contor??es do vento, �� chuva ennegrecidos,?Que vamos admirar na angustia dos poentes;?Grandes sallas feudaes com tellas de parentes,?O que fazeis de p��, como entre os nevoeiros,?Os antigos heroes e as sombras dos guerreiros?!
Uma grande tristeza enorme vos habita!?No entanto a alma antiga ainda em v��s palpita,?Evocando a emo??o das chronicas guerreiras;?E mau grado o destro?o, a herva, e as trepadeiras,?--Como um desejo bom nas almas devastadas--?Cresce, ao vento, uma flor no peito das sacadas!
A parasita hera avassalou os muros!?Aninha-se o bolor nos cantos mais escuros,?Tudo dorme na paz das cousas silenciosas;?E nos velhos jardins aonde n?o ha rosas,?--S�� resistindo ainda aos seculos injustos--?Uma Venus de pedra espera entre os arbustos!
Paira em tudo o silencio e o lugubre abandono?Das cousas que j�� est?o dormindo o grande somno,?Evocando ainda em n��s os velhos cavalleiros,?--E ��s lufadas do vento, os grandes reposteiros,?Entre as nossas vis?es das epocas sublimes,?Agitam-se ao luar vermelhos como crimes.
Mas no entanto o poeta entende aquellas dores,?E as mudas solid?es, os largos corred?res,?As boas castell?s as gothicas janellas,?Abertas toda a noute a olhar para as estrellas;?S�� elle sabe os ais e os gemidos das portas,?--E inveja ��s vezes ser o p�� das cousas mortas!
*CAIN*
Cain no mundo errante, desterrado,?Fugindo �� sua d?r cruenta e dura,?Morria sobre um valle, abandonado,?No sollo primitivo da Escriptura.--
O remorso--esse mal que n?o tem cura--?N?o abatia o peito allucinado?Do que nasceu no seio do Peccado?Que herdou depois a g��ra??o futura.
Do Ceu sem mendigar luz nem consollo?Conservava inda erguido e altivo o collo;--?Mas nessa hora fatal que a todos vem...
Cain velho rebelde,--e atheu primeiro--?Nosso pae, nosso irm?o, como um guerreiro.?Bradou, caindo--�� Terra! �� Minha M?e!
*A PRIMAVERA*
De Julio Forni
H?ode dizer-me--Insensatos!?Que tenha novos amores,?Que brilham j�� outros soes,?De novo se abrem as flores?E �� o tempo dos rouxinoes.
E dir?o inda depois:?Que a primavera come?a,?E andam aromas no ar,?Que nos sobem �� cabe?a,?Como um vinho singular.
E eu dir-lhes-hei: Que m'importa!?Faz frio, fechem-me a porta!?--Ella, o meu bem, meu abrigo,?Levou, desde que est�� morta,?A Primavera comsigo!
SEGUNDA PARTE
REALIDADES
*ACCUSA??O A CHRISTO*
(A Theophilo Braga)
Bradava um dia ao Christo, ao Redemptor,?Satan, can?ado d'insultar os astros:?--Eis-te pendido ahi qual velha flor,?Propheta escarnecido nos teus rastros!...
V�� como a Egreja vae! baixel sem mastros!?Navio roto em mares do Equador!?E os seus padres tem ouros e alabastros,?E folga, Messalina sem pudor!
Tem lan?ado teu corpo aos c?es e aos corvos!?Falsificado a Lei, cheia d'estorvos,?E fogueiras erguido, �� Christo! �� Cruz!...
Satan dizia mais... mas lenta e lenta,?Uma lagrima viu sanguinolenta?Escorregar na face de Jesus!
*DE NOUTE*
A Jo?o de Deus
Elle vinha da neve, dos trabalhos?Violentos, custosos, da enxada;?Cantando a meia voz pelos atalhos.
A mulher loura, infeliz, resignada,?Cosia junto �� luz. O rijo vento?Batia contra a porta mal fechada.
Ao p�� havia um Christo, um ramo bento,?E uma estampa da Virgem, colorida,?Cheia de magoa olhando o firmamento.
Uma banca de pinho, mal sustida,?Vacillante nos p��s, um candieiro;?Companheiros d'aquella negra vida.
O homem alto, pallido, trigueiro,?Entrou; tinha as fei??es queimadas, duras?Dos que andam com a enxada o dia inteiro.
A mulher abra?ou-o. As linhas puras?Do seu rosto contavam j�� tristezas?De grandes e secretas amarguras.
Tinha chorado muito as estreitezas?D'aquella vida assim! Talvez sonhado?Um dia, com palacios e riquezas!
Elle deitou-se a um canto; fatigado?D'erguer-se alta manh?, todos os dias,?Mal voavam as pombas no telhado.
L�� fora, nuvens grossas e sombrias?No pesado horisonte; elle assim esteve;?--As noites eram asperas e frias.--
Ella cobriu-o d'uma manta leve?Esburacada, velha;--no telhado?Ouvia-se cair, sonora, a neve.
Ella, ent?o, meditou no seu passado;?No seu primeiro beijo; nas lembran?as?Talvez, do seu vestido de noivado.
E nas tardes das eiras; e das dan?as?��s estrellas, e aquella vez primeira?Que a rosa lhe furtou das longas tran?as!
E aquella tarde junto da amoreira,?Que trocaram as m?os; e na janella;?E quando olhavam, juntos, a ribeira.
E quando era timida e singella...?..........................................?L�� f��ra, dava o vento nos caixilhos;?N?o brilhava no ceu nem uma estrella.
E, ��quella hora da noite, por que trilhos?Andariam no mundo--ella scismava--?Nas miserias, talvez, sem rumo, os filhos!
Elle na manta velha resonava.
*AQUELLE SABIO*
N'aquellas altas janellas?Que deitam para o telhado;?Eu vejo-o sempre encostado,?A namorar as estrellas.
Tem assim ares d'empyrico?Mui lido em philosoph��stros;?�� um pobre poeta lyrico,?Que escreve cartas aos astros.
Traz luto nos seus vestidos?Por uma Ophelia de menos,?Tem uns cabellos compridos,?E uns olhos tristes, serenos.
Parece um Jove proscripto,?E j�� descrente das Ledas,?Conhece o hebraico, o sanscrito?E os livros santos dos Vedas.
Espelha na luz do olhar?N?o sei que vis?es amenas;?Anda sempre a imaginar?Idylios ��s a?ucenas.
E aquella mulher vaidosa?--Que elle chama a sua Egeria--?Ri d'aquella alma anciosa,?E aquella triste miseria...
..........................................
..........................................
Mais de tres dias ou quatro?Que lhe falta o necessario;?Estava hontem no theatro?Com luvas c?r de canario.
*NA TABERNA*
A Jo?o de Deus
Vejo apontar o hynverno...?os crepitantes frios?Me a?outam as vidra?as...?(Francisco Manoel)
Alguns dormem nas mezas, debru?ados,?Junto aos restos de um vinho j�� bebido;?--Outros contam seus casos desgra?ados.--
Um d'elles alto, magro, mal vestido,?Conta historias d'amor, lan?ando fumo?D'um cachimbo de gesso ennegrecido.
Um tenta levantar um outro a prumo?Sobre os hombros, e um calvo, e j�� vermelho?Faz das suas miserias um resumo.
Depois conta que o pae ethico
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