tragico e venal,?Amando a Carne, o Crime e os assassinos,?E como a folha acerba d'um punhal,?--�� quem golpeia os seios femeninos!--
�� complicado, mystico, mortal,?Com sombrios escrupulos divinos,?E �� quem faz estorcer os bra?os finos,?E escorregar a lagrima final.
No entanto, grato e funebre Peccado!?Atrahente, gostoso e desejado,?Negro nome de vicio e perdi??o!...
A Egreja v�� em tudo as tuas chagas;?E ha muito tempo j�� que o mundo esmagas,?E te embriaga o sangue da Paix?o!
III
*A Cidade*
Em v?o busco na velha e hostil Cidade,?Beata amante, de gangrenas cheia,?As dispersas raizes da Verdade,?--Como uma flor n'um pateo de cadeia.
Quando, alta noute, D. _Juan_ passeia,?Ella p?e-lhe em leil?o a mocidade,?Tratada com a mystica anciedade?Com que um sabio cultiva a flor da Idea.
Mas, comtudo ninguem receia tanto?O aspero Deus, e o lenho sacrosanto?Da dorida tragedia do Calvario!
E, �� _D. Juan_, ��s luzes das estrellas,?Tu bem sabes se encontras nas viellas?Mais de uma vez, perdido algum rosario!...
IV
*O Inimigo*
�� genoux! Je suis Pan!?(Victor Hugo)
Ha muito que �� chamado o Aborrecido,?O rebelde, o leproso, o descontente,?E eterno tentador sempre vencido,?Que habita o Ar, a Terra, e o Fogo ardente.
Elle �� a hydra, a Carne, o incontinente,?O orgulho nos abysmos submergido,?O que anda sempre em _n��s_, o c?o batido,?O espirito da Duvida, a Serpente,
Mas, mau grado, �� Egreja, a tua ira,?Elle n?o �� nem Vicio, nem Mentira,?Nem synonimo de Mal e de Impureza!...
E eu bem sei, negro symbolo apupado,?Velho satyro, vil, calumniado,?Diabo! que te chamas ?Natureza!?
V
*Em toda a parte*
_Elles_ tem dito e escripto que o Peccado?Anda disperso e roe o mundo inteiro,?Que habita o duro cora??o guerreiro,?E o peito femenino e delicado.
Que anda no ar, em n��s, da flor no cheiro,?Das pugnas no ruido desolado,?No vinho, na paz doce do mosteiro,?--No corpo da mulher perfeito e amado!--
�� portanto, homem timido e sujeito,?Quer te encostes, ou n?o, ao v?o Direito,?O teu funebre gozo e teu tormento!
Habitua-te a tel-o na Desgra?a,?No ar, no ch?o, na flor, no som que passa,?--E at��, serpente vil, no Pensamento!
VI
*�� Janella*
Altas horas da noute, quando a rua?�� deserta da onda crapulosa,?No seu caminho em meio, vagarosa,?--Abro a minha janella a ver a lua.
Como uma branca divindade nua?Ella avan?a celeste, e, �� luz ditosa,?Qual copo de cristal que enche uma rosa,?O goivo do Peccado em luz fluctua.
Fluctua, e �� nestas horas recolhidas?Que me ergo ent?o ��s cupulas subidas?D'onde se avista o mystico ideal...
E rio, e admiro o vulgo obsecado?Que cuida ver, nas beiras d'um telhado,?Abrir-se n'um _craveiro_ a flor do Mal!
VII
*Ella*
Quando _ella_ emfim morrer, ver?o os vivos?Cortando o ar uns ais de sentimento,?Como os lugubres c��ros dos captivos?N'um triumpho, ou n'um grande sa��mento.
Ouvir-se-h?o solu?os pelo vento,?Elogios, ais fundos, fugitivos,?Que dir?o:--?L�� se v?o meus lenitivos!?Morreu a Espada, a Lei, Guia e Sustento!?
O seu tumulo ter�� goivos e rosas,?E v?s estatuas lividas, chorosas,?E epitaphios em lugubre latim.
Ter�� palmas mais verdes que a Esperan?a;?--Mas a alma, em cima, escrever��:--Descan?a!?Serpente, irm? de Judas e Cain!
*SONETO D'UM POETA MORTO*
Achado nos seus papeis
Bem sei que hei de morrer cedo e cansado,?Alguma cousa triste em mim o diz,?E vagarei no mundo desterrado,?Como Dante chorando a Beatriz.
Pelos reinos, irei talvez curvado,?Como um proscripto princepe infeliz,?Ou como o indio pallido e exilado?Chorando o vivo azul do seu payz.
Mas no entanto, ah! ninguem ao Sol divino?Abrasou mais as azas, derretidas?Ante as duras, ferozes multid?es!
E ninguem teve a torre d'ouro fino,?Aonde, quaes princezas perseguidas,?Morreram minhas doudas illus?es!
*A UMA JUDIA*
(SAUDA??O)
Av�� Regina!?(Hymno Catolico)
Podem apagar o Sol e as estrelas, bastam-me os olhos da minha amada!?(Idyllio persa)
Le second soleil! Le second soleil.?(Phan taisies scientifiques de Sam)
�� filha d'Israel, �� vestal impolluta!?--Serena como a c?r diaphana do azul--?O rebelde da Luz venc��ra Deus na lucta?Se armara contra os ceus teus cabellos do Sul.
Filha de Cham e Loth, tu ��s o ideal vivo!?(�� ouro, incenso e myrra, �� licor nunca visto!)?Quando nos queima a luz do teu olhar esquivo,?Teus olhos ferem mais do que os cravos do Christo!
S?o dous cravos de luz, dous limpidos espelhos,?--A luminosa cruz onde me ensanguentei!--?N'elles soletro claro os grandes Evangelhos,?E n'elles leio mais que nas taboas da Lei!
Quando passas por mim, toda a minha alma anceia!?E os meus olhares v?o cobrindo-te de beijos,?--E tu passas--archanjo em corpo de Phrynea,?E biblia encadernada em lubricos desejos.
Ah! teus olhos crueis, limpidos, negros, baixos,?Se um dia o sol morrendo, enoutecesse os ceus,?Ser-me-hiam, mulher! como dois grandes fachos,?�� luz dos quaes iria a ver se achava Deus!
*A VISITA*
Hontem dormia �� noute--e, eis que desperto?Sacudido d'um vento agudo e forte,?Como um homem tocado pela Morte,?Ou varrido d'um vento do deserto.
Accordei--era Deus, que de mim perto,?Me dizia: Alma sceptica e sem norte!?�� preciso que creias e te importe?Adorar o Deus Uno, Eterno, e Certo!
�� preciso que a f�� cres?a em tua alma?Como no inutil saibro a verde palma,?Verme! filho da Duvida--Eis-me aqui!
Eu sou a Espada o Antigo, o Omnipotente!?Cr�� barro vil!--Mas eu, descortezmente,?Voltei-me do outro lado e adormeci.
*PALACIOS ANTIGOS*
A Anthero do Quental.
Bons castellos leaes nas rochas construidos,?��s
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