sustentado pêla m?o de ferro, sabia prudencia e fina polìtica de Chibitano, marcou-se com uma profunda pègada de decadencia no reinado de seu filho Chicrêto. David Livingstone, muito grato aos fav?res de Chicrêto, que lhe deu os meios de ir a Loanda e a Mo?ambique, é talves bastante suspeito nos elogios que dispensa a este rei; e mesmo na narrativa da viagem que ali fez depois com seu irm?o Carlos e o Doutor Kirk, n?o p?de deixar de narrar a desordem e profunda decadencia em que encontrou o imperio Macololo.
Das gentes vindas do sul com Chibitano, isto é Macololos, poucos existiam ja, tendo sido decimados pêlas febres do paiz, que nem os naturaes poupam. A embriaguez e o uso do bangue, de mistura com os desregramentos dos chefes, tinham feito perder t?da a autoridade aos invasores. M?rto Chicrêto, succedeu-lhe seu sobrinho Omborolo, que devia reinar durante a minoridade de Pepe, irm?o muito mais n?vo de Chicrêto, e filho ainda do Grande Chibitano.
Os Luinas conspiravam, e um dia Pepe foi assassinado. Omborolo n?o tardou a ter a mesma sorte, e tendo sido ordenada uma Saint Barthélemi por os Luinas, os restos d'esse forte exèrcito invasor foi assassinado, escapando apenas poucos, s?b o commando de Siroque, irm?o da m?e de Chicrêto, que fugio para Oeste, passando o Zambeze em Nariere.
Os Luinas, depois d'essa carnificina trai?oeira, acclamáram seu chefe Chipópa, homem de tino, que n?o deixou desmembrar o paiz, e procurou conservar o imperio, poderoso como em tempo de Chibitano.
Chipópa reinou muitos annos, mas as ambi??es apparecêram e, em 1876, um tal Gambela fel-o assassinar, e acclamar seu sobrinho Manuanino, crian?a de 17 annos.
O primeiro acto do poder de Manuanino foi mandar cortar a cabê?a a Gambela, que o tinha feito rei, e desprezando t?dos os parentes e amigos do pai que o eleváram ao poder, chamou para junto de si só os parentes maternos. Aquelles conspiráram, fizéram uma revolu??o, e tentáram assassinal-o, em Mar?o de 1878; mas Manuanino, tendo alguns fiéis, p?de escapar-se, e fugio para o Cuando, onde assaltou e devastou a povoa??o de Mutambanja.
Lobossi, acclamado rei, enviou contra elle um exèrcito, e Manuanino têve de retirar d'ali, e repassando o Zambeze em Quisséque, internou-se no paiz do Choculumbe, atravessou este paiz, e foi juntar-se a uns brancos, ca?adores de elephantes, que estavam na margem do Cafuqúe. Lobossi entendeu, que a sua seguran?a dependia da morte de Manuanino, e mandou contra elle um n?vo exèrcito. Foi do resultado d'aquella expedi??o que n'esse dia chegáram noticias.
Chegados perto do logar onde estava o ex-soberano com os brancos, que elles chamam Mozungos, intimáram estes a que lhes entregassem Manuanino para o matarem, e como houvesse recusa, elles os atacáram, mas, com tanta infelicidade, que f?ram completamente batidos pêlos brancos; escapando muito poucos, que n'essa tarde chegáram a Lialui a narrar o seu desastre.
Eis aqui o motivo porque os tambores tocavam convocando á guerra; e porque o rei Lobossi me pedio que mandasse dar tiros na grande pra?a da cidade.
Ja que falei na historia do Lui, n?o dêvo proseguir sem narrar um dos seus episodios mais interessantes, porque se refere a um typo verdadeiramente sympàthico.
é Siroque, aquelle Macololo, que, na occasi?o da Saint Barthélemi dos Macololos, conseguio escapar com um grupo de gente, passando o Zambeze.
Siroque, intrèpido e audaz, caminhou a oeste até encontrar o Cubango, onde se estabeleceu, vivendo da ca?a dos elephantes.
Depois subio o rio até ao Bihé, e fixou-se ali por muito tempo, chegando por vêzes a ir a Benguella em comitivas sertanejas. Um dia porem, tendo umas quest?es em que bateu os que o atacáram, retirou por prudencia para o interior; indo acampar no rio Cuando abaixo do Cuchibi, onde continuou a vida de ca?ador.
Siroque era intelligente e bravo, e de uma familia que tinha reinado, n?o podia deixar de ser ambici?so.
Sonhou com o restabelecimento da monarchia Macolola no Lui, e foi-se approximando d'ali pêlo Cuando.
Um pombeiro do Bihé, seu amigo e que lhe tinha fornecido pòlvora, denunciou-o, e Manuanino, ent?o acclamado de pouco, fel-o assassinar junto da povoa??o de Mutambanja, pêla mais cobarde trai??o.
T?dos os seus f?ram vìctimas, e a azagaia do assassino de Siroque abrio o tùmulo ao ùltimo dos Macololos.
Aquelle dia amanhecido t?o bonan?oso para o adolescente monarcha, que só via sorrir-lhe a vida, tornara-se de repente sombrio e carregado, envolvido em nuvens de tempestade.
As noticias más succedem-se, e corria o boato, de que Lo Bengula, o poderoso rei do Matebeli, projectava um ataque contra o Lui.
Andavam t?dos desorientados, t?dos emittiam alvitres, todos pensavam loucuras; só dois homens se conservavam serenos no meio d'aquelle p?vo semi-louco. Eram Machauana e Gambela--Gambela o ministro da Guerra, Machauana o General em chefe.[1]
Ordens acertadas e
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